Aquele conceito de shopping centers ensimesmados, que protegem de toda maneira seus frequentadores dos olhares externos, impõe longos caminhos para qualquer deslocamento dentro do empreendimento e inibe o contato com o “lado de fora”, caprichando em uma iluminação artificial e permanente, que não diferencia a noite do dia, vem caindo – ainda que lentamente – em desuso no Brasil.
Atentos não apenas ao clima do País, que é rico em sol e tem uma natureza exuberante, arquitetos, engenheiros, gestores e estudiosos do perfil de consumo, vêm trabalhando em projetos que privilegiam, cada vez mais, a integração de ambientes e serviços, uso de áreas verdes e luz natural. O novo conceito foi batizado “Shopping do Futuro” ou “Shopping Aberto”.
De acordo com a gerente de marketing do Shopping Del Rey, Thâmara Zaia, esse é uma tendência futura que já está chegando. “Nas décadas de 1980 e 1990, os shoppings foram construídos com a estrutura de ‘caixote’. De lá pra cá, o comportamento do consumidor mudou radicalmente em todo o mundo, levando as marcas e, consequentemente, os malls, a oferecerem mais que produtos e serviços, mudando o foco para a questão da experiência”, explica Thâmara Zaia.
As mudanças vão bem além do paisagismo. Elas devem ocorrer no nível da mentalidade de gestores, lojistas e colaboradores. No Shopping Del Rey, construído há 26 anos, a estratégia engloba ações pontuais – já que o empreendimento não pode parar para uma grande reforma – e capacitação das equipes.
“Desenhamos um planejamento estratégico que engloba ações em parceria com os lojistas. O consumidor, hoje, é o grande protagonista da relação e ele quer ir além da compra. Quer ter espaço para lazer, entretenimento, sem ser obrigado a comprar. O papel do gestor é entender como atender esse anseio e transformar isso em uma oportunidade de venda. Então, modificamos no nosso mix, buscamos ativamente marcas que também tenham compreendido esse conceito”, afirma a gerente de marketing do Shopping Del Rey.
Atender os diferentes formatos de família, o que inclui animais de estimação e as necessidades e anseios das crianças, é outro ponto fundamental. Já não basta um fraldário onde só as mães podem entrar ou um parquinho com atrações pagas. Investimentos em tecnologia de atendimento e comunicação, especialmente via redes sociais e aplicativos, disponibilização de rede wi-fi e espaços para recarga de dispositivos móveis são algumas das ações que vem se tornando comuns.
No caso do Shopping Del Rey várias mudanças podem ser percebidas pelos frequentadores mais atentos. “Nos próximos três anos, vamos ter muitas novidades. Vamos reformar a fachada e construir uma alameda gastronômica ao ar livre. Já reformamos os banheiros e já está em construção um parque fixo para a garotada, a Floresta Encantada, que terá entrada gratuita. Ano passado, nos tornamos ‘pet friendly’. Todos os andares terão banheiros para as crianças e espaços para os animais de estimação”, enumera a gestora.
Destino favorito – E não é à toa que os gestores de shopping centers valorizam o consumidor belo-horizontino. Levantamento realizado pela 99 – empresa de mobilidade urbana – aponta os shoppings como destino preferido dos belo-horizontinos no último mês. O levantamento analisou o destino de todas as corridas realizadas entre os dias 23 de dezembro e 24 de janeiro. Sete entre os 10 destinos mais visitados nesse período são shopping centers de diferentes regiões da cidade. O Boulevard Shopping (Leste), Shopping Del Rey (Pampulha) e Minas Shopping (Nordeste) lideram a lista, seguidos por BH Shopping (Centro-Sul), Pátio Savassi (Centro-Sul) e Diamond Mall (Centro-Sul). O Shopping Cidade (Centro-Sul) aparece na oitava posição.
Inaugurado há quatro anos, o Shopping Contagem, na cidade de mesmo nome, que fica na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), já surgiu sob a égide do novo conceito. Isso não significa, porém, que o modelo já esteja acabado. Para a líder de marketing do Shopping Contagem, Isabella Aguirre, cada centro de compras precisa respeitar suas características e o perfil do seu público ao escolher as ações nas quais vão investir.
