05/10/2015 às 05h00
Por Daniela Rocha | Para o Valor, de São Paulo
O Brasil conta com um universo de 7,3 milhões de mulheres
empreendedoras, crescimento de 18% em dez anos. Com isso, a participação feminina passou de 29,4%, em 2002 para 31,3% ao fim de 2012, segundo estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras utilizou como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pela metodologia, considera-se empreendedoras as mulheres que atuam por conta própria e as empregadoras envolvendo empresas que possuem Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e as informais. Mais de 95% das empresas no país são de micro e pequeno porte, portanto, a maioria dos empreendedoras conduz micro e pequenos negócios.
De acordo com Enio Pinto, gerente de atendimento individual do Sebrae Nacional, no empreendedorismo a predominância ainda é masculina, entretanto, ao se fazer o recorte para negócios iniciantes, entre três a cinco anos de operação, se vê um certo equilíbrio. “Em 2014, os homens representavam 51% e as mulheres, 49%, nos empreendimentos iniciantes.”
Segundo ele, diversos dados estatísticos explicam os fatores que levam as mulheres a se lançarem aos negócios próprios. Conforme o último censo do IBGE, 38,7% as mulheres são chefes de família. Em mais de 42% destes lares, as mulheres vivem com os filhos, sem marido ou companheiro, aponta a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM). “Simpatizo ainda com a questão antropológica, comportamental. As mulheres têm afinidade com pequenos empreendimentos, porque são protagonistas na gestão doméstica. Elas são multifuncionais e têm habilidade em administração de conflitos, motivação e liderança”, diz Enio Pinto.
A curiosidade intelectual é outra característica. “Elas pesquisam e se preparam, assim, tomam decisões de maneira mais consistente”, diz. Nos últimos anos, houve ainda uma evolução educacional. Levantamento do Sebrae aponta que a participação das mulheres é maior na faixa de empreendedores com alta escolaridade, com uma proporção que chega a 41% e cai para 37% e 23%, respectivamente na média e na baixa escolaridade.
Para Ana Lúcia Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, uma multiplataforma de troca de informações e apoio, um dos principais “gatilhos” é a necessidade de as mulheres conciliarem a maternidade com a vida profissional. “Mulheres com filhos pequenos querem um ambiente amigável, mais flexibilidade de horário. Isso não significa trabalhar menos, mas garantia de liberdade.” Mas não é só questão de família, porque há mulheres que não se identificam com o ambiente corporativo
O Ministério da Saúde aponta que cada vez mais as brasileiras estão esperando chegar até os 30 anos ou mais para ter o primeiro filho. O percentual de mães nessa faixa etária passou de 22,5% em 2000 para 30,2% em 2012. Quanto maior a escolaridade, maior a idade das mães de “primeira viagem”. Entre aquelas com alto grau de escolaridade (12 anos ou mais de estudos), o nascimento do primeiro filho acontece frequentemente após a mãe completar 30 anos ou mais (45,1%).
Lênia Luz, fundadora e CEO do Blog Empreendedorismo Rosa, destaca que diante da crise econômica, muitas mulheres desempregadas partem para o empreendedorismo como alternativa, por necessidade. No entanto, nos últimos anos, prevaleceu a mobilização por oportunidade e vocação. Outro movimento identificado é o aumento da presença feminina no franchising, segmento que prossegue em expansão no país. “A participação das mulheres cresceu principalmente nos negócios iniciantes”, diz Lênia. Hoje, 49% das unidades próprias ou franqueadas são comandadas por mulheres, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Valor Econômico – SP