As “mini M&As”, ou pequenas aquisições entre redes regionais, ajudam a sustentar esse movimento
Por Adriana Mattos
A reocupação de pontos de venda, após a crise que levou milhares de lojistas a fechar as portas, vem reduzindo o saldo negativo entre aberturas e encerramentos de lojas, e pode levar o país a um pequeno superávit neste índice no ano.
A necessidade de retomar pelo menos parte dos investimentos, após a paralisação de aberturas em 2020, a existência de pontos a preços mais atraentes e “mini M&As” – pequenas aquisições entre redes regionais – ajudam a sustentar esse movimento.
Se o comércio conseguir virar o jogo, o desafio será voltar a atingir números positivos mais fortes, após anos com superávits magros.
O setor encerrou 2020 com um saldo negativo de 75 mil lojas, o pior desempenho desde 2016. “Consideramos possível um pequeno número positivo em 2021, com isso podendo ganhar tração após 2022, a depender muito do cenário de retomada econômica em ano eleitoral”, diz Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“Mas mesmo que se consiga atingir algo na faixa de 30 mil lojas [de saldo de aberturas], isso ainda não compensaria a perda de 2020. Ou seja, dependeríamos dos números de 2022 ou 2023.”
Na última década, os piores anos foram 2015 e 2016, período de recessão, quando o saldo ficou negativo em mais de 200 mil lojas. Entre 2017 e 2019, a média foi positiva em 14 mil aberturas ao ano, até o país voltar ao vermelho no ano passado. Os números da CNC têm como base dados das varejistas, de todos os portes, informantes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
“Quem estava mal, já sumiu, quebrou. O pequeno que sobreviveu começou a respirar e ver uma chance ou outra de investimento. Ele analisa quatro, cinco bons pontos, mas começa abrindo dois e vê o desempenho”, diz Tito Bessa Jr, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos).
O adiamento dos projetos de expansão orgânica em 2020, por conta da pandemia, acaba sendo um fator de pressão para que as varejistas retomem planos. Isso ocorre mesmo nesse ambiente de juros em alta, o que eleva o custo de capital, e de inflação e despesas mais elevadas (como energia e negociações coletivas de salários).
Para o empresário Marcelo Maia, ex-secretário de Comércio e Serviços, uma varejista menor faz essa retomada mais lenta, pois não tem acesso a capital. “Nos grandes, vale reacelerar os planos e ir implementando por meio de projetos piloto, e administrar isso de perto, para sentir como vem o retorno”, disse. “O que percebo é uma aceleração de aberturas com projetos multicanal, que usam loja como expansão para o digital. Nesse caso, a demanda por pontos está bem aquecida.”
Levantamento do Valor com 10 grandes redes de capital aberto – que estão liderando esses projetos de multicanalidade – mostra que os desembolsos com aberturas caíram até 80% em 2020 e voltaram a acelerar neste ano (ver ao lado).
A retomada das fusões e aquisições de pequenos negócios neste ano, entre cadeias regionais, também acaba pesando de forma positiva nesse processo de aberturas.
O diretor geral do Grupo Oscar, Bruno Constantino, rede de calçados com 92 lojas em 4 Estados, passou a negociar neste ano a compra da Carioca Calçados, de Santa Catarina, com 19 pontos. Mas desacelerou planos de aberturas. “Partimos para a compra porque a empresa vai bem, somos conservadores, não crescemos alavancados. Mas mesmo assim, projetávamos 8 aberturas neste ano e faremos 5, para poder cuidar da aquisição.”
“Quando o mercado começa a se mexer, num cenário de maior turbulência, é preciso que a rede tenha muita clareza sobre a sua capacidade de acompanhar esse movimento, do seu potencial e limitações. Para ir reocupando o mercado, sem dar um passo grande demais”, acrescenta Constantino.
Dentro da ideia de aproveitar oportunidades, lojas multimarcas de produtos de beleza foram abertas em pontos fechados pela rede de maquiagens americana MAC no Brasil. A cadeia fechou em agosto 11 lojas no Brasil, cerca de 20% do total, apurou o Valor. “A gente acaba tendo uma substituição, no ponto, de uma marca por outra. Isso é positivo por reduzir as taxas de vacância. Mas não estamos vendo ainda aberturas de shoppings ‘greenfield’ [construídos do zero], porque esses investimentos devem demorar um pouco mais para avançar”, diz Bentes, da CNC.
Em evento da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) em setembro, empresários ressaltaram que o alto volume de inaugurações em anos recentes elevou a área bruta locável do setor, puxando para baixo preços de locação. A abertura de empreendimentos atingiu picos especialmente entre 2011 e 2013 – alcançando mais de 40 aberturas ao ano. Agora, o setor projeta 5 inaugurações neste ano e até 10 em 2022, o que ajuda a acelerar a ocupação de áreas já existentes.
Fonte: Valor Econômico