Os shopping centers que começaram a reabrir as portas registram queda de 50% a 80% nas vendas em relação ao patamar verificado antes do início da crise gerada pela pandemia, segundo empreendimentos e lojistas ouvidos.
Para algumas redes, a desaceleração está mais próxima deste teto, especialmente em categorias não essenciais, como vestuário, calçados, acessórios e perfumaria. A piora abrupta no cenário econômico impactou diretamente no desempenho. “Pelo menos 50 lojistas com quem tenho maior contato têm relatado quedas de 70% a 80% nas últimas semanas. Lojistas de outlets estão desacelerando menos, com vendas caindo 60%”, diz Tito Bessa Junior, sócio da TNG e presidente da Ablos, a associação brasileira dos lojistas satélites.
A Aliansce Sonae, sócia de 29 empreendimentos no país, tem um centro de compras reaberto até o momento, o Shopping Praça Nova Santa Maria (RS), em funcionamento desde 18 de abril. Na primeira semana, as vendas representaram entre 30% a 40% do volume total registrado no mesmo período do ano passado.
Na segunda semana, houve aumento no tráfego de 30% sobre a semana anterior. O fluxo vem aumentando de forma gradativa a cada dia, informa o grupo.
Mais de 80% da receita dos grupos de shoppings vêm do aluguel pago pelos comerciantes – os contratos definem um valor mínimo ou um percentual sobre a venda (o que for maior). Com os empreendimentos fechados em março e abril, foi necessário renegociar essas condições, com descontos de 50% a 100% no aluguel.
Ontem, o comando da BR Malls informou que as vendas (em volume) de dois shoppings reabertos da empresa – o Iguatemi Caxias do Sul e o Shopping Campo Grande – atingiram 50% do patamar de antes da pandemia. Trata-se de uma prévia parcial. Em teleconferência a analistas, o presidente da BR Malls, Ruy Kameyama, disse que os shoppings de São Paulo e Rio de Janeiro “serão os últimos a reabrir”.
Ainda informou que nos empreendimentos abertos, cerca de 85% das lojas voltaram a funcionar inicialmente, e esse número tem subido gradualmente.
Apesar da desaceleração forte, as empresas destacam que a base de análise ainda não é tão considerável, já que as grandes empresas abriram um número pequeno de empreendimentos. Mas há um entendimento entre empresários do setor de que cenário de queda nas vendas, em relação a 2019, deve se manter por um período.
Até o momento, a taxa de expansão mais elevada no comércio foi divulgada pela Via Varejo , dona das redes Casas Bahia e Ponto Frio. Com cerca de 200 lojas reabertas na semana passada (parte delas em shoppings) a empresa apurava queda de 48%, em média, em cima do valor projetado para a venda neste período. Em certos dias e em locais específicos, essa perda era menor, de 30%.
Mas o grupo reforçou ontem, em comunicado, que essa queda menos representativa inclui as vendas on-line. Além disso, as lojas abertas com bom desempenho estão em pequenas cidades, com menor participação na receita total.
Grandes companhias, como Multiplan e BR Malls, vem buscando convencer lojistas a operar por meio de plataformas de venda on-line, que cobram taxas sobre a entrega, como uma alternativa para o fechamento total das lojas físicas.
A BR Malls informou que “no aluguel de abril foi aplicado desconto de 100% no valor, se solicitada a adesão ao sistema da [empresa] Delivery Center”. O grupo é sócio da Delivery Center, assim como a Multiplan.
Esse braço de entrega de mercadorias opera dentro dos shoppings, fazendo o envio das mercadorias compradas pela internet. O lojista paga um percentual sobre a venda para o Delivery Center.
Em contato com analistas na semana passada, a direção da Multiplan disse que, em março, o número de contratos entre a Delivery Center e seus lojistas subiu 131% sobre o mês anterior. Na BR Malls, a adesão cresceu 350% em março e abril, versus a média de 12 meses anteriores.
Sobre planos futuros, a BR Malls disse ontem que o grupo interrompeu certos investimentos do ano e adiou expansões, mas será mantido o investimento na operação digital. A empresa projeta operar em 15 marketplaces nos próximos meses – hoje está em oito. Neste momento, BR Malls, Multiplan, Aliansce Sonae e Iguatemi definiram como prioritários os projetos de integração do negócio físico com o on-line, por conta da mudança no comportamento do cliente após a pandemia
Fonte: Valor Econômico