Por Isabela Fleischmann | Às vezes um concorrente pode se tornar um aliado. A Daki, que opera um aplicativo de entregas de supermercado, fechou uma parceria comercial com o iFood para operar justamente essa categoria dentro da plataforma da maior empresa de delivery do país.
O novo serviço é chamado de Express by Daki e vai realizar entregas de produtos de supermercado em São Paulo e Belo Horizonte.
A startup disse que “está em vias de introduzir outra modalidade no aplicativo do iFood: a Super by Daki”, uma solução para compras maiores e de reabastecimento, disponível para os clientes na modalidade de entrega agendada.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Daki, Rafael Vasto, afirmou que a empresa conversava com o iFood “desde a fundação da Daki” e que a parceria não envolve troca de ações.
Vasto disse que a parceria é “profunda, e não apenas transacional, e que busca criar uma conta [de taxa de take rate] que faça sentido para ambas as partes”.
Vasto não forneceu estimativas sobre a expectativa de representatividade da nova parceria com o iFood sobre as receitas totais da startup. Mas ressaltou que o acordo é essencial para atrair mais clientes e expandir ainda mais a presença da Daki no mercado brasileiro. A empresa visa atingir o estágio de lucratividade até o final deste ano.
O iFood, por sua vez, disse que a parceria com a Daki segue um modelo comercial, “assim como existente com outros parceiros da frente de mercado do iFood”.
“A Daki entra como vendedora na nossa plataforma para oferecer produtos de mercado para os mais de 43 milhões de clientes ativos no iFood”, disse a plataforma em comunicado.
“Sempre tivemos uma relação bastante próxima. Na essência, a parceria decorre de uma visão conjunta de que a oportunidade de supermercado online é muito grande”, disse Vasto.
Segundo ele, a Daki ataca essa oportunidade ao longo dos três anos em que desenvolveu a tecnologia e a infraestrutura necessária para viabilizar esse ecossistema.
A parceria estratégica acontece depois que o iFood decidiu descontinuar suas operações próprias de supermercado.
“O iFood desenvolveu uma vertical de 1P [modelo em que a própria plataforma vende os produtos] que eles mesmo operavam: tinham estoque e tudo mais. No último trimestre do ano passado, tomaram a decisão de descontinuar essas operações e foi aí que nós assumimos”, disse Vasto.
Ele ressaltou que a parceria não implica integração total das plataformas, com a Daki se mantendo independente.
“A parceria com a Daki reforça nossa posição na frente de mercado, ampliando as opções disponíveis aos nossos clientes, garantindo que eles tenham ainda mais opções de conveniência ao realizar compras de supermercado na nossa plataforma”, disse o iFood em nota à Bloomberg Línea.
Ajustes e confiança dos investidores
No fim de janeiro, a Daki anunciou que recebeu R$ 25 milhões da 4Equity Media Ventures, fundo independente da América Latina no mercado de media for equity. A startup disse em comunicado à época que o montante captado será direcionado para diversas frentes, para que mantenha um inventário always on para suas campanhas publicitárias em diferentes canais.
Em setembro passado, a empresa já tinha recebido um cheque de US$ 50 milhões em rodada Série D liderada pela Convivialité Ventures, braço de investimento da Pernod Ricard, um dos maiores grupos de bebidas destiladas do mundo.
A rodada contou com o apoio do banco suíço Lombard Odier como novo investidor, bem como de outros já existentes, como G-Squared, GGV, Balderton Capital, Greycroft, Tiger Global e Monashees.
A Daki foi fundada em janeiro de 2021 por Alex Bretzner, Rafael Vasto e Rodrigo Maroja, no modelo de dark stores, lojas fechadas ao público com raio de entrega de poucos quilômetros e estoque próprio.
Em junho de 2021, a startup se fundiu com a Jokr, que, em dezembro do mesmo ano, recebeu um aporte que a avaliou em US$ 1,2 bilhão.
No início de 2023, a Jokr, cuja marca comercial no Brasil é a Daki, levantou uma rodada Série C no valor de US$ 50 milhões. O aporte aumentou sua avaliação em US$ 100 milhões para um valor total de US$ 1,3 bilhão, de acordo com o CEO da Jokr, Ralf Wenzel, em entrevista à Bloomberg Línea à época.
O segmento de delivery de alimentos, especialmente para supermercados, ainda está em seus estágios iniciais no Brasil, com uma penetração online significativamente inferior à de outros setores.
É preciso superar desafios logísticos, custos operacionais e resistência dos consumidores em comprar alimentos online, especialmente itens frescos como frutas, legumes e verduras.
A logística é um dos principais obstáculos para a venda digital de alimentos devido à complexidade de armazenar e entregar produtos perecíveis. O desafio é agravado pelo amplo estoque de itens presentes nos supermercados físicos.
O setor de varejo alimentício no Brasil, que tem players puramente de supermercados como GPA (PCAR3) e Carrefour Brasil (CRFB3), e outros do chamado “atacarejo”, caso do Assaí (SAI3), enfrenta um momento desafiador no país diante de taxas de juros mais altas.
Essas taxas, por um lado, aumentam as despesas financeiras das empresas; por outro, reduzem a demanda, especialmente de famílias de baixa renda endividadas.
Fonte: Bloomberg Linea