De olho em oportunidades no pós-pandemia, redes de alimentação projetam ano de forte crescimento de suas operações
Por Guilherme Grandi
Já dizia o velho ditado que toda crise gera oportunidades, e mesmo essa provocada pela pandemia do coronavírus, que provocou o fechamento definitivo de milhares de bares, lanchonetes e restaurantes, criou condições para que outras operações seguissem avançando no mercado.
Especialistas ouvidos pelo Bom Gourmet Negócios ao longo dos últimos meses foram categóricos em dizer: o mercado está sim diminuindo, mas quem sobreviver à crise e aproveitar as oportunidades, terá um salto de consumo quando a pandemia der uma trégua.
E é isso que muitos empreendedores estão enxergando para continuarem com os planos de expansão, principalmente as redes alimentícias. Fábio Xavier, sócio da rede de pizzarias Oca de Savoia, por exemplo, pretende terminar o ano de 2021 com mais 125 operações em todo o Brasil, além das 25 que já tem em funcionamento.
A rede gaúcha especializada em rodízios e na venda de pizzas em fatias, inclusive pelo delivery, aposta que o formato de operação acabou ganhando corpo durante a pandemia, por conta das restrições de atendimento. Além do que a pizza, segundo especialistas de mercado, sempre flertou melhor com as modalidades de entrega do que presencialmente, mostrando uma resiliência maior às crises.
“A gente tem dois aspectos: um estratégico de logo prazo, que os players do mercado vão mudar e se transformar e, na retomada da vida normal, estarem bem posicionados em nível nacional. A outra é na questão prática do nosso produto, que vem convivendo bem com as restrições da pandemia, num sistema baseado no delivery e take away”, explica.
A marca criada em 2008 em Porto Alegre deu um salto a partir de 2012, quando foi adquirida pelos atuais gestores que introduziram o sistema de franquias e diversificaram o cardápio. Para se adaptar aos tempos pandêmicos e às regras de distanciamento social, a rede criou um formato voltado apenas ao delivery com um pequeno espaço para consumo no local dependendo dos decretos nas cidades – são 16 lojas específicas para as modalidades de entrega.
Rua e shopping
O fechamento de milhares de operações em todo o Brasil acabou provocando um aumento na oferta de pontos comerciais disponíveis para locação, e foi a oportunidade ideal encontrada por Lucas Moreira, CEO da rede de cafeterias Splash Bebidas Urbanas, principalmente em pequenos espaços.
Com um modelo de negócios que dispensa a presença de uma cozinha local para o preparo dos alimentos e bebidas, o empresário está conseguindo transformar as lojas vagas com pouco investimento. Só no ano passado, os planos de expansão superaram as metas previstas e alcançaram 130%.
Lucas tem 42 lojas em funcionamento no Sul, Sudeste e Distrito Federal, com mais 18 previstas até o final deste ano e outras 40 em 2022.
“Estou tendo a oportunidade de abrir lojas em shoppings que antes eram inviáveis. E as operações abertas durante a pandemia [seis lojas] são as que estão desempenhando melhor”, conta.
É a mesma oportunidade vista pela rede gaúcha de pizzarias, que também está expandindo para operações em lojas vagas de shoppings centers, e pela rede catarinense de cafeterias Café Cultura. Das 19 operações em funcionamento, nove são nos grandes centros de compras, sendo a mais recente inaugurada no último mês no ParkShopping Barigui, em Curitiba.
Para Luciana Melo, sócia-fundadora da marca, a meta é chegar a 260 lojas no Sul e Sudeste do país até 2026, com operações variadas de olho nas oportunidades geradas pela crise.
“Temos um plano audacioso de avanço pelas cidades, e esse ano a expansão está focada no Paraná, na capital e interior, e no Rio Grande do Sul. No total teremos 46 lojas abertas apenas neste ano, estamos otimistas com elas mesmo com estes dois últimos meses de restrições”, explica.
Empreender na crise
Estes planos audaciosos das marcas, que não foram suspensos nem durante o agravamento da crise do coronavírus, puderam seguir conforme ou além do planejado por conta da própria situação de muitos brasileiros que foram demitidos de seus empregos desde o ano passado.
Para muitos deles, voltar a ter uma carteira assinada se tornou algo difícil de acontecer, e o caminho encontrado foi o empreendedorismo. E a escolha de uma franquia é vista como ideal para quem não quer arriscar ao começar um negócio do zero.
Embora as redes tenham tido uma queda de 35% no faturamento e de 5% na quantidade de lojas em operação segundo o Instituto Foodservice Brasil (IFB), a procura por franquias teve um aumento de 6,5% de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
“No cenário de expansão, muita gente perdeu o emprego, então vejo que vai ser um ano muito forte de empreendedorismo. E empreender num formato de franquia é muito mais seguro”, afirma Luciana Melo.
Com a vantagem de que as próprias redes fazem toda a capacitação necessária dos candidatos a franqueados que passam pelo crivo das marcas. Para Lucas Moreira, as franquias com operações mais simples e fáceis se mostram ainda mais atraentes para quem está começando a empreender agora.
“A Splash, por exemplo, tem um conceito prático de alimentação, não tem cozinha, o que já é uma boa oportunidade para quem quer empreender. Ela não tem a complexidade de operar com preparo de alimentos ali, de licenças sanitárias, é muito mais fácil”, conta.
A logística de operação em meio à crise também torna as franquias mais atraentes, já que as redes conseguem negociar melhor com os fornecedores e testar modelos de negócios mais rapidamente. O investimento necessário para a abertura de uma unidade também se mostra mais atrativo no final das contas, muitas vezes dispensando a criação de layouts próprios ou mesmo protótipos dos produtos que ainda não se sabe se serão atraentes ao público.
Nas redes citadas na reportagem, há unidades custando de R$ 150 mil a R$ 500 mil dependendo do tamanho e do formato de operação.
Fonte: Gazeta do Povo