Varejista tem novo presidente do Conselho de Administração e acelera ritmo de abertura de lojas para dobrar de tamanho em cinco anos
Por Luiz Henrique Mendes
A pandemia está indo embora, mas roupas confortáveis, preocupação com bem-estar e digitalização ficam. Menos de um ano após o IPO, a Track&Field parece estar na rota para correr mais rápido. A companhia acaba de anunciar a indicação de José Vicente Marino, ex- Avon e Natura, para a presidência do conselho de administração. Na diretoria de operações, Márcio Matsuda está de saída e um novo executivo ainda será recrutado.
A companhia fundada pelos amigos Fred Wagner, Ricardo Rosset e Beto Azevedo está acelerando as aberturas de lojas, num ritmo que anima gestores e analistas com o potencial de dobrar a empresa de tamanho em cinco anos. Em 2021, o recorde de 35 lojas abertas no último ano será batido.
Desde o início de julho, Wagner está de volta ao comando executivo. Numa troca que chegou a gerar especulações no mercado sobre eventual M&A, o empresário substituiu Túlio Landim, que ficou três anos na companhia para preparar a abertura de capital, como CEO.
Na primeira entrevista desde que reassumiu o comando, Wagner diz que a troca de comando é um movimento natural. À frente do comitê de inovação e estratégia vinculado ao conselho de administração, o empresário já liderava a digitalização da Track&Field. “A mudança digital se tornou o centro da companhia no momento em que o mandato do Túlio estava finalizando”, ressaltou.
Para uma empresa de fundadores que fazem questão de ficar próximos do dia a dia e são ciosos do controle – a estrutura inspirada nas super voting shares, que levantaram críticas no mercado, não deixa mentir -, a volta de Wagner à cadeira de CEO não deveria surpreender, afirmam gestores comprados no papel.
“Eles gostam de tocar o negócio. Quem entrou no IPO sabia disso. Então, vender a Track&Field é algo praticamente impossível”, diz um acionista. “O Fred já era muito ativo”, concorda Helena Villares, analista do Itaú BBA.
Na diretoria de operações, a troca faz parte de uma mudança de perfil exigido para a missão. Matsuda teve papel fundamental na estratégia anterior, o que incluiu a recente inauguração de um centro de distribuição que quadruplicou a capacidade.
A partir da agora, o cargo terá a incumbência de ajudar no trabalho de expansão da capacidade de produção dos fornecedores de vestuário, uma necessidade diante das perspectivas de forte crescimento da empresa. As mudanças podem incluir inclusive a entrada da companhia na produção própria como uma forma complementar.
No processo de digitalização, a menina dos olhos de Wagner é o aplicativo TFSports, que já ultrapassou 225 mil usuários e tem potencial para alcançar 1 milhão no médio prazo. Pela plataforma, a Track&Field se conecta com treinadores que oferecem aulas de diversas modalidades, de yoga a beach tênis. Com a TFSports, os treinadores tiveram mais uma alternativa para fazer renda durante o pior da pandemia.
Para a Track&Field, é mais uma forma de se aproximar dos consumidores. Um projeto testado na Paraíba mostra o potencial de monetização da plataforma, com os treinadores entrando nas vendas diretas da itens da Track&Field. Nas lojas do franqueado que rodou o piloto em parceria com os treinadores, as vendas aumentaram 20%. Até 2022, o modelo será nacionalizado.
Wagner evita dar estimativas, mas avalia que a venda direta via treinadores – atualmente, são 400 plugados à TFSports – cria um canal com potencial semelhante ao negócio de multimarcas da Arezzo, que representa 27% das vendas. A chegada de Marino ao conselho, aliás, tem tudo a ver com venda direta, tema que domina dos tempos de Avon e Natura.
Com 270 lojas no país, a Track&Field vem crescendo mais de 20% nos últimos trimestre. As ações da companhia, avaliada em R$ 2,5 bilhões na bolsa, já se valorizaram 67% desde o IPO.
Fonte: Valor Econômico