A forma como as pessoas trabalham e consomem produtos e informações mudou com a pandemia e a necessidade de isolamento social. No entanto, especialistas acreditam que muitas dessas mudanças já estavam previstas para acontecer e só foram aceleradas. As principais delas são o regime de trabalho de casa (o chamado “home office”); o consumo de conteúdo e entretenimento on-line e a redução das compras.
O assunto foi tema do debate “Haverá mudanças no consumo? Como acontecerá nas diferentes classes sociais”, promovido pela XP Investimentos no evento Expert, que reuniu Melissa Vogel, presidente da Kantar Ibope Media, Murilo Gun, fundador da Keep Learing School e Daniela Falcão, diretora da Globo Condénast.
Para eles, o avanço da tecnologia foi fundamental para que o mundo se adaptasse ao cenário de isolamento, onde a maioria das pessoas conseguiu continuar com sua rotina de casa, não só trabalhando como consumindo conteúdos de entretenimento, educação e informação online. O êxito dessas adaptações mostrou que muitos hábitos e gastos devem sofrer mudanças permanentes.
Para Melissa Vogel, da Kantar, o isolamento trouxe uma quebra de paradigmas que deve nortear os comportamentos das pessoas daqui para frente. “Pessoas que nunca compraram pela internet, compraram pela primeira vez. Quem nunca havia ouvido um podcast, ouviu pela primeira vez. E a tecnologia ajudou nisso. Hoje, o Zoom melhorou suas reuniões, as operadoras de telefonia abriram canais de TV para os consumidores, os serviços de delivery deram espaço para o pequeno negócio”, afirma.
Daniela Falcão, da Condénast concorda que as mudanças devem ser permanentes. “O home office é algo que chegou para ficar. As lives também não devem acabar quando esse processo de flexibilização aumentar. E termos de moda, por exemplo, estamos falando de coisas mais confortáveis e isso deve ser uma nova constante”, afirma. Para ela, “quem não era digital terá que ser”, já que esse processo é irreversível.
Murilo Gun, da Keep Learning School, concorda com a afirmação. Ele conta que precisou adaptar seu modo de trabalho. “Antes, eu fazia muitas palestras, quando começou o isolamento pensei no que aconteceria e aí começaram a surgir a demanda por palestras online e hoje acredito que eu consigo fazer um trabalho melhor à distância”, afirma. Ele destaca ainda que essa mudança desencadeará outras alterações, como a diminuição de viagens de negócios, por exemplo.
Gun ainda afirma que é possível que a sociedade entre em uma constante de redução de consumo. “O futuro é consumir menor. A gente sempre fala das novas coisas que as pessoas vão comprar, mas eu acho que desapego agora é a palavra-chave”, afirma.
Falcão concorda que o cenário está ensinando as pessoas a consumirem menos, até por questões ambientais, mas ela destaca que essa mudança deve ser gradual. “Vai ter uma mudança radical no consumo, sim. Mas não será igual para todo mundo, em todos os lugares. Já era uma causa urgente o fato de não podermos continuar consumindo como consumíamos, mas deixávamos de lado. Agora, o elefante branco está na nossa sala e virou algo urgente”, afirma.
Segundo os especialistas, há ainda uma tendência de maior “cobrança” das marcas pelos consumidores. Para eles, as marcas precisarão se posicionar em temas importantes e, principalmente “mostrar coerência”.
Fonte: Valor Invest