16/10/2014
Por Eduardo Laguna | De São Paulo
O presidente da Volkswagen no país, Thomas Schmall, defendeu ontem estímulos à renovação da frota brasileira de carros e voltou a cobrar mudanças de legislação trabalhista para dar maior flexibilidade às empresas na administração do excesso de mão de obra em momentos de crise, como o enfrentado hoje pelas montadoras.
Em apresentação no congresso organizado pela “Autodata”, Schmall avaliou que o mercado sofre neste ano com a quebra da confiança dos consumidores. Contudo, para ele, os fundamentos econômicos seguem sólidos.
Por isso, a direção da Volks aposta num consumo próximo de 5 milhões de veículos até 2018, tendo também em vista o baixo índice de motorização da população brasileira. “Os fundamentos da economia não mudaram […]. O que mudou foi a incerteza”, disse Schmall.
Neste ano, os emplacamentos de veículos no Brasil – entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus – mostram queda ao redor de 9%. As vendas de carros da Volks caem mais do que isso – quase 15% -, mas a montadora tem conseguido defender a segunda colocação entre as marcas mais vendidas.
Ontem, Schmall defendeu o lançamento de um programa de estímulos à renovação das frotas de automóveis, cuja idade média, diz ele, é mais avançada em relação a outros mercados. O executivo não deu, porém, detalhes sobre quais seriam os incentivos necessários para tirar carros antigos das ruas.
Junto com outras entidades do setor de transporte rodoviário de carga, a Anfavea, associação das montadoras instaladas no país, já entregou ao governo federal a proposta visando a um programa nacional de renovação de frotas. O programa, contudo, começaria com a substituição de caminhões com mais de 30 anos de rodagem, estendendo-se a veículos leves apenas em etapas posteriores. Recentemente, Luiz Moan, presidente da Anfavea, disse que o governo poderia aprovar o programa ainda neste ano.
Além de estimular o mercado, Schmall ressaltou que estender esses estímulos a carros melhoraria a segurança no trânsito – ao tirar das ruas automóveis sem airbags e freios ABS (dispositivos que agora são obrigatórios) -, assim como teria um beneficio ambiental, à medida que os veículos mais poluentes fossem retirados de circulação.
Durante o evento, o presidente da Volks voltou a defender a flexibilização no sistema de proteção ao emprego, com prolongamento dos prazos de afastamento dos trabalhadores das fábricas em momentos de baixa demanda.
Hoje, o “layoff”, instrumento previsto na legislação trabalhista, permite suspender os contratos de trabalho por, no máximo, cinco meses. “Precisamos de mais tempo”, disse Schmall.
A defesa da indústria, apoiada por alguns sindicatos de metalúrgicos, é por um esquema mais próximo do modelo alemão, no qual empresas podem adequar jornadas de trabalho por até dois anos. A conta das horas não trabalhadas, nesse modelo, é dividida entre a empresa, os operários – com a redução de salários – e o governo.
Nesta semana, na falta de reação do mercado, a Volks colocou um novo grupo de trabalhadores em “layoff” na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Mais de 400 operários tiveram contratos de trabalho suspensos, em substituição a outra turma de 400 metalúrgicos que voltou ao trabalho neste mês, após termino do “layoff”.
A Volkswagen tem hoje cerca de 1,3 mil trabalhadores em “layoff”, o que inclui quase 800 operários afastados no parque industrial de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e outros 150 da fábrica no Paraná. Esses dois grupos têm retorno previsto nas próximas duas semanas, mas a situação está sendo negociada pela empresa com os sindicatos.
Segundo Schmall, a Volks ainda não fechou a programação das tradicionais férias coletivas de dezembro. “Até a segunda semana de novembro, dá tempo para definir isso”, disse o executivo em entrevista a jornalistas. A montadora emprega 22 mil pessoas no Brasil.
Valor Econômico – SP