Dona das grifes Le Lis Blanc, Dudalina e John John está devendo R$ 1,5 bi e recebeu oferta da WNT
Por Lucinda Pinto e Raquel Brandão
A varejista de moda Restoque, dona das marcas Le Lis Blanc, Dudalina e John John, está avaliando uma proposta de reestruturação de sua dívida feita pela gestora WNT Capital, que prevê a troca de seu passivo por ações e tem potencial de reduzir a atual dívida de mais de R$ 1,5 bilhão para R$ 150 milhões. Uma das barreiras para o avanço das negociações, entretanto, é o prêmio a ser pago pela companhia aos credores.
Segundo fontes próximas à operação, a empresa considera elevada a exigência do adicional de 10% acima do preço médio das ações para a realização da troca. De outro lado, detentores das debêntures analisam se esse valor seria suficiente para fazer frente ao risco da empresa.
Ontem, os papéis encerraram o pregão negociadas a R$ 1,80, um recuo de 6,25%. A esse preço, a varejista de moda voltada especialmente para o público das classes AB passou a ter um valor de mercado de R$ 126,6 milhões.
Outro ponto a ser considerado, dizem fontes próximas à operação, é que alguns dos credores atualmente são fundos de crédito que não têm mandato para colocar “equities” em carteira. Esses fundos teriam que se desfazer da ação após a troca, provavelmente a preços mais baixos do que os praticados na operação. “Esses investidores, quando compraram a debênture, não vislumbravam vir a deter uma ação. Fica a dúvida sobre o que eles irão fazer com esse papel”, diz fonte que acompanha a operação, sob condição de anonimato.
Ainda assim, a leitura de gestores e analistas é de que a solução de trocar dívida por ações parece favorável aos credores, dada a piora das condições do endividamento da Restoque, que se reflete diretamente no valor de face dos papéis.
Essa é a confiança da WNT para a aprovação de sua proposta. “A empresa tem todas as condições de ser protagonista de novo, resolvendo o problema de capital. Nossa proposta acredito que seja a mais bem estruturada para o momento que a empresa passa. No fim do dia, a nossa proposta é zerar a dívida”, disse, em entrevista ao Valor, Valério Marega Jr., representante da WNT, que estudava soluções para a Restoque há cerca de três meses.
A proposta de conversão em ações foi feita pela gestora no último dia 25 de março, quando a empresa realizou assembleia de debenturistas para aprovar a concessão de maior prazo de pagamento. Na assembleia, 92% dos debenturistas estavam presentes. A conversão da dívida em ações da companhia depende da aprovação dos debenturistas em uma nova assembleia.
No mercado secundário, a debênture da Restoque vinha sendo negociada, na últimas semanas, a 30% do valor de face. Desde que as informações sobre a proposta de reestruturação começaram a circular, o papel passou a se valorizar e chegou a ser negociado a 75% do valor de face ontem. Mas o único comprador continua sendo o WNT, dizem fontes.
Após um ano comprando debêntures da Restoque no mercado secundário, a WTN detém hoje 56% dessa dívida. Segundo fontes, a gestora comprou uma parte dessa fatia na emissão dos títulos, mas também fez aquisições no mercado ao longo dos últimos meses, pagando preços bem descontados. Para se ter uma ideia, a debênture chegou a ser negociada a 20% do valor de face há um ano.
A emissão da Restoque, realizada em janeiro de 2021, somou R$ 1,43 bilhão. O pagamento de juros inicialmente previsto para acontecer no penúltimo dia do ano passado, foi adiado para março de 2022 e, na mais recente assembleia de debenturistas, para junho deste ano.
A empresa tem melhorado seu desempenho operacional. Em 2021, a receita líquida do grupo cresceu 46,3% ante 2020, somando R$ 875,9 milhões. O prejuízo líquido ficou menor, passando de R$ 2 bilhões para R$ 804,3 milhões. O ganho operacional, no entanto, ainda não é suficiente para a empresa deixar o balanço mais saudável.
O quadro se agrava especialmente no cenário de juros em alta. Quando foi emitida, a remuneração da debênture era de CDI+ 2,8%. À época, a taxa de juro Selic estava em 2% ao ano.
Fonte: Valor Econômico