Em edição virtual, maior evento de varejo do mundo destaca o papel estratégico das práticas ESG na construção de empresas mais fortes
Por Renato Müller
Por muito tempo, sustentabilidade foi um tema praticamente ignorado no varejo. Hoje, não mais: o posicionamento ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) das empresas é uma fonte importante de inovação, de uma imagem positiva em relação aos clientes e de aumento de performance. Na NRF 2021 – Chapter One, que acontece virtualmente até sexta-feira, a sustentabilidade se consolidou como uma força estratégica para o crescimento do varejo.
Para alguns varejistas, a pandemia, em vez de impedir o desenvolvimento de ações sustentáveis, foi um impulso adicional. “Com a Covid-19 vieram mudanças sem precedentes nos negócios e, para nós, incorporar a sustentabilidade aos nossos negócios é chave para uma recuperação rápida desta crise”, afirma Abigail Kammerzell, Gerente de Sustentabilidade da rede de vestuário H&M nos Estados Unidos. “Com a pandemia, vimos que precisávamos avançar ainda mais rápido nas nossas iniciativas, porque os consumidores passaram a dar ainda mais atenção ao impacto socioambiental de nossas ações”, afirma.
Atualmente, cerca de 50% dos produtos da H&M contam com tecidos orgânicos, reusados ou reciclados, e a meta é chegar a 100% até o fim da década. Para alcançar esse objetivo, é preciso envolver toda a cadeia de suprimentos. “A pandemia deixou muito claro que todos somos interdependentes. E, da mesma forma como nossa supply chain é essencial para nos recuperarmos rápido do impacto da crise, precisamos andar junto com nossos fornecedores e parceiros para acelerar nosso grau de sustentabilidade”, comenta.
Para a executiva, não é possível falar em sustentabilidade sem atacar questões de equidade e justiça social. “Ser sustentável é querer um futuro melhor, e isso passa por condições melhores e mais equilibradas de trabalho para as mulheres e para minorias subrepresentadas”, analisa. “Dessa forma, as famílias podem ter melhores condições de vida”, diz.
Para Abigail, para que a sustentabilidade realmente seja incorporada nas empresas, é preciso mudar o foco. “Colocamos a sustentabilidade dentro da H&M não como um tema separado, mas como uma parte importante de todas as facetas do negócio. Assim, nosso foco no cliente carrega sustentabilidade, as relações na cadeia de suprimentos também, e assim por diante”, conta.
Para Jennifer Keesson, Gerente de Sustentabilidade da rede de móveis IKEA nos Estados Unidos, a sustentabilidade também deve ser parte do design dos produtos. “Temos que pensar, por exemplo, em móveis multifuncionais, que sirvam a diferentes finalidades dentro de uma casa em que as pessoas agora passam o dia inteiro. Para isso, os produtos precisam ser mais sustentáveis, por definição”, afirma. Incorporar sustentabilidade ao design acaba levando a IKEA a pensar no que será dos móveis no fim de sua vida útil, o que levou à criação de um novo negócio: vender produtos de segunda mão. “Este é só um exemplo de como é possível incorporar com sucesso a sustentabilidade a uma mentalidade de geração de resultados financeiros”, explica.
Um roadmap sustentável
As ações ESG também estiveram na pauta da NRF 2021 – Chapter One na semana passada. “Os consumidores estão de olho no impacto de cada empresa sobre os recursos naturais”, disse Ron Jarvis, Chief Sustainability Officer da rede de materiais de construção Home Depot. E isso é algo que depende de um esforço de toda a empresa. “Assim como acontece com a transformação digital, precisa ser liderado pelo C-level das empresas, mas tem que envolver toda a companhia, com múltiplas vozes e olhares. Um programa de sustentabilidade só funciona se for uma prioridade estratégica ligada aos resultados do negócio e envolver todos os stakeholders da empresa”, explica Dave Kimbell, presidente da rede de cosméticos Ulta Beauty.
Para eles, as práticas ESG precisam:
- Criar um conjunto de boas práticas, especialmente se sua empresa for líder de mercado;
- Contar com o apoio do C-level das empresas;
- Definir um plano com metas realistas, mas que mostrem comprometimento com progresso contínuo;
- Alinhar as estratégias às metas ESG, e não o contrário;
- Mostrar a tomada de uma posição clara, transmitida de forma inequívoca para fornecedores e clientes;
- Gerar colaboração em toda a cadeia de distribuição, a partir daquilo que é considerado mais importante para os consumidores.
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