Em todo o mundo, redes varejistas estão trabalhando para colocar as pessoas no centro de suas estratégias
Por Redação
Com um cadastro prévio no aplicativo, clientes da Amazon Go já podem escolher seus produtos, colocar na sacola e ir embora, aguardando apenas a cobrança em suas faturas de cartão de crédito, sem maiores preocupações e sem filas nos caixas.Toda a cobrança é feita graças às câmeras instaladas na loja, que realizam o reconhecimento dos usuários e das mercadorias, e o escaneamento de QR Codes por meio dos smartphones. E não é só a Amazon que está desenvolvendo alternativas para digitalizar as compras dos itens essenciais. Diversas startups estão de olho nessas tendências, como é o caso dos supermercados. Atualmente, nada menos que 644 startups estão atuando no nicho do varejo em nosso país, segundo o Distrito Retailtech Report 2020. Essas empresas têm como missão inovar para melhorar os processos internos dos estabelecimentos e oferecer aos consumidores mais conveniência.
De acordo com Fernando Lauria, CEO da Pricefy by Selbetti, startup acelerada pelo InovAtiva Brasil, as redes varejistas do mundo todo estão trabalhando para colocar as pessoas no centro de suas estratégias.E por pessoas devemos entender não apenas o cliente, mas também funcionários, fornecedores e fabricantes. “É preciso ter uma visão ampla e, ao mesmo tempo, focada no papel de cada um na cadeia de negócios”, defende.
E quando se fala em tendências internacionais, todas elas caminham nessa mesma direção, com muitas iniciativas interessantes sendo aplicadas por grandes players internacionais. Confira!
1. Eventos e aulas temporárias dentro da loja
O varejista precisa estimular e manter o cliente dentro da loja o maior tempo possível. Uma reportagem do The Wall Street Journal apontou que varejistas que investiram em fazer com que o shopper demorasse em suas lojas viram suas vendas crescerem entre 20% e 40%. Os supermercados aprenderam a lição e estão criando experiências e eventos temporários (pop-up experiences), como aulas de culinária, para impulsionar o fluxo de pessoas dentro da loja e estimular o engajamento. Esse tipo de iniciativa também pode abrir caminhos para parcerias, combinando duas marcas e dois conjuntos de recursos para criar uma experiência exclusiva.
2. Uso de dados analíticos para oferecer experiências personalizadas ao consumidor
Por meio de uma parceria com a Microsoft, a rede americana de supermercados Kroger começou a usar análises e informações avançadas obtidas através de programas de fidelidade para prever o que os clientes podem querer. Fez um teste em uma de suas lojas e converteu mais da metade das prateleiras em displays digitais, que se iluminam quando o cliente está próximo a um item que faz parte da sua lista de compras no app do supermercado. Acima dos corredores, sensores rastreiam o que o cliente está comprando e sinalizam produtos fora de estoque para que possam ser repostos rapidamente pelos funcionários. Um software de inteligência artificial prevê o perfil de cada shopper — idade e gênero — para ajudar a entregar anúncios sob medida e recomendações personalizadas sobre produtos.
3. Conceito híbrido “compras e alimentação”
Mais marcas de supermercados estão explorando novos conceitos que combinam compras e alimentação. No Reino Unido, o Waitrose lançou um super-restaurante no estilo club em unidades selecionadas. O cliente pode reservar uma mesa e provar menus especiais desenvolvidos por chefs locais utilizando produtos disponíveis na loja.
Conforme o varejista explora o valor dessas novas experiências dentro da loja, se vê operando além dos limites do varejo e se diversificando em direção à hospitality (relacionado ao setor hoteleiro) e gestão de eventos. Para isso, precisa ter claro o conceito da marca, um bom conhecimento da sua base de clientes e uma plataforma tecnológica que permita administrar tudo isso de forma centralizada — do varejo para alimentos e bebidas e eventos e aulas com vagas limitadas.
4. Descoberta de produtos
No artigo The future of grocery shopping, a revista Forbes prevê que o mercado do futuro mostrará as mais recentes tendências em saúde, ingredientes, pratos e estilos culinários. O objetivo? Ajudar os clientes a encontrar os alimentos que quiserem e oferecer inspirações conforme eles fazem compra.
Os supermercados estão experimentando com codificação por cores, displays que geram empolgação e áreas especiais que reúnem certos alimentos, ou mergulhando em uma tendência corrente, como a promoção de pratos saudáveis para a família, comidas de festa ou refeições veganas, por exemplo, para ajudar os clientes a descobrirem novos produtos.
Lojas também estão tentando a sua própria versão de kits de refeição, com os clientes podendo pegar todos os componentes de um prato de uma só vez. Na Islândia, a rede de supermercados Krónan oferece tudo que o cliente precisa para fazer uma receita saudável toda semana. A receita impressa e todos os ingredientes do prato podem ser pegos em geladeiras espalhadas pela loja.
Numa parceria com a Microsoft, o Kroger desenvolveu o EDGE, uma solução baseada na nuvem para prateleiras de lojas de varejo que exibe dados nutricionais e relacionados a alergias.
5. Sustentabilidade
Na Europa, mais e mais mercados estão oferecendo uma maneira mais ecológica de fazer compras, vendendo alimentos sem embalagem, num esforço para reduzir o dano causado pelo plástico no meio ambiente. O cliente traz seu próprio recipiente de casa e simplesmente pesa a mercadoria que deseja comprar. Embora a iniciativa seja de lojas independentes, empresas maiores estão explorando a ideia de vender produtos sem embalagem. Em 2018, em Amsterdam, nasceu o primeiro corredor de supermercado livre de plástico, onde o consumidor pode encontrar mais de 700 produtos livres deste tipo de embalagem.
Segundo Lauria, ações como a automação de processos, que é uma necessidade urgente no setor, e a forma como temos explorado e ajudado os clientes a melhorar constantemente no país, devem ficar no radar dos supermercadistas para o enriquecimento e tratamento de dados, pois são melhorias que ocorrem quando estão em conjunto. “Sem isso, não adianta o uso de ferramentas ou analisar indicadores, que todo e qualquer segmento estará ‘navegando em mares desconhecidos’. É necessário realizar um acompanhamento muito próximo do consumidor, na loja, pessoalmente — isso faz toda a diferença no momento da compra. Assim como preparar o ambiente para que ele tenha uma experiência completa, queira voltar e, principalmente, se torne um promotor da marca. O segredo é transformar o ponto de venda em um verdadeiro ponto de experiência!”.
O especialista ainda alerta que essas tendências têm tudo para dar certo no Brasil. “Vai depender de diversos fatores, começando pela retomada da economia. Mas, sem dúvida, o supermercadista que conseguir uma boa gestão do dia a dia, ao mesmo tempo que pensa em inovações, estará à frente e poderá, daqui a um tempo, se beneficiar frente à concorrência”, finaliza.
Fonte: Super Varejo