26/03/2015 às 05h00 Por Sérgio Lamucci | De Washington A amizade de Warren Buffett por Jorge Paulo Lemann deu impulso à parceria entre o investidor americano e os brasileiros da 3G Capital, enquanto os resultados obtidos pela Heinz nos últimos dois anos consolidaram o relacionamento. A Heinz alcançou as melhores margens do setor depois que a 3G assumiu sua operação. Buffett e Lemann se conhecem desde 1998, quando participavam de reuniões do conselho da Gillette. O americano tornouse amigo de Lemann e, familiarizado com as opiniões do brasileiro e o modo de fazer negócios da 3G, não hesitou em aceitar o convite para que a Berkshire Hathaway participasse da aquisição da Heinz, em fevereiro de 2013. “Eu soube imediatamente que essa parceria funcionaria bem tanto do ponto de vista pessoal como financeiro. E isso definitivamente ocorreu”, escreveu Buffett, em sua mais recente carta anual aos acionistas da Berkshire, divulgada no fim do mês passado. O analista Greggory Warren, da consultoria Morningstar, diz que Buffett confia em Lemann, e “tem todos os motivos para isso”. Pelas suas estimativas, a 3G e a Berkshire estão contabilizando um aumento de quase três vezes o investimento inicial realizado na Heinz por meio da fusão com a Kraft, classificada por ele como um “backdoor IPO” um termo usado quando uma empresa de capital fechado (a Heinz) adquire uma companhia negociada em bolsa, caso da Kraft. Warren diz que surgiram na imprensa algumas reclamações sobre medidas adotadas pela 3G na Heinz, como o fechamento de fábricas e o corte de empregos, mas os resultados têm sido muito positivos (ver Agora ‘império’ da 3G Capital vale US$ 260 bi). Segundo Warren, há quem diga que a parceria com o 3G contrasta com as práticas da Berkshire de comprar grandes empresas e deixar o trabalho a cargo da administração da companhia adquirida. “Mas eu argumentaria que Buffett está comprando a equipe de administração do 3G, permitindo que eles façam o que sabem fazer melhor”. Na carta aos acionistas da Berkshire, Buffett deixou clara sua satisfação. “Eu não fico embaraçado em admitir que a Heinz é muito mais bem administrada pelo presidente do conselho, Alex Behring, e pelo CEO, Bernardo Hees, do que se eu estivesse no comando.” Para o analista Brian Yorbrough, da corretora Edward Jones, Buffett gosta do que vê na gestão das companhias administradas pela 3G. Buffett já indicava que esperava fazer novas parcerias com o 3G. “Algumas vezes a participação vai envolver apenas um papel financeiro, como no caso da recente aquisição da Tim Hortons [rede de cafeterias do Canadá] pelo Burger King. O nosso arranjo preferido, no entanto, será ter uma ligação como parceiro permanente no capital, que, em alguns casos, também contribui para financiar o negócio”, escreveu Buffett. E concluiu: “Qualquer que seja a estrutura, nós nos sentimos bem quando trabalhamos com Jorge Paulo.”
Valor Econômico – SP