09/12/2014 às 05h00
Por Andrew Roberts e Mary Romano | Bloomberg
Patricia Barbizet, da Christie’s International, nomeada executiva-chefe da companhia na semana passada depois da saída inesperada de Steven Murphy, vai analisar opções estratégicas para a maior casa de leilões do mundo que podem incluir sua reestruturação, de acordo com fontes a par dos planos da empresa.
O bilionário francês François Pinault trouxe Barbizet, de 59 anos, uma assessora de longa data, para avaliar as estratégias futuras da empresa cujo capital ele fechou por US$ 1,2 bilhão em 1998, segundo uma das fontes, que não quis ter o nome identificado por que o assunto ainda é privado. Pinault não pretende vender a Christie’s, segundo uma porta-voz de seu conglomerado.
Murphy, 60, foi informado da mudança administrativa em reunião com Pinault no fim de novembro, de acordo com uma das fontes. A Christie’s e o executivo haviam comunicado em 2 de dezembro que sua saída havia sido por decisão mútua.
A indicação de Barbizet chega em uma conjuntura delicada para a maioria das casas de leilão mais célebres, depois do executivo-chefe da rival Sotheby’s ter renunciado em novembro, na esteira da pressão do acionista ativista Daniel Loeb por cortes de custos e por estratégias para elevar o valor para os acionistas.
As duas empresas estão sob pressão para conquistar melhores condições de vendas, depois da comercialização recorde de US$ 2,3 bilhões em apenas duas semanas em Nova York durante novembro. As casas de leilão oferecem garantias de preço aos vendedores, que podem afetar o lucro quando esses valores não são alcançados.
“Há tantas tentativas para conquistar essa parte do mercado de bens ultraexcepcionais, de alto padrão, que é difícil ganhar algum dinheiro”, disse Michael Plummer, cofundador da Artvest e ex-diretor operacional da Christie’s Financial Services, um fundo de investimentos em arte cujos planos a Christie’s abandonou há cinco anos. “Nos últimos 20 ou 30 anos, a tendência tende a ser de queda nas margens com comissões à medida que as vendas forem subindo.”
Pinault, de 78 anos, fez fortuna no setor de madeiras antes de expandir-se para o mercado de varejo e de bens de luxo. É um dos maiores colecionadores de arte do mundo, dono de trabalhos de artistas como Jeff Koons e Mark Rothko e compara a paixão por arte a uma religião. Seu filho, François-Henri Pinault, 52, comanda a controladora da Gucci [ Kering ].
A Christie’s não quis comentar nada além do comunicado de 2 de dezembro no qual anunciou a renúncia de Murphy após quatro anos. O executivo não estava à disposição para comentar o assunto. Ele não respondeu a mensagens telefônicas nem a um e-mail pedindo comentários na sexta-feira.
Durante o comando de Murphy, a “Christie’s assumiu uma posição realmente de liderança, com as vendas e lucros nos patamares mais altos já vistos”, disse Barbizet no comunicado.
“Tendo concluído seu principal trabalho, a empresa está posicionada para sua próxima fase de desenvolvimento e estou ansiosa para liderar a equipe mundial em um novo capítulo de inovação”, acrescentou Barbizet. A executiva não estava disponível de imediato para mais comentários. Ela pode revelar detalhes de sua estratégia nas próximas semanas, depois de reunir-se com seu pessoal, de acordo com uma das fontes. A Christie’s divulga suas vendas em janeiro.
“Os lucros estão altos e a situação está muito saudável aqui”, disse Murphy, em entrevista em 2 de dezembro. “Ajudei a equipe a montar uma nova estrutura e Patricia vai levar isso para o próximo capítulo.”
William Ruprecht, executivo-chefe da Sotheby’s desde 2000, disse em 20 de novembro que renunciaria, seis meses depois de a casa de leilões nova-iorquina ter encerrado uma amarga disputa com o bilionário Loeb. A Sotheby’s, que em maio deu a Loeb, fundador do fundo hedge Third Point, e a dois de seus candidatos assentos no conselho de diretores, afirmou que a decisão foi de mútuo acordo.
A luta para atrair colecionadores ricos “cobrou sua conta de ambas as casas e de suas equipes administrativas seniores”, disse Plummer, da Artvest. “Em última análise, é um dos motivos pelos quais Ruprecht está fora. Poderia ser um dos motivos pelos quais Murphy está fora.”
Barbizet trabalha para Pinault desde 1989 e foi executivo-chefe da Artemis por mais de 20 anos. Ela também é integrante dos conselhos da Total, segunda maior petrolífera da Europa, e da montadora francesa PSA Peugeot Citroën.
As vendas de arte e peças de coleção na Christie’s atingiram recorde nos primeiros seis meses do ano, em meio aos aumentos de compras de obras contemporâneas e da demanda de novos clientes. Diferentemente da Sotheby’s, de capital aberto, a Christie’s divulga as vendas duas vezes por ano.
Este pode ser o momento para que se cogite vender a Christie’s, segundo Sergey Skaterschikov, fundador da Skate’s Art Market Research, em Nova York. “Não apenas vem batendo recordes, mas também ganhou muita participação de mercado da Sotheby’s. E embora as margens de lucro estejam em declínio, eles podem conseguir uma boa avaliação.”
Murphy era considerado um forasteiro no mundo das artes, por ter exercido cargos no mundo editorial e musical. Ele ajudou a casa de leilões a entrar em novos mercados na Ásia e desenvolveu as vendas on-line.
“Meu entendimento era de que ele era próximo a Pinault”, disse Tim Hunter, que trabalhou na Christie’s por 16 anos e agora é vice-presidente de financiamento de arte na Falcon Fine Art, em Londres. “É de se perguntar o que aconteceu. A relação não devia estar funcionando.”
Valor Econômico – SP