Para Anamaco, proibição de abertura dos pontos de venda ameaça futuro de lojistas que não possuem presença digital nem fluxo de caixa suficiente
Por Fabiana Futema
O Estado de São Paulo possui 35 mil lojas de material de construção, segundo a Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção). Por conta das novas restrições da fase emergencial de combate ao coronavírus, elas estão proibidas desde ontem (dia 15) de abrir as portas. As vendas só podem ser feitas por delivery ou drive-thru.
“Não estamos falando de marcas como Leroy Merlin, Telhanorte, Sodimac ou C&C. Para elas, fechar 15 dias não é problema. Elas avisam os fornecedores que vão atrasar os pagamentos, pois têm força para negociar. Mas o pequeno não consegue bater de frente”, afirma Waldir Abreu, superintendente da Anamaco. “Os pequenos vão se arrebentar.”
Para a Anamaco, não faz sentido o setor ter sido impedido de funcionar com portas abertas. “Não causamos aglomerações. Ninguém acorda de domingo e pensa: hoje vou passear na loja de construção. Elas passeiam no shopping. Na loja de material, elas vão porque precisam. Ninguém vai passear para ver privada, piso e revestimento”, afirma Abreu.
Veja abaixo entrevista com o superintendente da Anamaco:
Como vocês receberam a decisão de fechamento das lojas?
Waldir Abreu – Para nós é difícil entender por que uma atividade que foi classificada como essencial por um decreto federal passou a enfrentar esse tipo de restrição. Ninguém vai passear na loja de material de construção. As pessoas vão por necessidade.
Quem é que vai sofrer mais com esse tipo de restrição?
São os pequenos e médios, esses vão se arrebentar. Para marcas como Leroy Merlin, Telhanorte, Sodimac ou C&C, fechar 15 dias não é problema. Elas avisam os fornecedores que vão atrasar os pagamentos, pois têm força para negociar. Mas o pequeno não consegue bater de frente. Se ele parar de pagar, fica com o nome sujo, perde crédito e o fornecedor para de entregar para ele.
E lá na frente, quem vai se prejudicar é o consumidor. Porque se os pequenos quebrarem, o mercado vai ser dominado pelas grandes redes. Isso vai reduzir seu poder de negociação na hora de comprar. E no dia a dia, quem salva o consumidor é a loja do bairro, não é o home center. Vamos perder um monte de lojinhas e ficar a mercê das grandes redes.
E o que poderia ter sido feito? Não tem tido aglomeração?
Poderia ter restringido a operação, não mandar fechar. Se você parar para olhar bem, tem pico de gente em supermercado, em farmácia. Algumas reportagens mostraram home centers lotados às vésperas do fechamento do setor. Não é típico esse tipo de situação, nosso setor não tem esse perfil.
E como anda o ânimo do comerciante de material de construção?
Está péssimo. Nós ajudamos a desenvolver um indicador da FGV e o otimismo do setor nunca esteve tão ruim. Se fevereiro foi um mês ruim, março será pior ainda. No nosso setor, o ano só começa em fevereiro.
Estamos no Brasil, a renda e capacidade de compra caíram absurdamente. Temos incertezas com relação ao avanço da covid-19 e há essa demora com a vacinação.
O delivery e o drive-thru não são alternativas para o setor?
Não tem delivery. O pequeno pode até fazer, mas isso não vai sustentar a loja dele. E a logística é a insônia do setor de construção. É uma logística cara, pesada, ruim. Se o consumidor receber um material errado, ele não devolve uma caixa, devolve o lote inteiro.
Vocês têm algum plano B?
Vamos voltar a nos reunir com representantes do governo de São Paulo. Porque o governo continua recebendo imposto, não abriu mão de nada. E nosso setor é importante para a economia, não pode se desorganizar.
Fonte: 6Minutos