O acordo de venda da operação da Starbucks no país para a empresa de investimentos SouthRock, que se tornou a licenciadora local em março, define um cronograma em que mais que dobra o número de lojas no país em cinco anos, segundo informações do contrato obtidas pelo Valor. A SouthRock pode ter que pagar taxa ao grupo se as metas não forem sejam atingidas. O acordo tem prazo de 26 anos, renováveis por mais 26.
No contrato, a Starbucks diz que na eventualidade do não cumprimento de previsões de aberturas, as parte entendem que não haverá “penalidade”, mas uma estimativa “genuína da perda” para o grupo americano, apurou o Valor.
Ao se comprometer com um nível mínimo de aberturas, há uma projeção de resultados pela matriz que é considerada, já que a empresa no exterior ganha um percentual das vendas locais.
Procurada, a Starbucks prefere não comentar “rumores ou especulações de mercado”, diz, “mas reforça seu total comprometimento com o próximo capítulo no Brasil com a SouthRock”.
O contrato entre as partes determina que o número evolua de 118 pontos no primeiro ano com a gestão da SouthRock para 170 no terceiro ano e 265 no quinto.
Em aeroportos, o total de unidades tem que dobrar de 10 para 21 no terceiro ano, até atingir 35 unidades em 2023.
A rede de cafeterias alcançou 113 pontos no Brasil em pouco mais de onze anos de operação. Agora, quer mais que duplicar o total até o fim de 2023. A SouthRock foi fundada pelo americano Kenneth Pope, que trabalhou alguns anos na Laço Management (empresa sócia da China in Box, Gendai e St Marche). Pope criou a SouthRock há apenas três anos após deixar a Laço.
Pelo contrato, se ao fim de dois anos o número de lojas em operação for inferior a 70% do determinado, a SouthRock tem que pagar à Starbucks uma taxa (informada no acordo como será calculada) até que se atinja o patamar definido. Se o número de unidades ficar em 50% do previsto, uma espécie de revisão é acionada e a rede terá dois anos para atingir as metas.
Para efeito de comparação, nos contratos da Arcos Dorados, operadora do McDonald’s no país, com a empresa nos EUA, a Arcos descumpre o acordo se não conseguir atingir pelo menos 80% das metas de aberturas anuais.
O contrato da Arcos arquivado na SEC (orgão regulador do mercado acionário nos EUA), porém, não determina cálculos de cobranças ou informa estimativas de volume de pontos ano a ano, como o da Starbucks.
O acordo da rede de cafeterias determina que, em caso de piora das condições econômicas no Brasil, as partes poderão rever o cronograma pré-determinado.
Pelo acertado, a SouthRock ainda não pode empregar ninguém em cargos de administração que a Starbucks não tenha aprovado. E qualquer plano de inauguração para outras regiões onde a marca não atua hoje precisa ser aprovado pelo grupo nos EUA.
Segundo uma fonte, a rede no país precisa acelerar o processo de diluição dos custos e despesas para um aumento de margens, e isso estaria dentro de um plano de reestruturação. A margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) ficou em cerca de 2% em 2016. A cadeia tem vendas anuais de cerca de R$ 250 milhões no país, apurou o Valor, e a venda da operação teria custado entre R$ 80 milhões e US$ 100 milhões.
Nesse formato de operação, a Starbucks passa a operar no Brasil da mesma forma que na América Latina e Caribe, por meio de parceiros licenciados.
Fonte: Valor Econômico