25/09/2015 20:00
// Por: Moacir Drska
O empreendedor chinês Jack Ma, fundador do site Alibaba, ficou conhecido como o crocodilo do rio Yangtsé. O epíteto deve-se a uma famosa frase, dita às vésperas da chegada do eBay à China. O eBay pode ser um tubarão no oceano, mas eu sou um crocodilo do rio Yangtsé, afirmou em 2003. Esse estilo arrojado, provocador e inconfundível do baixinho de pouco mais de 1,5 metro foi um dos responsáveis por transformar o Alibaba em um gigante do comércio eletrônico. Em setembro de 2014, o site protagonizou o maior IPO da história do mercado de capitais mundial, ao captar US$ 25 bilhões na Bolsa de Nova York.
Nas pegadas de uma história digna de um conto de fadas, Ma, um ex-professor de inglês que ganhava US$ 12 por mês, se transformou em um dos ícones mundiais da internet. Passado um ano, no entanto, o crocodilo, ao que tudo indica, virou um sapo. Ao menos para boa parte dos investidores e acionistas. A quebra do encantamento de Wall Street pelo Alibaba nesses 12 meses está expressa em alguns indicadores. Após atingir um pico de cotação de US$ 120, em novembro do ano passado, as ações caíram vertiginosamente e operam pela metade daquele valor, abaixo do preço da abertura de capital de US$ 68.
A companhia, que chegou a atingir um valor de mercado superior ao de empresas como o Walmart e a Amazon, no período, vem assistindo a uma derrocada nessa cifra. No auge, em novembro, o Alibaba valia US$ 231 bilhões. Desde então, despencou US$ 71 bilhões para os atuais US$ 160 bilhões. A queda da empresa foi dolorosa, mas era prevista, diz Rob Enderle, analista-chefe da consultoria americana de tecnologia Enderle, que comparou o caso às dificuldades vividas por empresas como o Facebook e o Twitter, pós-abertura de capital.
As avaliações dos papéis são exageradas e essas companhias atingem um valor expressivo de mercado muito cedo, afirma Enderle. À parte das expectativas criadas, a queda nos números do Alibaba encontra explicação em um conjunto de fatores. Um dos principais pontos é a desaceleração da economia chinesa, que coloca em xeque o futuro dos negócios da empresa. O mercado doméstico responde por mais de 85% das receitas do grupo. Há, ainda, um agravante. A rival chinesa JD.com vem registrando índices de crescimento expressivos no comércio eletrônico do país.
O Alibaba já acusou o golpe e no trimestre encerrado em junho, reportou o menor crescimento de receita em mais de três anos, de 28%, para US$ 3,2 bilhões. Outra questão que prejudicou a imagem do Alibaba foram as acusações de que a empresa facilita a venda de produtos falsificados em seus marketplaces. No início do ano, a Administração Pública de Indústria e Comércio da China alertou em relatório que a companhia vivia uma crise de credibilidade por não tomar medidas para reprimir essas ações.
O contexto ganhou contornos ainda mais críticos quando a Kering, dona de marcas de luxo como Gucci, processou o Alibaba em Nova York. A despeito desse cenário, os analistas ouvidos pela DINHEIRO enxergam boas perspectivas para que o Alibaba volte a ser uma das meninas dos olhos do mercado de capitais. O papel de Jack Ma é crucial nessa recuperação. Ele é o motor da empresa, para o bem e para o mal, diz Enderle, para quem o Alibaba tem potencial de superar a valorização de empresas como o Google. Para Tim Barrett, analista de varejo da consultoria britânica Euromonitor International, o Alibaba ainda detém uma fatia confortável no mercado chinês.
Eles vão ficar bem, mas terão de enfrentar a tempestade no curto prazo, afirma Barrett. Ele destaca que um dos atalhos para superar a crise passa pelo maior foco na expansão internacional, especialmente em países em desenvolvimento, como Brasil e Rússia. Eles têm tido algum sucesso nesses mercados onde o e-commerce ainda é bastante recente e nos quais a Amazon ainda não tem grande impacto. Segundo a Euromonitor, a participação do Alibaba no mercado global de sites de venda aos consumidores saltou de 1,1%, em 2010, para 8,6%, no ano passado.
Revista IstoÉ Dinheiro – SP