Mudança é atribuída a cenário macro “desafiador” e aumento das taxas de juros
Por Adriana Mattos
A Via (dona de Casas Bahia e Ponto) está alterando o fluxo de pagamentos aos lojistas de seu “marketplace”, a plataforma de venda de produtos de terceiros, que pode levar a um uso menor de caixa para essas operações. A partir de 8 de julho, a empresa vai parar de antecipar recursos a parte desses lojistas, que passarão a receber dentro do fluxo normal de prazos definidos na venda ao cliente, como antecipou na sexta-feira o Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor.
Ao mesmo tempo, a Via está repassando mais rapidamente o pagamento aos lojistas que usam seu “fulfillment” (serviços logísticos). O volume que deixa de ser antecipado no curto prazo pode ser mais relevante do que aquele a ser liberado às lojas do “fulfillment”, que está em sua fase inicial na Via.
No caso do fluxo de pagamentos, na maioria dos marketplaces hoje o lojista pode escolher receber em período anterior aos prazos das compras parceladas ou dentro do fluxo normal. E para isso há cobrança de taxas sobre a operação. Após o dia 8, se a compra for feita em 10 vezes, o repasse dos recursos também será em 10 vezes.
A medida da Via envolve lojistas maiores, apurou o Valor, que normalmente têm acesso a linhas mais competitivas no mercado. A Via suspende a antecipação após ter elevado taxas de comissão no “marketplace” no fim de 2021.
A mudança foi feita, diz uma fonte que teve acesso à nota da Via enviada a lojistas, por causa do cenário “desafiador” e do aumento dos juros. O encarecimento do capital aumenta a necessidade do varejo focar na gestão do fluxo de caixa. Ao fim de março, o saldo de caixa da Via era de R$ 5,2 bilhões. Em dezembro, R$ 6,7 bilhões. O consumo de caixa de janeiro a março foi de R$ 663 milhões, recuo de 47% sobre um ano antes.
“O mercado todo está se ajustando por causa da Selic, a Via teve coragem de fazer antes”, diz uma fonte. “É uma forma também de acertar o peso dos custos entre o grande e o pequeno ‘seller’”.
No caso do “fulfillment”, aos lojistas que usam o serviço, o pagamento da venda feita passará de 21 dias após expedir o pedido para quatro dias. Essa atividade atinge uma minoria de lojistas.
A partir de 15 de julho, o Magazine Luiza vai alterar a taxa de comissão dos lojistas de seu “marketplace” no modelo de antecipação do valor da venda. Na mensagem a eles, cita “muitas oscilações” na economia e que são necessários ajustes para se manter competitivo, apurou o Valor.
A taxa passa de 16% para 18% para o recebimento à vista para a maioria das categorias como eletrônicos e beleza, por exemplo (em moda e acessórios não muda). O recebimento dos recursos a prazo continua com taxa em 12,8%.
A elevação pode aumentar a receita com serviços e eventualmente as margens, caso isso não afete o volume de operações.
Via, Magazine, Americanas e Mercado Livre têm, desde dezembro, ajustado condições aos lojistas para diluir a alta nos custos financeiros. Procuradas, as empresas confirmam as mudanças.
Fonte: Valor Econômico