Joint venture entre Femsa e Raízen planeja abrir um mercado de proximidade por dia até o fim do ano
Por Mônica Scaramuzzo e Manuela Tecchio
Ficou difícil transitar pelo centro de São Paulo sem esbarrar num Oxxo. Na Consolação, só entre a estação Paulista do metrô e a República, há quatro unidades. O ritmo acelerado de inaugurações virou meme nas redes sociais. “Medo de voltar para casa e ela ter se transformado numa loja Oxxo”, diz um post no Twitter. Marketing gratuito para a rede, que entrou na brincadeira: “Uma esquina! Me solta. Vou inaugurar”, publicou a empresa. Desde 2020, foram abertos 116 pontos do mercado de proximidade na capital e no interior paulista.
E não vai parar por aí. Os planos de expansão do grupo Nós, uma joint venture entre Raízen e Femsa que controla a marca e também a loja de conveniência Select (dos postos Shell), são bem ambiciosos. Até o fim do ano, a companhia quer abrir uma loja por dia. A previsão para o ano fiscal 2022/23 (de abril a março) é inaugurar 202 novos mercados Oxxo. O grupo não divulga o total de investimento feito até o momento.
Ainda não é o suficiente para incomodar as marcas líderes Pão de Açúcar Minuto e minimercado Extra, Carrefour Express e o Dia. Por enquanto. “A gente vê potencial de replicar o conceito do México no Brasil”, diz ao Valor o presidente do grupo Nós, Rodrigo Patuzzo.
A estratégia do Oxxo é justamente essa. São lojas compactas, com cerca de 80 m², e os pontos são todos alugados. Em cada unidade, o sortimento muda, de acordo com o perfil consumidor de cada região. Os pontos oferecem padaria, frutas, verduras e legumes, além de bebidas, incluindo alcoólicas, uma pequena mercearia e comida pronta para consumo local e retirada.
“Vamos abrir lojas perto da casa e do trabalho do nosso consumidor, além de regiões próximas a metrôs e terminais de ônibus”, conta. “A gente quer proporcionar uma parada única para atender as necessidades do cliente.”
Esse conceito foi trazido das lojas da Femsa no México, com cerca de 21 mil unidades naquele país. “O México tem uma população de 130 milhões de habitantes. No Brasil, são 212 milhões. Lá, tem cerca de 1 milhão de unidades de lojas de proximidade. Ou seja, o potencial de expansão no Brasil é enorme”, diz Patuzzo.
O conceito de varejo de proximidade tem crescido no país e já movimenta R$ 3,15 bilhões, um crescimento de 63,2% em relação aos últimos cinco anos, de acordo com a Euromonitor.
Para Eduardo Yamashita, diretor de operações da consultoria Gouvêa Ecosystem, o varejo de proximidade precisa de um alto número de lojas para ser viável economicamente. “Como tem um custo maior por metro quadrado, é natural esse movimento de várias inaugurações. Não adianta ter pouca loja”, diz. O grande desafio no Brasil, explica, é a adaptação e mudança de hábito do consumidor. “É um formato muito novo. O brasileiro ainda não entende a loja de conveniência fora de posto de combustível.”
Segundo o consultor, o Oxxo está tentando mudar esse conceito ao trazer um modelo que opera com sucesso fora do Brasil. É a loja de compra de emergência, para reposição. Aqui, o principal rival não são as lojas de proximidade das grandes varejistas já instaladas no país, mas as vendinhas de bairro. “A grande vantagem do Oxxo é todo o know-how que eles estão importando dessa operação do México. Nenhum operador no Brasil hoje tem esse conhecimento.”
Depois de testar o modelo de negócio em Campinas, quando inaugurou sua primeira loja em dezembro de 2020, o grupo Nós começou a explorar o centro de São Paulo. Nessa primeira fase, o foco de crescimento do Oxxo será concentrado no mercado paulista para, só depois, ser replicado em outras regiões. “Nossa meta é estar em todas as capitais do país e principais cidades da região metropolitana. Já temos tudo mapeado para a nossa expansão”, conta.
O ritmo será parecido com a rede de lojas de conveniência Select. Essa categoria conta com 1.200 unidades franqueadas e 48 unidades próprias. No conceito de conveniência, o formato das lojas instaladas nos postos de gasolina vende produtos de tabacaria, bebidas geladas e snacks. No Oxxo, os preços são mais competitivos para tirar espaço da concorrência.
“No Brasil, (o segmento de mercado de proximidade) ainda não é maduro. É bem fragmentado, ocupado por poucos operadores independentes”, diz o consultor Alberto Serrentino. De acordo com ele, esse conceito ainda está mais concentrado na capital paulista. No Rio, diz ele, a rede Zona Sul ocupa esse papel. “Existem outras iniciativas de redes regionais no Brasil, mas ainda há muito espaço (para avançar)”, afirma, argumentado que as pessoas estão consumindo mais em proximidade.
No ano fiscal 2021/22, o faturamento da rede de franquia Select atingiu R$ 1,7 bilhão. Nessa categoria de lojas de conveniência, as líderes são as marcas AMPM (do grupo Ultra), Select (Shell) e BR Mania (da Vibra) – o segmento tem receita de R$ 5,5 bilhões, já excluídos os impostos, uma queda de 2,7% sobre 2016, de acordo com a Euromonitor.
Já o faturamento das operações próprias da Select (48 lojas) e Oxxo, que são computadas juntas, atingiu cerca de R$ 130 milhões no ano fiscal passado, diz Patuzzo. Para 2022/23, a estimativa é que a receita salte para R$ 550 milhões. Até março do ano que vem, outras 48 lojas Select serão inaguradas.
No terceiro de operação, a expectativa é superar 720 unidades, boa delas Oxxo. “O nosso plano original era de 500 unidades”, explica Patuzzo.
Assim como opera na Select, o grupo Nós também prevê abrir unidades franqueadas da marca Oxxo já nos próximos meses no país. Hoje é tudo operação própria. “O Brasil é um dos maiores mercados de franquias do mundo”, diz. O investimento por unidade (uma média entre o que é gasto para estruturar a loja Select e o Oxxo) fica em torno de R$ 500 mil.
O mercado digital também está no foco da Oxxo. O grupo tem investido nas “dark stores” (estruturas que armazenam produtos). Para o executivo, o modelo futuro do negócio será “fisital” (mercado físico e digital).
“A gente não precisou construir marca. O dinheiro foi aplicado para estruturar a loja e contratar pessoas. A construção da marca está sendo de forma viral”, diz Patuzzo. Os memes no Twitter ajudam a comprovar.
Fonte: Valor Econômico