Da cozinha à garagem, a crise econômica tem afetado todos os cômodos na casa dos brasileiros. É o que mostra o quarto resultado negativo do comércio varejista que teve queda de 0,8% em outubro, segundo IBGE. Os supermercados, que pesam muito no índice do varejo, venderam 8,5% a menos do que o mesmo mês de 2015. Móveis e eletroeletrônicos enfeitam as lojas porque na sala de muita gente, tudo igual. Neste setor o recuo em relação a outubro do ano passado foi de 13,3%. A crise não deixou escaparem a vaidade e os cuidados pessoais e fez cair em 6,1% a venda de produtos da perfumaria e farmacêuticos.
As várias pesquisas feitas por muitos institutos têm mostrado que o comportamento dos consumidores reflete duas realidades perversas da recessão num país com crédito caríssimo: alto endividamento e medo do desemprego. O primeiro consome a renda com voracidade felina – se a maior parte das dívidas é com cartão de crédito e ele cobra juros de quase 500% ao ano…o que sobra na carteira?
O segundo consome a serenidade emocional exigida em tempos bicudos. Mesmo para quem ainda mantém o emprego, ou perdeu o posto mas encontrou alguma fonte de renda informal, a ameaça de ficar sem nada, ronda. A piora dos dados da atividade econômica no terceiro trimestre do ano provocou um recuo na confiança dos consumidores, claro, não poderia ser diferente. Para voltar a acreditar na melhora, o ambiente político vai ter que ajudar muito.
O governo ensaia novo pacote de medidas com a promessa de ajudar o país a sair da crise. Uma das alternativas que estão sendo discutidas é a liberação do FGTS para que as pessoas quitem dívidas. Do ponto de vista financeiro faz todo sentido: a pessoa que tem dinheiro no fundo recebe 3% de rendimento ao ano e paga 480% ao cartão de crédito. Do ponto de vista operacional é mais complexo e pode ser um obstáculo à implementação.
Não valendo milagre ou mágica, é praticamente impossível que o governo tire da cartola um coelho que alivie as famílias brasileiras no curto prazo. O mesmo vale para as medidas que estão sendo pensadas para ajudar empresas endividadas. O que o novo pacote pode oferecer é algum direcionamento, alguma alternativa para que consumidores e empresários consigam seguir em frente.
Não precisando ir de carro, quem sabe. No posto de gasolina, a saída de combustíveis foi 9,9% menor entre outubro deste ano e de 2015, segundo IBGE. Sem falar no preço da gasolina que não caiu quando a Petrobras reduziu o valor para as distribuidoras – mas subiu rapidamente quando a estatal anunciou reajuste para cima nos combustíveis.
Com carro na garagem, a despensa mais vazia, o armário do banheiro sem o perfume preferido, a frustração com a recuperação da economia e os juros do cartão de crédito batendo à porta, os consumidores têm pouco ânimo para sair de casa e gastar. Há chances do Natal alentar os comerciantes desde que ninguém conte com ajuda do Papai Noel.