Varejistas que operam no meio digital tentam reduzir custos e acelerar a última etapa da entrega de um produto, conhecida no setor como “last mile” (última milha, na tradução do inglês). Estão usando computação em nuvem, armários inteligentes, bicicletas elétricas e até drones e robôs.
A última milha representa pelo menos 24% dos custos logísticos. Se for no comércio on-line, essa fatia chega a 45%, calcula o instituto Ilos, especializado em logística. A inovação nessa área ainda é está começando, mas já movimenta cifras expressivas. A B2W, dona dos sites Americanas.com, Submarino e Shoptime, quer usar a maior parte do investimento de R$ 5 bilhões em dois anos para projetos integrados de logística, como ampliar de sete para 17 centros de distribuição automatizados (que podem reduzir pela metade o prazo de expedição de um produto) e aumentar as ofertas de frete grátis aos clientes.
Já o iFood começou a operar em dezembro, ainda em caráter experimental, drones para fazer uma etapa intermediária da entrega de pedidos. A autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) saiu em agosto de 2020, mas a experiência foi adiada para garantir a segurança dos envolvidos devido à covid-19, diz Felipe Martins, diretor de inovação do iFood.
A operação acontece em parceria com a startup Speedbird Aero, de Franca (SP), que desenvolveu o equipamento, e é realizada de quarta-feira a domingo na área externa do shopping Iguatemi Campinas. A experiência começou com um voo por dia e tem aumentado ao longo das semanas. Há ainda uma segunda rota aprovada, que poderá levar o pedido do shopping até um ponto de pouso em um conjunto de condomínios próximo ao shopping. A autorização permite que o drone da Speebird Aero voe 2,5 km, a até 120 metros de altura e carregue até dois quilos.
“O drone chega para complementar os modais de entrega. Ele não vai sair do restaurante e deixar o pedido na janela do cliente, mas estamos otimistas de que ele vai ser eficiente na perna que ele vai percorrer”, diz Martins. O restaurante deixa o pedido no ponto de decolagem do drone, que o leva até o hub do iFood, que fica na outra extremidade do shopping. De lá, o entregador sai para completar o trajeto. Segundo Martins, os testes iniciais mostraram que um entregador gasta até 12 minutos dentro do shopping para buscar o pedido, percurso que é percorrido em cerca de dois minutos pelo drone.
O estudo mais recente do Ilos mostra que apenas 15% das companhias já utilizaram drone em alguma etapa de suas operações e pelo menos 36% esperam aumentar ou iniciar esse uso nos próximos dois anos. Foram ouvidas 73 companhias de maior faturamento no país e de diferentes setores. “Ninguém no Brasil conseguiu dar escala para esse uso, principalmente quando falamos de consumidor final ”, diz Maria Fernanda Hijjar, sócia do Ilos. Ela explica que o custo elevado e as restrições de regulamentação limitam essa expansão.
Embora a operação ainda seja incipiente, Manoel R. Coelho, sócio-fundador da Speedbird Aero, acredita que o cenário deva mudar bastante em até cinco anos e argumenta que as autoridades brasileiras têm progredido rapidamente com melhorias de regulamentação. A startup do interior paulista mantém estudos com a B2W, tem um projeto com os laboratórios Hermes Pardini e anunciou uma parceria com a Azul. Ele conta que todas as grandes varejista on-line já os procuraram.
Ainda olhando para o longo prazo, o iFood quer começar a testar nos próximos dias um robô capaz de carregar até 30 quilos. Assim como no drone, a operação deve ser em um ambiente controlado, dentro de um shopping de Ribeirão Preto, fazendo a coleta dos pedidos com os restaurantes e levando até um ponto de encontro para entregadores. Em uma segunda etapa, o robô será testado em um condomínio residencial na mesma cidade. “Nosso objetivo é de melhorar a eficiência quando dividimos as etapas da entrega. O valor da frente de entrega automatizada está na complementariedade dos modais”, diz Martins.
Mas a participação ainda pontual de drones ou robôs de entrega não significa falta de inovação no setor. Segundo o Ilos, 92% das empresas ouvidas na pesquisa já usam algum serviço de computação em nuvem, 58% já fazem uso de inteligência artificial, 51% usam robôs em seus armazéns e 32% já usam algum tipo de veículo autônomo.
Fonte: Valor Econômico