“Não é porque temos uma crise no Brasil que é momento de exportar”. Diretor de internacionalização da Associação Brasileira de Franchising (ABF), André Friedheim é cauteloso ao falar sobre a busca de praças fora do país por franquias brasileiras. Ele também é diretor da consultoria de franquias Francap e tem 25 anos de experiência na área. Em entrevista ao jornal A TARDE, Friedheim ressaltou que o custo da internacionalização é alto e o processo deve ser feito de maneira estratégica. Ainda segundo o diretor da ABF, os segmentos de alimentação, serviços e moda são os que têm o melhor perfil para expandir para fora do país. Na conversa, ele também falou sobre o projeto que trouxe potenciais investidores estrangeiros para a ABF Expo, feira do setor de franquias que reuniu 400 marcas em São Paulo na semana passada. Esse é o maior número de redes em uma mesma feira no mundo.
Como o Brasil está no mercado de franquias internacional?
Temos cerca de 140 redes brasileiras no exterior das três mil que temos no país. Dessas, 37 delas estão nos Estados Unidos, 25 no mercado paraguaio e 20 no mercado português. Nesse processo de internacionalização, a ABF tem o apoio da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Em missões internacionais, a gente visita feiras de franquias, e fazemos rodadas de matchmaking, onde a gente conversa com potenciais compradores de franquias, advogados e consultores que podem assessorar marcas brasileiras a exportar seus conceitos.
Neste ano, vocês trouxeram pela primeira vez grupos de investidores estrangeiros para a ABF Expo. Como foi esse projeto?
Nós trouxemos para a feira grupos de empresários que compram master franquias para seus países. Temos grupos da Arábia Saudita, Paraguai, Japão e Costa Rica. É a primeira vez que trazemos para a feira pessoas interessadas em comprar marcas brasileiras, diferente de quando vamos aos outros países mostrá-las. Quisemos fazer um projeto pequeno neste ano, mas pretendemos aumentá-lo em 2017.
Por que escolheram grupos desses países? Foi um pedido das franquias associadas à ABF?
Quando a gente faz uma pesquisa com as franquias, elas sempre se demonstram interessadas em começar a internacionalização pela América Latina, por isso buscamos empresários dessa região. Mas fomos atrás de grupos master franqueados de vários locais. Alguns aceitaram o convite; outros não puderam vir.
Quais segmentos têm mais potencial para expandir para outros países?
Lá fora, já temos muitas franquias de alimentação. E também de serviços e moda. Em serviços, temos desde a rede Emagrecentro, de estética, até a Wizard, rede de idiomas que está no Japão. Também temos redes de aluguel de carros, como Localiza, que, pelo próprio negócio, precisa estar fora do Brasil, para quem aluga carros aqui e vai para países fronteriços. Na moda, temos Chilli Beans e Morana Acessórios com presença forte no exterior. Esses três segmentos tendem a crescer mais fora do país nos próximos anos.
Quais os desafios das redes que querem se internacionalizar?
Elas têm que fazer planejamento. Não acho que exportação esteja ligada à oportunidade. Não é porque temos uma crise no Brasil que é momento de exportar. É necessário planejar a exportação, que custa muito. Claro que crises como essa podem adiantar o processo, mas a franquia não pode ser oportunista. É necessário fazer pesquisa de mercado, entender os hábitos de consumo da população local e identificar quais tipos de adaptação serão necessários. Depois disso, é preciso internacionalizar o produto e a proposta de valor. A rede de alimentação Giraffas, por exemplo, mudou quando foi para os Estados Unidos. Saiu de um fast-food para um fast casual (tendência na América do Norte, que propõe unir agilidade no atendimento e alta qualidade da comida). Ele se adaptou aos padrões americanos. Depois dessa adaptação, é achar o parceiro correto.
Entre as estratégias para a internacionalização, a abertura de loja-modelo no país é o melhor caminho?
É o ideal. Não se pode debitar a terceiros o risco do negócio. Então, a rede vai ao país, monta, ajusta, opera e depois busca parceiros. A marca vai para outro país com 70% do caminho andado, mas ainda requer adaptações. A Pizza Hut, por exemplo, teve que adotar a pizza de catupiry para entrar no Brasil. Eles viram que não tem jeito: brasileiro gosta de catupiry.
Como está a entrada de franquias estrangeiras no Brasil desde que a crise começou a se acentuar?
Tem a instabilidade, mas o fato de que operar no Brasil está mais barato, pela desvalorização cambial, faz com que o investidor use a diferença do que gastaria se o dólar não tivesse disparado como capital de giro. Ou seja, se ele ia gastar seis meses para maturar (começar a lucrar na operação no Brasil), vai gastar um ano. Mas, como vai gastar menos para entrar no país, ele consegue segurar a operação por mais tempo sem problemas. Entre as que entraram no Brasil já na crise, temos a Fleming’s (Prime Steakhouse & Wine Bar, rede de restaurantes), que o Grupo Outback trouxe este ano, a Ben & Jerry’s (marca de sorvetes que entrou em 2014) e a Johnny Rockets (rede de restaurantes que chegou em 2013).