A recuperação do varejo de moda ficou mesmo para o ano que vem. Algumas entidades que representam o setor esperam uma melhora apenas nas vendas de Natal, em comparação a dezembro de 2015, mas insuficiente para compensar a retração vivida pelo setor ao longo de 2015.
O Índice Antecedente de Vendas do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IAV-IDV), que antecipa os dados de comércio do IBGE em 30 a 40 dias, apontou para o setor de semiduráveis (que inclui vestuário, calçados, livrarias e artigos esportivos) queda real nas vendas de 1,15% em setembro, de 1,23% em outubro e de 0,15% em novembro, em comparação aos mesmos meses de 2015.
Flávio Rocha, vice-presidente do IDV e presidente da Riachuelo, disse que só em dezembro o indicador deve apontar alta. “O fundo do poço para o setor foi em abril e maio. Depois disso há uma melhora lenta, com indicadores mais próximos da estabilidade. A verdade é que houve melhora na confiança dos consumidores, mas essa melhora ainda não chegou de fato à economia real”, afirmou Rocha.
Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), avalia que a entrada do décimo terceiro salário na economia pode motivar o consumidor a voltar às compras, principalmente de bens não duráveis e semi-duráveis – incluindo, neste caso, artigos de vestuário. “É um movimento de melhora lento, com recuperação apenas no ano que vem. No momento, os consumidores ainda estão retraídos e as varejistas também fazem um planejamento bem conservador”, afirma Lima. A Abvtex reúne as principais redes de moda do país, como C&A, Forever 21, Hering, Marisa, Inbrands, Renner, Restoque, Riachuelo e Zara.
De acordo com o diretor da Abvtex, em agosto e setembro, as redes mais tradicionais de moda apresentaram, em média, vendas em volume estáveis em relação ao mesmo período do ano passado ou com queda. “As varejistas que apresentam melhor desempenho são as lojas multimarcas que vendem produtos com preços mais populares, como Torra Torra e Besni”, observou Lima. O executivo diz que as vendas em redes populares crescem porque os consumidores ainda enfrentam dificuldades para administrar o orçamento mais apertado. Mas, considerando todo o varejo de vestuário, o desempenho fraco no terceiro trimestre deveu-se não só à recessão econômica no país, mas também ao clima. “O clima em agosto e setembro ficou mais frio que o habitual no Sudeste e Sul do país e as varejistas já haviam colocado nas lojas as coleções de primavera verão. O clima não atraiu os consumidores às compras”, acrescenta Lima.
Marcelo Prado, diretor da Iemi Inteligência de Mercado, observa que as varejistas de moda compraram menos produtos de inverno neste ano, já prevendo uma redução nas vendas. Como o clima foi mais frio que em anos anteriores, as empresas desovaram seus estoques rapidamente. “As varejistas ficaram sem estoque e tiveram que começar a comprar de novo para repor estoque e vitrines. Isso trouxe um ânimo para a indústria têxtil. Do lado do varejo, a perspectiva é de melhora no Natal, podendo registrar vendas iguais ou maiores que as do Natal de 2015 em volume”, afirma Prado.
De acordo com a pesquisa mais recente de conjuntura da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), realizada com 400 empresários da cadeia têxtil, 58% das empresas informaram que as vendas em agosto e setembro foram maiores do que no mesmo período de 2015; para 10% as vendas ficaram estáveis e, para 32%, houve queda.
Prado observou que, no setor de vestuário, as vendas em dezembro costumam ser o dobro do volume médio vendido em outros meses do ano. O analista considera ainda que, se as vendas de Natal forem melhores, as varejistas terão mais caixa para a coleção de outono inverno de 2017.
O Iemi Inteligência de Mercado projeta para o ano crescimento de 1,1% no volume da produção de vestuário no país, com aumento nominal de 4,5% em valor (ou queda real de 2,5%, descontada a inflação prevista para o ano). Para o varejo de vestuário, a consultoria prevê para este ano queda de 4,6% em volume de vendas e aumento nominal de 2,7% em receita (ou queda real de 4,3%). Em 2017, o varejo de vestuário já teria um crescimento de 1,2% em volume e de 6,4% em valor nominal (aumento real de 1,3%).
Fonte: Valor Econômico