A Lojas Renner, varejista de moda que apresenta o melhor desempenho entre seus pares, apresentou resultados abaixo das expectativas de analistas no primeiro trimestre do ano. E informou ver no mercado um cenário de “reduções de preços fora da realidade”, que podem colocar em risco o futuro de parte das varejistas de moda.
“A queda de preços no mercado foi irreal. Vemos pequenos e médios varejistas já fazendo liquidação de inverno. Tem até varejista grande vendendo calça jeans a R$ 29. A matemática que estudei não tem explicação para isso”, afirmou José Galló, presidente da Renner, em teleconferência para analistas de mercado.
O executivo observou que parte das varejistas teve vendas fracas no Natal de 2015 e agora vende os produtos a preços muito baixos, para tentar gerar caixa. “Isso acaba destruindo o futuro das companhias. Nos últimos dez a 15 anos, não me lembro de ter visto um primeiro trimestre tão promocional e muitas dessas promoções são irrealistas. Isso descapitaliza as empresas. Provavelmente essas empresas não vão acabar bem”, afirmou Galló.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação de vestuário medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) foi de 1,56% no acumulado de janeiro a abril, ante uma inflação geral de 3,32%. As vendas de vestuário no primeiro bimestre caíram 12%, contra uma queda no varejo restrito de 7,6%.
Mesmo não tendo feito muitas promoções, a Renner também sofreu o impacto dessa disputa mais acirrada entre as varejistas de moda. No primeiro trimestre, a Renner enfrentou problemas com fornecedores de vestuário no Brasil porque, devido à oferta escassa de produtos, algumas varejistas começaram a oferecer preços muito altos pelas peças de vestuário para garantir algum estoque.
“Como havia um cenário recessivo, os fabricantes nacionais imaginaram que haveria queda nas vendas e não avaliaram a substituição de importações. Temos confecções que se prepararam para uma demanda 8% menor no ano e estão hoje com uma carteira de pedidos 38% maior que sua capacidade de produção”, afirmou Galló. Ele acrescentou que a Renner reforçou as encomendas com parte das confeçcões e fornecedores novos e espera ajustar a oferta de produtos até o fim do segundo trimestre. A Renner trabalha com cerca de 120 fornecedores locais de vestuário.
A varejista também informou que enfrentou atrasos no recebimento de peças de vestuário importadas. Esses problemas, somados a erros na coleção – com poucas opções de roupas leves para enfrentar o outono quente no Sudeste e Sul do país – levaram a Renner a fechar o primeiro trimestre com queda de 10,5% no lucro líquido, para R$ 65,5 milhões. A receita líquida cresceu 6,3%, para R$ 1,247 bilhão. Analistas previam crescimento de 10% na receita e queda no lucro entre 2% e 6%.