Depois de arrumar a casa na Via Varejo, o executivo Peter Estermann, de 60 anos, recebeu uma promoção ao ser alçado ao comando do Grupo Pão de Açúcar (GPA). O anúncio foi feito há duas semanas, mas ele só assumirá o lugar de Ronaldo Iabrudi a partir de 27 de abril. Entre os desafios do novo presidente do GPA está arrumar a operação de supermercados e hipermercados, que vem prejudicando o desempenho da empresa.
O anúncio da troca de comando deixou clara a intenção de dar novos rumos a bandeiras como Pão de Açúcar e Extra. Além de presidir o grupo como um todo, Estermann vai tomar as decisões referentes à área que o GPA denomina multivarejo. Em sua gestão, Iabrudi delegou a função a outro executivo.
Uma fonte ligada ao Grupo Pão de Açúcar disse que Estermann tem o perfil ideal para o que precisa ser feito para melhorar a performance dos supermercados e hipermercados da rede. Essa fonte afirmou que as bandeiras do Grupo Pão de Açúcar ainda têm muito a evoluir em termos de gestão de custos, especialmente de pessoal. Não seria um processo muito diferente do que o executivo já empreendeu com Casas Bahia e Ponto Frio, disse um analista de mercado.
Conversões
Em teleconferência após o anúncio de sua ida para o GPA, Estermann admitiu a necessidade de melhorar o desempenho do multivarejo, com foco nos formatos que têm dado maior retorno para o grupo. Nos últimos anos, a empresa já lançou mão da estratégia de transformar unidades de maior porte – como os hipermercados – em pontos de venda do atacarejo Assaí, destaque de resultado do grupo.
Só no quarto trimestre do ano passado, oito lojas de outras bandeiras foram convertidas em Assaí. De acordo com relatório do BTG Pactual, o atacarejo teve alta de 28% nas vendas entre outubro e dezembro, participando com 43% das vendas totais da divisão de alimentos do GPA. O avanço geral das receitas da área foi bem menor no período, de 6,6%, impactado pelas demais marcas.
Limite
Fontes de mercado ponderam, porém, que a estratégia de transformar outras bandeiras em Assaí atingirá um limite em algum momento. De acordo com o atual presidente do Grupo Pão de Açúcar, Ronaldo Iabrudi, ainda há cinco conversões previstas de unidades Extra em Assaí para o ano que vem. Ele disse também que o setor de supermercados e de hipermercados deverá se concentrar no segmento “premium”, eliminando formatos dedicados a clientes de renda intermediária.
Perfil
O estilo de gestão do executivo Peter Estermann à frente da dona da Casas Bahia e do Ponto Frio sugere um homem de varejo. No entanto, as origens do executivo que tirou a Via Varejo de um bilionário prejuízo estão no agronegócio. Ele só estreou no varejo há quatro anos, pelas mãos de Ronaldo Iabrudi, com quem já havia trabalhado anteriormente. A partir de abril, ele sucederá Iabrudi no comando do Grupo Pão de Açúcar.
Agrônomo de formação, Estermann teve a maior parte de sua carreira dedicada ao agronegócio, setor em que atuou por 20 anos. O executivo – nascido em Rolândia, colônia alemã no Norte do Paraná, que tem até a própria Oktoberfest – só mudou de área em 2001, quando foi atuar na Telemar (atual Oi). Depois de uma passagem pela Medial Saúde, ficou seis anos na mineradora Magnesita.
No Grupo Pão de Açúcar, fez carreira meteórica: entrou como vice-presidente de infraestrutura e estratégia do GPA em 2014, foi promovido a presidente da Via Varejo em 2015 e agora será alçado ao comando do grupo.
À frente da Via Varejo, Estermann ficou conhecido pelo estilo “mão na massa”. Na última Black Friday, foi a uma loja às 6h30 para verificar os preparativos para a megapromoção. Para tirar o negócio do vermelho, teve de tomar decisões rápidas e fazer cortes na carne.
Quando Estermann chegou à Via Varejo, em setembro de 2015, a empresa ainda estava abrindo lojas, apesar das vendas ruins. Virou a chave rapidamente: passou a fechar pontos de venda. E esse não era o único erro a ser corrigido: era necessário diferenciar as marcas Casas Bahia e Ponto Frio e tirar o atraso em relação ao Magazine Luiza no e-commerce.
Em agosto de 2016, o GPA desistiu do que foi considerado um de seus maiores erros estratégicos no País: a contabilização das vendas físicas na Via Varejo e dos negócios online na Cnova. Com a decisão, o e-commerce passou de patinho feio a prioridade.
A abertura de lojas, que voltou a ser feita em 2017, passou a priorizar a integração com o mundo online, que hoje responde por cerca de 25% dos negócios da Via Varejo. São unidades menores, voltadas à exposição de produtos e que fazem o papel de ponto de coleta para compras feitas pela web.
Estermann, porém, não deixou as origens do agronegócio totalmente no passado. Um de seus hobbies, no sítio que mantém, é a criação do galo índio gigante. A ave ornamental, que chega a medir 1,2 metro, é alvo de disputas ferrenhas em leilões – em outubro de 2017, um galo foi arrematado por R$ 154 mil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: IstoÉ