28/09/2015 às 05h00
Por Luciana Seabra | De São Paulo
Chegam ao mercado nesta semana os primeiros fundos simples, apostas dos gestores de recursos para concorrer com outros produtos de investimento com adesão e tributação menos complexa, como poupança, letras de crédito e Certificados de Depósito Bancário (CDB).
A carteira, que é liberada de várias exigências sob a condição de investir 95% do patrimônio em títulos públicos e papéis privados de risco equivalente ao soberano, será criada pela Instrução nº 555, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que entra em vigor nesta quinta-feira.
O plano da CVM, revelado no edital de audiência pública, é promover o primeiro acesso da classe média emergente ao mercado de capitais por meio de um fundo “simples, seguro e de baixo custo”.
Um levantamento preliminar da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra 54 carteiras curto prazo, DI e renda fixa que foram classificadas pelos gestores como fundos simples, o que passa a valer a partir de quinta-feira. A associação ainda vai confirmar se o perfil das carteiras está de acordo com a classificação.
Os grandes bancos de varejo ainda trabalham na criação do fundos simples.
Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander informaram ao Valor que pretendem criar carteiras do tipo a partir desta semana.
Os bancos ainda fazem mistério sobre as taxas, que dizem estar em definição.
Ainda não se sabe, portanto, se os fundos simples vão ter baixo custo, como previa a CVM. Os valores citados, ainda em estudo, estão entre 0,7% e 2%, para aplicação mínima baixa, a partir de R$ 50. O último relatório da Anbima, referente a julho, mostrava taxa de administração média de 3,08% para tíquete inferior a R$ 1 mil.
A expectativa de taxa reduzida tem fundamento na baixa complexidade para seleção dos papéis, mas principalmente na comunicação. O regulamento desses fundos deve prever que todos os documentos e informações sejam disponibilizados preferencialmente por meio eletrônico.
“Hoje se você quiser lançar um fundo com tíquete mais baixo é preciso ter uma taxa muito alta para pagar o custo de emissão de extrato via Correios”, diz Alexandre Mathias, responsável pelo desenvolvimento de produtos na gestora do Bradesco. O fundo simples é, segundo ele, um passo no sentido de viabilizar economicamente produtos com aplicação mínima baixa e que, por isso, tendem a atrair grande volume de cotistas.
O plano do Bradesco é lançar uma família de fundos simples, que pode ser em parte formada por carteiras já existentes. Os custos ainda não estão definidos, mas Mathias cita 0,7% e 1% entre as taxas de administração possíveis.
Já o Banco do Brasil e a Caixa apostam na criação em outubro de um fundo simples principal, que deve ser um carro-chefe, em vez de uma família. Os dois, entretanto, afirmam que a taxa ainda não foi definida. O Santander também informou por meio da assessoria que vai oferecer o fundo simples, mas que ainda não definiu a taxa.
A diretora executiva de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal, Alenir Romanello, diz que tem feito simulações e estudos com taxa de 1%. O presidente da BB DTVM, Carlos Takahashi, fala em algo no intervalo entre 1% e 2%. Nesse caso, a aplicação mínima já está definida, em R$ 50.
Também está nos planos da Caixa converter um fundo DI em simples. Isso somente não foi feito ainda, segundo Alenir, porque seria preciso convocar uma assembleia extraordinária, que acarretaria custos para a carteira. Já nesta sexta-feira, os cotistas vão ser questionados sobre o interesse na conversão na assembleia ordinária.
Apesar de ter 12 fundos cujas carteiras têm renda fixa de baixo risco e, por isso, poderiam ser facilmente adaptadas, Alenir diz que prefere ser mais comedida na oferta. A justificativa para criar uma família inteira de fundos simples, diz, seria ter taxas menores para aplicações mínimas maiores. A ideia da casa, entretanto, é privilegiar na oferta uma única carteira com tíquete baixo. “Eu não gostaria de confundir a cabeça do investidor ao mesmo tempo em que digo que estou simplificando”, diz.
Um diferencial do fundo simples, com o qual os bancos contam para massificar a oferta, é a dispensa do processo de “suitability”, ou seja, de verificação do perfil de risco do investidor, assim como da assinatura do termo de adesão, que vale para todos os outros fundos. “Qualquer outro produto não precisa hoje da metade do que é exigido para fundos de investimento. O que buscamos com o simples é a aplicação sem burocracia”, diz Alenir.
Investir em um fundo simples ficou tão prático quanto aplicar na poupança, diz Takahashi. No texto que foi à audiência pública, a proposta da CVM era que a distribuição fosse feita somente por meio eletrônico, mas na instrução que entra em vigor esta semana ficou aberta a possibilidade de oferta nas agências. Ainda assim, a ideia da BB DTVM é ampliar via meios eletrônicos.
“O produto já vem pronto para ser oferecido pela internet, mobile, telefone, só não vai dar para fazer por telepatia”, brinca Takahashi, que é vice-presidente da Anbima.
Os fundos simples não vão canibalizar a demanda por outras carteiras de renda fixa, na opinião de Takahashi. Quem quiser crédito mais sofisticado, com potencial adicional de retorno, por exemplo, não vai encontrar nesse produto. Além disso, ainda que a CVM não tenha restringido o tipo de título público que pode figurar nas carteiras, papéis prefixados e indexados à inflação não devem ser presença comum, por conta da volatilidade, segundo Takahashi.
Pelas novas regras, operações com derivativos no fundo simples são permitidas desde que exclusivamente para fins de proteção da carteira. Estão vedadas a cobrança de taxa de performance e a realização de investimento no exterior.
Bom lembrar que como o plano dos bancos, em geral, é de criar novos fundos, em vez de converter os já existentes em simples, o investidor vai ter que se mexer se quiser acessar as carteiras de taxa de administração baixa.
Valor Econômico – SP