09/02/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | De São Paulo
A tentativa dos sócios da Brazcarnes de recuperar a Brasil Foodservice Group (BFG), controladora da rede de restaurantes Porcão, consome recursos do bolso dos acionistas, já que o negócio ainda não gera caixa, e fornecedores cobram dívidas na Justiça. São 40 processos em andamento no Rio de Janeiro, a maioria, de pagamentos em aberto, apurou o Valor. O comando tem buscado soluções para capitalizar a empresa. As atuais renegociações podem levar membros da família Mocellin, ex-controladora do negócio, a voltar à empresa como sócia minoritária, afirma o novo comando. Conversas que existem hoje envolvem a transformação de uma dívida de R$ 35 milhões, pelo cálculo dos Mocellin (R$ 25 milhões, na visão da Brazcarnes) em participação acionária na BFG, evitando com isso o desembolso. Quando vendeu o Porcão, em 2011, para os fundo de investimento que controlavam a BFG, a posição da família na rede era avaliada pelo mercado em R$ 45 milhões. Mas a soma total não foi paga. “A questão está sendo tratada [transformar dívida em ações], e calculamos que isso não levaria a uma diluição tão grande dos sócios atuais porque é um valor pequeno”, diz Lucas Zanchetta, sócio da Brazcarnes e presidente da BFG, em entrevista em 29 de janeiro, antes de se reunir com Neodi Mocellin na sede da rede, em São Paulo. A BFG é um negócio com diversos acionistas. Além dos seis sócios da Brazcarnes, são 36 fundos de investimentos na BFG, que em dezembro, mudou o nome para Brazal. A BFG é controladora da Brasil Foodservice Manager (BFM), dona do Porcão. BFG também controla a Vênus Capital e Participações, que detém dois frigoríficos adquiridos por R$ 56 milhões em 2012. Eles foram comprados da massa falida da International Food Company. Completa a lista de ativos a Companhia Termoelétrica do Espirito Santo, ainda fora de operação. Desde o ano passado, após acordo entre as empresas que levou à fusão de Brazcarnes e BFG, a primeira passou a ter o controle do negócio com 51% das ações e os fundos, os 49% restantes, diz Zancheta. A participação referese ao aporte e valor dos ativos da Brazcarnes dentro da BFG, que anunciou a fusão em setembro de 2014. São dez restaurantes três Porcão Gourmet, cinco Porcão Rodízio, dois Vento Haragano , e duas unidades da Garcia & Rodrigues. Parte das lojas ainda não começou as reformas já anunciadas, como a unidade da Barra e do Flamengo, no Rio, segundo uma fonte ouvida. O plano é, com mais recursos entrando, tentar reformálas até metade de 2016. Fornecedores de insumos também foram trocados nos últimos meses, na gestão da Brazcarnes, para reduzir valores de contratos e ajudar a gerar alguma redução de despesa para a operação em 2015. Além da renegociação com os Mocellin, ainda há outra conversa em andamento com o frigorífico Marfrig, dentro do projeto de tentar sanear a companhia. A ideia é receber em dinheiro o aluguel de duas fábricas arrendadas em novembro de 2013 para a Marfrig (em Nova Xavantina (MT) e Itupeva (SP). É que, desde meados de 2014, a empresa recebe o valor em carnes para as churrascaria. “Queremos monetizar esse contrato”. A Marfrig não comenta. A entrada de capital novo é crucial. Os sócios da Brazcarnes dizem que já colocaram no negócio, desde que entraram na empresa, em setembro, cerca de R$ 40 milhões. Este seria dinheiro do bolso dos acionistas. Em 2013, a Brazcarnes, segundo balanço publicado, faturava R$ 23 milhões e dava prejuízo de R$ 5,6 milhões. Para 2015, eles calculam que precisariam de R$ 50 milhões para investir na BFG, e boa parte desse dinheiro virá do contrato com a Marfrig. Essa soma prevista inclui as reformas de restaurantes, gastos numa fábrica adquirida em 2014, que produz hambúrgueres e almôndegas, e pagamento de dívida trabalhista e com fornecedor. Nesse bolo, existiriam, por exemplo, débitos com a agência de propaganda Africa, apurou o Valor. A empresa anunciou no ano passado um contrato com a Africa para ações publicitárias, que durou algumas semanas. “Não dá para fazer campanha com os restaurantes da forma como estão. Então falei para o Nizan [Guanaes, sócio do Grupo ABC, dono da Africa] que nossa parceria continua, mas vamos fazer algo mais para frente, após as reformas”, diz Zanchetta. A Brazcarnes decidiu entrar na BFG com o plano de entrar na administração e, posteriormente, se tornar sócio controlador. Quando as conversas entre as partes começaram, em 2014, aportes já haviam sido feitos na empresa, por meio de debêntures de investidores. Foram cerca de R$ 500 milhões entre 2011 e 2013, segundo cálculo de um acionista minoritário. Os debenturistas acabaram aceitando converter os papéis em ações. Com parte dos recursos, os antigos controladores criaram uma marca nova, a Porcão Gourmet, com abertura de 10 pontos (sete já fechados) entre 2012 e 2013, e também adquiriram os dois frigoríficos arrendados e a Companhia Termoelétrica do Espirito Santo, que hoje está desligada. A termoelétrica pode até ser vendida. Com tantos projetos, e alguns fracassos, recursos escassearam, os investimentos não trouxeram retorno e a empresa acabou alavancada. A partir daí que a Brazcarnes entrou no negócio. Relatório de resultados de 2013, publicado com atraso na semana passada (a BFG é listada em bolsa), mostra pouco mais de R$ 470 milhões em dívidas, prejuízo de R$ 400 milhões e receita de R$ 137,5 milhões. “Os números já melhoraram em relação a 2013 e não traduzem a realidade atual. As debêntures foram convertidas em ações e a dívida deve cair. As operações deficitárias, como Porcão Gourmet, foram fechadas [sobraram 3], e as despesas diminuíram”, diz Zanchetta. “Estamos começando um trabalho de recuperação e dentro de algum tempo os resultados aparecerão”.
Valor Econômico – SP