A brincadeira para a Ri Happy ficou séria. Está marcado para a quinta-feira, 29 de março, o início das negociações das ações (IPO, na sigla em inglês) da empresa na B3. Fundada em 1988 pelo pediatra Ricardo Sayon e adquirida pelo fundo americano de private equity Carlyle, em 2012, a maior rede de lojas de brinquedos do País está colocando seu negócio à prova. Poucos dias antes da estreia na bolsa de valores, as cobranças já começam a pesar para que ela acelere o seu plano de crescimento. O que tem incomodado os investidores é a baixa participação no comércio eletrônico e a tímida presença no valioso mercado de artigos para bebês. “Parece que não vai haver muito quórum para o IPO”, diz um gestor de investimentos, que avaliou a empresa, mas preferiu não se identificar.
De acordo com o prospecto distribuído ao mercado, o objetivo do Carlyle é captar R$ 860 milhões. Isso será possível se o valor de mercado da companhia, que será divulgado no dia anterior à estreia na bolsa, ficar entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,7 bilhão. O recurso deverá ser dividido da seguinte maneira: 60% para financiar as estratégias da Ri Happy e 40% para o fundo, que reduzirá sua participação. “O preço sugerido pelos coordenadores da oferta é bastante elevado quando analisamos pela ótica do indicador P/L [preço da ação dividido pelo lucro nos últimos quatro trimestres]”, diz Maria Cristina Costa, analista da Lopes Filho Consultores de Investimentos. “Também é preciso levar em consideração que as margens operacionais da companhia são bastante baixas.”
Os executivos da Ri Happy querem, justamente, utilizar os recursos captados com o IPO para expandir a atuação da empresa. Três frentes são consideradas prioridade. A primeira é o avanço no nicho de artigos para bebês. Atualmente, apenas 7% de suas vendas são para esse público. A ideia é utilizar a bandeira PB Kids, adquirida em 2012, para concorrer com a Alô Bebê, a mais forte desse segmento. A segunda frente é conseguir o crescimento das vendas orgânicas e a migração das lojas maiores para o conceito de one-stop shop, que vendem produtos para todas as faixas etárias. Embora o segmento de artigos para bebês tenha registrado receita de R$ 10,8 bilhões, em 2016, segundo a Euromonitor, quase três vezes superior ao de brinquedos e jogos, esse mercado apresenta expansão maior.
Entre 2011 e 2016, o crescimento foi de 10,6%, de forma anualizada. “Em 2010, foram comprados quatro brinquedos por criança brasileira. No ano passado, foram 11”, diz Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira de Brinquedos (Abrinq). “O que favoreceu esse crescimento foi a desconexão do setor com a crise da economia, além de uma geração de pais que querem dar aos filhos os brinquedos que não tiveram na infância.” Por fim, está a ampliação das vendas pela internet, incluindo a oferta de serviços como a Ri Happy Educação, voltada para conteúdos educacionais da pré-escola ao vestibular.
Depois que foi adquirida pelo Carlyle, o comando da empresa foi entregue para Hector Nuñez, ex-CEO do Walmart, que focou na expansão. O número de lojas subiu de 109, em 2011, para 259, incluindo as franquias. Mas, nos últimos três anos, a companhia ficou estagnada (gráfico ao final da reportagem). Em 2016, a receita líquida caiu e houve prejuízo de R$ 6,5 milhões. No ano passado, a Ri Happy voltou a dar lucro de R$ 16,3 milhões – ainda assim abaixo do pico registrado em 2015. Procurada pela DINHEIRO, a Ri Happy informou que está em período de silêncio e não concederia entrevista.
Uma sombra também paira sobre a Ri Happy. A Toys “R” Us, uma referência mundial em vendas de brinquedos, anunciou, em 15 de março, que fechará todas as suas lojas nos Estados Unidos e na Inglaterra. O caso foi avaliado como uma capitulação frente ao poderio da Amazon e das vendas pela internet. Carlos Tilkian, presidente da fabricante de brinquedos Estrela, diz que outros fatores já prejudicavam a companhia americana antes desse novo desafio, como a concorrência com os supermercados Walmart e um alto endividamento. Na quinta-feira 22, uma semana depois do anúncio, o fundador Charles Lazarus, de 94 anos, morreu.
A Ri Happy lembra que fatores culturais fazem o mercado brasileiro ser peculiar, como a concentração das compras em shopping centers e a influência das crianças nas decisões. “A criança brasileira não aguenta esperar sete dias para receber um brinquedo”, diz Batista, da Abrinq. “Esses fatores os analistas financeiros não conseguem entender.” Os próximos tempos indicarão se a Ri Happy se sairá bem com a nova brincadeira.
Fonte: IstoÉ Dinheiro