A alta do dólar atraiu uma clientela para o varejo interno. Em 2015, este segmento faturou R$ 2,25 bilhões. A projeção para 2017 é chegar a R$ 4,5 bilhões
O baixo fluxo de visitantes, e o reajuste dos aluguéis, aliados à queda nas vendas estão levando muitas redes instaladas em shopping centers a olhar para os outlets não mais como uma opção secundária, mas como um canal representativo e com ótimo retorno em um cenário macroeconômico pessimista.
Na contramão do comércio de rua e de shoppings, o faturamento das lojas outlets, que trabalham com mercadorias com desconto, chegou a R$ 2,25 bilhões em 2015.
Na comparação entre janeiro e setembro de 2015, em relação ao mesmo período do ano anterior, o crescimento foi de 20%, de acordo com a About (Associação Brasileira de Outlets). Descontada a inflação do período (7,64%), o crescimento foi de 11,48%.
Um estudo de evolução do mercado de outlets, realizado pela About, mostra que nesses estabelecimentos, o custo total de ocupação que inclui aluguel, condomínio e fundo de promoção não ultrapassa os 10% do faturamento das lojas. Em shopping centers tradicionais, pode ultrapassar 30%.
Operam atualmente no mercado brasileiro dez shoppings de outlets. O levantamento projeta que serão 16 até o próximo ano com aproximadamente 120 redes de lojas e mais de 1.378 lojas.
As próximas cidades com inaugurações previstas para este ano, serão Atibaia, a 64 quilômetros da capital, e Lorena, a 190 quilômetros de São Paulo.
A estimativa é que as vendas em todos os empreendimentos somem R$ 4,5 bilhões, em 2017, gerando uma receita anual com alugueis de R$ 180 Milhões para os grupos empreendedores.
CRISE
“Para todo mundo é ruim, para nós apenas não é bom”. É assim que Lucas Gomes, 30 anos, diretor de vendas do outlet Liquitudo, define o período de crise. Com mais de oito mil itens com descontos que oscilam de 20% a 75%, o outlet abriu as portas há um ano e meio, com sede nas proximidades da rodovia Castelo Branco.
Atraídos por eletroeletrônicos, os clientes da Liquitudo encontram produtos de ponta de estoque, ou que foram devolvidos pelos consumidores até sete dias após a compra. Muitos deles por arrependimento, e em bom estado de uso, de acordo com Gomes.
Celulares que custam R$700, fritadeiras elétricas a R$ 100, panelas de arroz a R$ 9,90, e sofás por R$ 300 são artigos que fazem sucesso, mesmo sem a embalagem original, ou carregador.
“Por isso, não somos tão atingidos. Com a queda no varejo, as lojas ficam mais dispostas a negociar o seu estoque.”
A estratégia dá certo. O outlet faturou R$ 15 milhões em 2015, e espera dobrar o número este ano, atingindo a marca de R$ 30 milhões.
ALTA DO DÓLAR
Se há dois anos, a preocupação eram as compras nos Estados Unidos, hoje os lojistas dos outlets nacionais têm muito a comemorar.
Comparando os resultados do último trimestre de 2015 com o mesmo período do ano anterior, o Catarina Fashion Outlet, na rodovia Castelo Branco, em São Roque, registrou um crescimento superior a 20%.
“Sem dúvida, a escalada do dólar contribuiu para que reagíssemos bem ao longo do ano”, afirma Jorge Pauli Niubó, superintendente do Catarina.
Além disso, Niubó acredita que o mix de lojas do Catarina com marcas nacionais e internacionais contribuíram para um formato outlet único no Brasil.
Michael Kors, Carolina Herrera, Burberry, Kate Spade, Rimowa, e Tory Burch são alguns exemplos de grifes que não são encontradas em outros outlets. Os nomes nacionais de luxo com loja outlet, exclusivamente, no Catarina são Cris Barros, Mixed, Daslu e Tigresse.
O bom desempenho já nos primeiros meses da operação levou a JHSF, incorporadora do Catarina, a antecipar o cronograma original de expansão. Em outubro do ano passado, 16 novas lojas foram inauguradas, tornando o empreendimento o maior do Brasil em área bruta locável.
Para Niubó, o ano de 2015 marcou uma gradual mudança de hábito do consumidor brasileiro. “Ele passou a ter produtos e marcas anteriormente encontrados apenas no exterior, a preços convidativos, na moeda local e com facilidades adicionais, como o parcelamento de pagamento”, diz.