“Quando começamos, já tínhamos em mente essa mudança de comportamento do consumidor. Muitas vezes ele não sabe nomear o que quer, mas já mudou a forma de comprar e lidar com o shopping. Então temos sempre um caminho a percorrer. E isso inclui uma conversa constante com os lojistas. O nosso foco é em convivência e a gastronomia é um dos carros-chefes. Se antes o que trazia as pessoas ao shopping eram as lojas âncora, agora são as opções gastronômicas”, analisa Isabella Aguirre.
Para atender essa demanda, o centro de compras realiza eventos como a Temporada Gourmet e o Festival da Cerveja Artesanal. A disposição dos restaurantes ao longo de um varandão que dá vista para a cidade também faz parte da estratégia.
NOVO PERFIL CONSUMIDOR TEM BUSCADO BOAS E DIVERSIFICADAS EXPERIÊNCIAS, NÃO SÓ COMPRAS
Cada vez mais atento e antenado, o consumidor brasileiro tem exigido dos lojistas e, consequentemente, dos shopping centers muito mais que bons produtos, bom atendimento e preço minimamente justo. Ciente do valor do dinheiro e municiado de informações, vindas principalmente das redes sociais, o consumidor tem buscado boas e diversificadas experiências.
Para não deixar que esse público escape, os malls têm se adequado às novas estratégias. Ao se tornarem também centros de serviço e dedicarem espaço para a tecnologia, eles se alinham ao conceito de “Shopping do Futuro”, que tem determinado mudanças em empreendimentos do mundo inteiro.
Em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o shopping que carrega o mesmo nome da cidade, instalado no bairro Cabral, foi construído em uma região com muitas empresas. Ao ouvir com atenção os pedidos dos frequentadores, relembra a líder de Marketing do Shopping Contagem, Isabella Aguirre, o Departamento de Marketing detectou que a região não oferecia um coworking. Ali surgia uma ação de impacto que levava o empreendimento ao encontro de uma das palavras do século: compartilhamento.
“Estamos em uma região bastante industrial e observando a quantidade de pessoas trabalhando na praça de alimentação percebemos que a região demandava um espaço de coworking. Ele será profissionalizado ainda neste semestre e temos mais dois projetos ligados ao compartilhamento sendo desenvolvidos”, pontua Isabella Aguirre.
No Shopping Estação BH, na região de Venda Nova, a mobilidade é um dos principais diferenciais que tem relação com o conceito de “Shopping do Futuro”. Primeiro a ser construído em uma estação intermodal – neste caso, reunindo metrô, BRT (Sistema Move) e ônibus – na Capital, tem na parte de serviços um dos seus destaques.
Segundo o líder de Marketing do Shopping Estação BH, Rodrigo Souza, o conceito do Shopping do Futuro traz o consumidor como personagem central da tomada de decisões dos empreendimentos. “Sabemos que hoje, em função da rotina cada vez mais atribulada, as pessoas buscam acima de tudo comodidade e conveniência. O fato de ter uma estação intermodal conectada à estrutura do shopping atende a essa característica de imediatismo do consumidor contemporâneo, trazendo ainda mais conforto e segurança. Desde o fim do ano passado, oferecemos pontos exclusivos de embarque e desembarque de passageiros no estacionamento do primeiro piso, com lounges equipados com mobiliário e paisagismo, que agregam uma experiência diferenciada aos clientes”, analisa Souza.
Inaugurado em 2012, o centro de compras já trazia algumas inovações arquitetônicas valorizando o uso da luz natural e abrindo espaços de convivência que geram sensações positivas aos visitantes. Os corredores de serviços complementam a estratégia com a atração de operações que comungam dos mesmos valores.
“O principal atrativo nesse sentido são os vitrais da fachada de acesso pela avenida Cristiano Machado, que contemplam os três primeiros pisos do mall e tem vista para as praças de alimentação dos 2º e 3º piso, espaço em que muitas vezes as pessoas se permitem parar um pouco para contemplar a experiência. Um dos conceitos do Shopping do Futuro é oferecer atrito zero e isso perpassa, não apenas pela parte arquitetônica, como também pela orientação do time de campo, que deve estar sempre preparado para melhor atender o cliente. A localização de algumas operações é estrategicamente pensada para atender com maior conforto e comodidade o cliente, respeitando o seu perfil. É o caso do EPA, que está no primeiro piso com acesso facilitado para o estacionamento e os acessos das estações de ônibus e metrô. Sempre que possível realizamos alguns remanejamentos nesse sentido, pensando em melhorar a experiência dos usuários”, destaca o líder de Marketing do Shopping Estação BH.
Fonte: Diário do Comércio