Já são dez anos sem a marca Sendas nas fachadas de supermercados do Rio, mas o grupo, fundado em 1960 permanece ligado ao varejo com quase 10% das receitas em logística
Por Luciane Carneiro
Já são dez anos sem a marca Sendas nas fachadas de supermercados do Rio, mas o grupo, fundado em 1960 por Arthur Antônio Sendas, filho de um português com uma brasileira, permanece, indiretamente, ligado ao varejo. Mais da metade do faturamento do grupo carioca é garantido com o aluguel de 55 lojas comerciais. O e-commerce, principal transformação no comércio nos últimos anos, também está no radar. A atuação neste segmento se dá por meio de participação em um condomínio logístico em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, onde funciona o centro de distribuição da Amazon no Rio de Janeiro.
No local, a Sendas tem parceria com a Prologis, líder mundial em imóveis logísticos e industriais, em galpões localizados na avenida Arthur Antônio Sendas, homenagem ao patriarca do grupo, também conhecido como “seu Arthur”, morto em 2008. A atuação na área logística responde por quase 10% da receita e tem potencial de crescimento, diz Nelson Sendas, segundo filho de Arthur Sendas e que foi diretor comercial da rede de supermercados. Hoje ele é o vice-presidente da Sendas Empreendimentos, presidida pelo irmão, Arthur Filho.
A origem do negócio familiar remete aos anos 1920, à época como Armazém Trasmontano, montado pelo pai de Arthur, o português Manoel Antônio Sendas. Décadas depois, quando da fusão da Sendas com o GPA, dona da rede Pão de Açúcar, em 2003, o grupo era a quinta rede supermercadista do país.
A trajetória empresarial dos Sendas ganhou destaque com o lançamento da biografia “Arthur Sendas: uma história de pioneirismo e inovação” (editora Máquina de Livros), da escritora Luciana Medeiros. Arthur Sendas foi um dos pioneiros dos supermercados no país e chegou a ser porta-voz do setor presidindo, na década de 1980, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Mas a influência do empresário foi além. Foi presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), integrou o Conselho Monetário Nacional (CMN) – antes de ser exclusivo do governo – e ocupou uma cadeira no conselho da Petrobras. Torcedor fanático do Vasco da Gama – que reúne boa parte da comunidade portuguesa no Rio -, Sendas foi vice-presidente do clube. O empresário era uma personalidade conhecida no país quando morreu de forma trágica, assassinado pelo motorista do neto, em outubro de 2008.
Hoje os negócios do grupo estão organizados na Sendas Empreendimentos. É uma holding familiar de capital fechado com participações em shopping centers (Grande Rio, também em São João de Meriti; e Del Rey, em Belo Horizonte), no condomínio logístico da Via Dutra e em imóveis comerciais. A holding tem como maior acionista, com 80% de participação, o espólio de Arthur Sendas. Mais de 13 anos depois da morte do empresário, o inventário ainda não foi concluído. O processo de partilha dos bens corre sob segredo de Justiça.
A Sendas Empreendimentos também controla a Sendas S.A., que detém a maior parte dos imóveis remanescentes da rede de supermercados, e a Sendas Comércio Exterior, de armazenagem e exportação de café. O grupo não revela números de receita e lucro.
Os negócios do grupo foram concentrados sob o guarda-chuva da holding familiar depois de desfeita a união da Sendas com o GPA, em 2011. Anunciado em 2003 como uma joint-venture e ainda hoje tratada como tal pela família, o negócio representou a compra dos negócios da Sendas pelo GPA. Foi criada a Sendas Distribuidora, empresa resultante dos ativos de ambos os grupos no Rio de Janeiro.
Em 2005, o grupo francês Casino comprou uma fatia de 20% do GPA. Após uma longa disputa com Abilio Diniz, maior acionista do GPA, o Casino acabou assumindo o controle do negócio. No livro, a autora conta que Arthur Sendas ficou afastado da operação e sentia falta do contato com a empresa e os funcionários. Essa mudança fez com que o patriarca recorresse à arbitragem para tentar vender toda a participação dele ao GPA uma vez que, pelo acordo de acionistas, isso seria possível no caso de mudança no controle acionário.
A decisão da arbitragem terminou sendo contrária aos Sendas, que buscaram a saída do negócio. As discussões só foram concluídas em 2011 com o anúncio da compra, pela Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, empresa do GPA), das ações remanescentes da Sendas Distribuidora.
Mais da metade do faturamento da Sendas Empreendimentos vem do aluguel das lojas próprias dos supermercados, locadas ao GPA. O patrimônio imobiliário formado por Arthur Sendas é a principal fonte de receita do grupo. A maioria das locações tem como cliente o GPA e a rede de atacarejo Assaí.
Fonte: Valor Econômico