20/08/2015 às 05h00
Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo
O movimento não tem uma década, mas vem ganhando força no mercado brasileiro como já acontece nos Estados Unidos e na Europa. Em 2012, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), eram 41 grupos, que respondiam por várias marcas de franquia sob seu guarda-chuva. Três anos depois, já são 51, que representam em torno de 150 bandeiras das 2.942 em atividade no país. E a tendência daqui para frente é que esse número cresça ainda mais, sobretudo com a instabilidade econômica. “Marcas pouco estruturadas têm cada vez menos espaço no setor”, diz André Friedheim, sócio da Francap e diretor da ABF.
“Muitas não desaparecem, mas são incorporadas por grandes redes e pelos grupos”.
Na média, cada franqueador soma 42 unidades franqueadas, sendo que 70% das redes brasileiras têm menos de 50 operações. A maioria é formada por redes consistentes que, sozinhas, não vão muito além desse volume, tornando-se uma boa oportunidade para holdings do setor. São muitas as vantagens de se agregar várias marcas sob o mesmo guarda-chuva, afirmam os consultores. Juntas, as marcas ganham escala, poder de negociação e conseguem ampliar o mercado onde atuam, ocupando espaços antes da concorrência. Com um portfólio diferenciado, é possível atingir públicos diferentes e operar em cidades em que a marca mãe, pelo tamanho ou perfil, não conseguiria ou não valeria a pena entrar.
“Para as pequenas redes que estão sendo absorvidas, o ganho maior está na estrutura e exposição, já que em grupo há mais investimento em marketing e o franqueado tem acesso a um suporte mais robusto e profissional”, afirma Filomena Garcia, sócia do Grupo Cherto. “Na outra ponta, a holding consegue aumentar a rentabilidade e margens. Mas, a maior vantagem está na baixa dos custos operacionais, - já que se adota um único departamento para todas as marcas, exceção feita à área de marketing, que precisa ser personalizada - e melhor poder de negociação com fornecedores e donos de pontos”.
“Se um grupo soma mais redes no portfólio, aumenta as chances de crescer, porque dá menos espaço para os franqueados que já fazem parte da rede migrarem seus investimentos para outras bandeiras”, afirma Jae Ho Lee, CEO do Grupo Ornatus, que tem sob seu guardachuva as marcas Morana, Balonè, Jin Wok, Jin Jin Sushi, Little Tokyo e My Sandwich. “Estamos olhando redes menores dentro do segmento de alimentos, pois o momento é interessante para quem está capitalizado”. Com o objetivo de fechar o ano com 500 unidades, o Grupo Ornatus deve faturar em 2015 cerca de R$ 370 milhões, 10% a mais do que faturou no ano passado.
O radar de Lee, porém, não está voltado apenas para o mercado. O Grupo Ornatus está olhando para dentro de casa e alinhando a operação para diminuir os custos e ganhar produtividade. Com um olho no gato e outro no peixe, como diz o franqueador, a ordem é acompanhar de perto os indicadores e antecipar os problemas. Outra mudança diz respeito à seleção de franqueados. Antes, admitia-se apenas um dono ou, no máximo, mais um sócio investidor. “O mercado mudou, os franqueados se profissionalizaram e hoje há grupos que somam unidades de várias bandeiras, agregando capital e competências”.
É o caso de Alex Piton que, com quatro sócios, está à frente de cinco unidades franqueadas, entre elas, Jin Jin e Amor aos Pedaços. “Há quatro anos temos a filosofia de dividir riscos e verbas para crescer de forma organizada e diversificada”, diz. “Em 2015 pretendemos abrir uma unidade da Morana e outra da My Sandwich, ambas no aeroporto de Guarulhos”.
Quem também está de olho nos indicadores é Antonio Leite, presidente do Grupo Trigo, que comanda as marcas Dominus, Spoleto, Koni e Go Koni. As redes contam com indicadores de processos internos registrados online, que permite ao franqueado e ao consultor de campo saberem onde estão os gargalos; uma plataforma de treinamento também online e uma avaliação para saber entre os franqueados quais querem e têm perfil para ser multiunidade, somando entre cinco e 10 lojas.
“Hoje, estes franqueados já correspondem a 26% do total da holding”, diz Leite. “Há vantagens para ambos os lados. Para o franqueado que ganha uma operação mais robusta e se torna uma empresa maior e, para a franqueadora, que conta com uma gestão mais eficiente e com resultados por lojas normalmente melhores”.
Líder em cursos de idiomas e profissionalizantes no Brasil, com as marcas Wizard, Yázigi, Skill, Quatrum, Microlins, SOS e People, o Grupo Pearson Brasil registrou um primeiro semestre bastante positivo, com crescimento de 60% na abertura de novas unidades em relação ao mesmo período de 2014.
Para o presidente Giovanni Giovanelli, a resposta para esta performance está na diversidade de marcas do portfólio e no fato de a educação ser um dos setores menos afetados diretamente pela má fase da economia. “Trabalhamos muito na melhoria da gestão, oferecemos um bom volume de produtos e serviços, além de contar com programas de ajuda e incentivo ao franqueado na hora de montar a franquia”, afirma o executivo. “Temos 200 pessoas no Brasil cuidando das áreas de inovação, tecnologia e produtos, além de investir muito em marketing”.
Valor Econômico – SP