A crise do coronavírus provocou uma forte turbulência nas empresas e nas pessoas. Nas últimas semanas, todo o mundo precisou se adaptar a uma situação inédita de restrições globais à movimentação de pessoas e fechamento de negócios. O resultado foi uma aceleração incrível na transformação digital das empresas e mudanças que farão o mundo pós-Covid ser muito diferente do que tínhamos antes.
Ainda vivendo o meio dessa jornada rumo ao futuro pós-pandemia, é hora de buscar uma agenda mais positiva, identificando oportunidades e criando condições para aproveitá-las. Empresas tradicionais podem acelerar a digitalização de suas culturas parra continuar próximas de seus clientes, enquanto as companhias vindas do mundo digital têm um forte incentivo à adoção de uma agenda de melhoria de processos e ganho de produtividade. O resultado de tudo isso? O jogo embolou e quem tiver mais visão e gana estará na frente quando esta crise for vencida.
Na manhã deste sábado (18/04), Alberto Serrentino e Eduardo Terra, sócios da BTR-Varese, fizeram uma live com Marco Stefanini, CEO global e fundador da Stefanini, uma das maiores empresas de TI do Brasil, com presença em 41 países e mais de 24 mil colaboradores em todo o mundo. Na pauta, a visão do executivo sobre os efeitos da pandemia sobre os negócios globais e sobre as oportunidades que a tecnologia pode gerar neste momento de crise.
A live está disponível no canal da BTR-Varese no YouTube. Confira os principais destaques:
Diferentes culturas, diferentes respostas
Com operações em 41 países e 70% de seu faturamento gerado fora do Brasil, a Stefanini é uma das poucas empresas brasileiras a vivenciar este momento desafiador a partir de uma perspectiva global. Com isso, foi capaz de acompanhar a evolução da doença, preparar suas operações em todo o mundo e identificar como suas equipes em diferentes regiões reagiram de forma diferente à pandemia.
“O chinês é um povo com muita iniciativa que faz seu trabalho sem estardalhaço”, conta Marco Stefanini. “Eles fizeram um lockdown completo, muito rígido, mas por um espaço de tempo curto, e depois voltaram ao normal. Nossa operação no país está em cidades mais ao norte, que não estavam no epicentro da epidemia. Mesmo assim, a resposta foi rápida e decisiva”, comenta.
Quando a crise avançou para a Europa, apareceu um outro padrão de comportamento. “Temos o grosso de nossas operações na região no Leste Europeu. Lá, o lockdown foi feito por etapas, com planejamento. Temos uma infraestrutura muito robusta na Europa e nossas operações foram pouco afetadas”, comenta. Os Estados Unidos têm um perfil semelhante e, com isso, atacaram o problema com base em planejamento, uma vez que se percebeu a gravidade da crise.
Brasil e América Latina têm menos infraestrutura, mas a proatividade das equipes chama a atenção. “Sem uma ordem expressa de cima, em uma semana 80% das pessoas estavam em home office. Foi tudo muito rápido e as soluções foram sendo encontradas de forma criativa”, diz Stefanini.
Revolução em quatro fases
Para o executivo, a crise do coronavírus forçou uma mudança nos padrões de negócios que pode ser resumida em quatro fases. A primeira aconteceu no momento inicial, em que a ameaça de interrupção dos negócios forçou grande parte da população a trabalhar em home office. “Foi uma mudança incrível em pouquíssimo tempo”, diz. O segundo momento foi o de estabilizar a operação e passar a rodar o dia a dia em um cenário diferente. Comitês de crise foram importantíssimos neste momento, mas aos poucos a operação começa a fluir de acordo com a nova realidade dos negócios.
A terceira fase, que é a que a maioria dos negócios está vivendo, é a business as usual. “As empresas, bem ou mal, entraram em um cenário de estabilidade, em que podem ter alguma previsibilidade. Agora é a hora de manter o caixa, reduzir custos e administrar o cenário”, explica.
A quarta fase, importantíssima para o pós-crise, é a definição dos projetos futuros. Para Stefanini, as empresas já precisam estar atentas ao que fazer assim que as restrições forem levantadas. “Abra um tempo no seu dia, dê foco ao futuro. Use de 20% a 30% de seu tempo para estruturar novos projetos”, explica. Isso não significa, porém, desperdiçar energia. “Agenda digital não é ter 35 projetos ao mesmo tempo. Escolha dois, três, no máximo cinco projetos, e teste muito. Erre, aprenda, acerte, melhore, e então, quando tiver encontrado uma boa solução, escale para todo o business”, recomenda. Este é um momento em que existe mais liberdade para experimentar. Aproveite!
Uma nova agenda de transformação
Um dos grandes efeitos do isolamento imposto pela quarentena é a mudança de mindset nas empresas e nos consumidores. Para Stefanini, a aceleração da transformação digital é uma realidade consolidada. “Temos visto grandes quebras de paradigma nas pessoas e nas empresas. Quando imaginaríamos ter quase 25 mil pessoas trabalhando de casa em 41 países, e tudo funcionando, boa parte até com uma performance melhor que no escritório? É impressionante”, afirma o executivo.
Para Marco Stefanini, passado o furacão da virada para a nova realidade dos negócios, é hora de trabalhar em uma agenda dupla. “Não se pode descuidar da agenda do dia a dia, pois os impactos são profundos nos negócios e na vida das pessoas. Ao mesmo tempo, é preciso cuidar de uma agenda de médio prazo, de transformação nos próximos dois a três meses”, recomenda. Para ele, é hora de acelerar ainda mais a transformação digital dos negócios.
Lições para todas as empresas
Stefanini acredita que este momento de mudanças traz lições importantes para todo tipo de empresa. Para ele, é possível definir três situações diferentes:
- Empresas que já nasceram digitais: para elas, o desafio é deixar de lado o mindset de queimar dinheiro para ganhar mercado e ter mais eficiência operacional. “Nada como uma crise para a gente repensar as coisas e fazer melhor”, comenta.
- Empresas em estágio intermediário de maturidade digital: quem já tem experiência com o digital, já analisou, testou, obteve erros e acertos, deve acelerar o ritmo de transformação. “Planejamento é essencial. Invista parte do seu tempo para identificar e aproveitar as oportunidades que surgem”, recomenda.
- Empresas com mindset analógico: nesses casos, é preciso quebrar paradigmas e preconceitos. A melhor forma de fazer isso, segundo Stefanini, é acelerar a adoção do modo digital de inovar. “Faça MVPs em setores essenciais do negócio, encontre novas maneiras de fazer as coisas, veja o que funciona e quando acertar, escale rapidamente para estimular a transformação do negócio”, explica.
Um jogo mais equilibrado
“A gente sempre acha que a grama do vizinho é mais verde que a nossa. Por isso, a primeira visão das empresas físicas é achar que as startups são privilegiadas por não ter que carregar um legado e estarem capitalizadas”, diz Stefanini. Mas nem tudo são flores. “Não podemos esquecer que as startups não costumam ter algo que vale ouro: o cliente”, lembra.
Para o executivo, nestes próximos meses o jogo fica mais equilibrado, pois as startups precisarão ser mais eficientes para passar pela crise. “Isso vai dar tempo para que as empresas do mundo físico reajam, pois elas já têm o relacionamento com os clientes. O maior obstáculo para a transformação do negócio era o mindset. Esta crise está forçando a mudança do perfil, e isso é muito positivo”, acredita.
Confira aqui a íntegra da live de Eduardo Terra e Alberto Serrentino com Marco Stefanini.
Fonte: BTR Varese