O principal dilema que o varejo enfrentou nos últimos anos foi o de se renovar e investir em um novo portfólio, em meio a uma crise político-econômica que abalou o país e vem respingando em vários âmbitos da sociedade brasileira. Por questões de infraestrutura, altas taxas tributárias e um ambiente de negócios longe do ideal, o Brasil ainda não avançou para um mercado digital, segundo avaliação do sócio da consultoria PWC, Ricardo Neves.
O especialista diz que o Brasil se atrasou tanto no processo, em relação às nações mais desenvolvidas, que vem pulando etapas por não acompanhar o mesmo ritmo, em um movimento que ele chama de “leap frog” (salto de sapo, na tradução literal). Neves, um dos convidados e mediadores dos debates no BR Week – maior congresso de varejo do Brasil -, cita o exemplo de que ainda não há no horizonte do varejo nacional o sentimento de crise das lojas físicas.
Isso porque, explica o sócio da PWC, o e-commerce ainda é “pequeno” no Brasil, representando apenas 8% das vendas do varejo, segundo dados levantados pela consultoria: “A quantidade de impostos por aqui é um empecilho para o processo. Junto a isso temos um déficit de infraestrutura significativo de estradas, de processos logísticos, de forma geral, e isso dificulta a transformação digital do varejo. Se não há eficiência nos processos de entrega como as pessoas vão utilizar massivamente o comércio eletrônico? Não há sequer confiabilidade de entrega”.
Mesmo com o e-commerce ainda não impactando os resultados nos espaços físicos, o varejo brasileiro tem tecnologia disponível e algumas lojas já oferecem a chamada experiência de compra para atrair clientes. “O Brasil não vai esperar resolver a infraestrutura para ser eficiente. Você vai pular uma etapa. Se a chegada dos drones pra logística de fato acontecer e se tornar natural para quê investir em uma infraestrutura que já vai estar ultrapassada?”, afirma Ricardo Neves.
Ainda não há uma avaliação concreta sobre se esse chamado “salto de sapo” faz bem aos varejistas brasileiros. Neves é da opinião de que esse pulo não é o ideal porque causa um choque nos modelos de negócio, sem tempo de adaptação à nova realidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, o espaço entre a Era do computador e a Era dos celulares foi muito maior, o que foi bom por haver um tempo maior de adaptação dos consumidores.
“As mudanças no Brasil vão acontecer mais rapidamente do que aconteceram lá fora. Eu acho que isso vai gerar mais ameaças, crises, disrupções”, diz o especialista. “Mas eu também acredito que haverá, sim, muitas oportunidades com esses novos modelos de negócio”.
Ambiente de negócios
Quanto ao ambiente de negócios brasileiro, na 125ª posição no ranking do Banco Mundial, é um desafio para o varejo e, sobretudo, para investimentos estrangeiros. “O ambiente de negócios faz com que ele seja um grande desafio para quem está aqui, mas eu acho que é um desafio dobrado para quem vem de fora. O mercado estrangeiro não consegue entender muito bem como operar por aqui. O Brasil, de fato, não é para amadores”, conclui Neves.
Fonte: BR Week