Com a economia em recessão, inflação em alta e oferta restrita de crédito, as vendas do comércio varejista do país tiveram queda de 4,3% no ano passado, segundo dados divulgados nesta terça-feira (16) pelo IBGE.
Trata-se do pior desempenho desde 2001, início da série da pesquisa do IBGE. O último ano em que o varejo teve queda nas vendas foi 2003 (-3,7%), afetado pelas incertezas do mercado com um primeiro governo PT.
Isoladamente em dezembro, as vendas do varejo recuaram 2,7% em relação a novembro, apesar do Natal. Foi o pior desempenho para o mês da série histórica.
O dado veio acima do centro de apostas de economistas ouvidos pela agência internacional Bloomberg, que viam recuo de 2,5% na comparação mensal e de 7,1% em relação ao mesmo mês de 2014.
A atividade que mais pesou no resultado do varejo em 2015 foi a de móveis e eletrodomésticos, com queda de 14%, a maior desde 2001. O setor é mais dependente do crédito e da confiança das famílias.
A vida não foi fácil, contudo, para nenhum segmento do varejo. Das oito atividades pesquisadas pelo IBGE, sete tiveram queda no ano passado.
O varejo sofre com a queda do consumo das famílias, efeito do desemprego, queda da renda e falta de confiança na economia. O crédito farto é coisa do passado. Um quadro ruim para quem depende da demanda interna.
OUTROS SETORES
O setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo teve queda de 2,5% em 2015, a segunda maior contribuição para o fechamento do ano.
O desempenho chama a atenção porque os supermercados comercializam produtos considerados de primeira necessidade. O ramo costuma ser, portanto, mais resistente em tempos de crise.
Também fecharam o ano em queda as atividades de tecidos, vestuário e calçados (-8,7%), combustíveis e lubrificantes (-6,3%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-10,9%).
O único setor que apresentou crescimento foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com avanço de 3%.
O resultado interrompeu um ciclo de uma década de crescimento do varejo. O setor aproveitou como poucos o ganho de renda no país na última década. Foram 11 anos de alta nas vendas, a uma taxa de 7% ao ano.
Diante de uma mudança tão brusca, o jeito foi repensar os negócios. Foram 95.400 lojas fechadas pelo país em 2015, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio). O número desconta as lojas abertas.
“Isso mostra que os varejistas não mantiveram seus investimentos, incluindo as grandes redes de varejo. Fechar uma loja é a total falta de perspectiva de uma recuperação”, disse o economista Fábio Bentes, da CNC.