Empresa de produtos pet busca novas verticais para impulsionar crescimento, como apps de delivery, e quer chegar a R$ 500 milhões em vendas em 2022
Por Isabela Fleischmann
ideia que levou à criação da Zee.Dog em 2012 surgiu muito antes, quando o CEO Felipe Diz fazia faculdade nos Estados Unidos com seu irmão gêmeo, Thadeu Diz, em meados de 2005.
Naquela época, a Skullcandy, empresa de headphones americana, estava em alta. “A gente entrou em uma loja de eletrônicos em Miami e viu pela primeira vez o headphone da Skullcandy. Pensamos ‘que isso! Esses caras enxergaram o futuro da categoria,’” lembra o CEO.
Os irmãos não esqueceram o sentimento de ver os fones da SkullCandy e esse insight os motivou a “Skullcandyzar” um setor “dinossauro”, nas palavras de Felipe: a indústria pet. Não à toa, as logos da Skullcandy e da Zee.Dog guardam algumas semelhanças.
Apaixonados por cachorros, os irmãos não encontravam nos pet shop produtos com os quais se identificassem. Era tudo “commodity”, como os fones preto, branco ou cinza pré-Skullcandy. “A gente tinha adotado o nosso primeiro cachorro nos EUA e passado a ir a pet shops. Então a gente começou a ter um pouco mais de entendimento do que que era o mercado pet. Unindo o nosso amor aos cachorros, a ideia da Zee.Dog foi essa”, explica Felipe, que fundou a Zee.Dog com seu irmão e outro amigos dos dois, o CFO da startup Rodrigo Monteiro.
Em meados de 2011, eles passaram a frequentar roadshows para investidores, e em 2012 receberam o primeiro aporte, de R$ 3 milhões. No ano passado, a empresa captou a segunda e possivelmente última rodada, segundo Diz, de R$ 100 milhões da TreeCorp Investimentos. Com um negócio rentável nas mãos, o executivo não vê a Zee.Dog captando recursos novamente tão cedo, o que indica que o futuro da startup tem dois caminhos possíveis a partir de agora: M&A ou IPO.
Para além do negócio principal da Zee.Dog, de venda de produtos pet por e-commerce, a empresa lançou em agosto de 2019 o Zee.Now, um aplicativo de delivery que teve um boom durante a pandemia, com crescimento de 600% em relação a 2019. A Zee.Dog e a Zee.Now têm apenas 7% do faturamento vindo de lojas físicas.
A receita do Zee.Now passou de R$ 3 milhões em 2019 para R$ 28 milhões em 2020 e deve crescer muito mais em 2021 (pelo menos 300%). Segundo a Neotrust/Compre & Confie, empresa de inteligência de mercado com foco em e-commerce, a categoria pet shop faturou 80% a mais no primeiro semestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado. O e-commerce brasileiro como um todo viu as vendas crescerem 38% no mesmo período.
Presente em mais de 40 países (não só com lojas próprias, mas por meio de parcerias e representantes locais), os negócios da Zee.Dog no exterior foram responsáveis por quase 50% do faturamento de R$ 125 milhões em 2020, e essa participação deve chegar a 60% já no próximo ano. A startup projeta um faturamento total de R$ 250 milhões em 2021 e algo em torno de R$ 400-500 milhões em 2022. A projeção ousada também se baseia na diversificação de verticais. Recentemente, a empresa lançou a Zee.Dog Human, uma linha de roupas para humanos.
Confira abaixo a entrevista com Felipe Diz, CEO e cofundador da Zee Dog:
Isabela Fleischmann – Pensando na Skullcandy e agora na Zee.Dog Human, o design é o que orienta o negócio de vocês, certo? Foi por isso que a empresa passou a mirar o varejo também para pessoas, com o Zee.Dog Human?
Felipe Diz – É engraçado dizer isso mas a gente nunca considerou a Zee.Dog como uma empresa pet. Na nossa cabeça é uma marca de produto como qualquer outra, que poderia ser aplicada a headphones ou a qualquer coisa. Começamos na vertical pet porque era uma paixão nossa e foi onde a gente identificou a maior margem de disrupção, já que só tinha dinossauros (empresas tradicionais) trabalhando.
Design é a essência da Zee.Dog quando se trata de disrupção. Hoje se fala muito de tecnologia, mas a própria tecnologia sem um bom design não é suficientemente disruptiva.
A maior parte da mão de obra da Zee.Dog, inclusive, mais do que desenvolvedor, é de designers. Grande parte dos sócios e diretores da Zee.Dog são do mundo do design. Isso é muito raro de se ver hoje. Design hoje é meio que relacionado a salários baixos. Mas na Zee Dog, não.
Então a Zee.Dog Human é um movimento lateral da nossa paixão por design, é sobre como é que a gente aplica isso em verticais diferentes. Obviamente fazer isso dez anos atrás não fazia sentido por questão de foco, capital de giro e de time. Mas uma década depois, a gente tem massa crítica, know-how [para fazer]. Somos apaixonados por moda. As nossas inspirações vêm muito desse mundo. A gente olha para a Nike, para as marcas de moda street wear ou performance como referência, então foi natural falarmos “vamos fazer coisas para a gente”.
E sempre foi assim na Zee.Dog, a gente sempre criou produto primeiro para a gente, interno mesmo. Um tipo de camiseta que a gente gosta de usar, um tipo de design minimalista que a gente gostaria de ter e no Brasil não se acha muito.
Os investidores perguntam qual é a estratégia. Não tem nada de estratégico nisso. A gente fez de nós para nós como estamos fazendo nos últimos dez anos. E a gente viu que da mesma forma que tinha muitas pessoas gostando da coleira e da guia, do lado pet, tem muita gente agora gostando do moletom, da camiseta, do boné.
IF – Onde vocês fazem tudo isso?
FD – Tudo que é Zee.Dog pet é feito na China. A gente tem quase trinta fábricas parceiras lá. A grande diferença entre a Zee.Dog e a concorrência é que a Zee Dog desenha todos os produtos do zero como a Nike. A gente desenvolve desde a criação, a prototipagem e a gente usa fábricas parceiras da China para produzir.
Já a concorrência vai para a China, pede o catálogo da China, escolhe e coloca o logo em uma embalagem e vende assim.
Já a Zee.Dog Human é tudo Brasil. Não no Rio porque o Rio de Janeiro não tem essas fábricas, mas é feito no Sul, São Paulo e Minas Gerais, porque o Brasil ainda é muito forte quando se trata de malharia. Aqui temos malhas boas, fornecedores bons, fábricas profissionais, uma cadeia de suprimentos por trás que sustenta isso.
Mas do lado pet você não você não encontra. Os componentes que a gente usa, sequer temos maquinário no Brasil para fabricar isso.
IF – Onde vocês têm operação hoje?
FD –Tem muita coisa acontecendo. A marca Zee.Dog está presente em todas as cidades do Brasil, com distribuição em todos os estados. A gente vende a marca Zee.Dog também para 42 países.
A gente tem operação própria da marca Zee.Dog nos Estados Unidos e Europa com galpões e equipe de venda própria.
No Brasil, praticamente todos os municípios carregam a Zee.Dog de alguma forma. É bem democrático em questão de distribuição, de classe A e bairros nobres até C.
O aplicativo de entrega Zee.Now, nosso braço varejista, que entrega não só produtos da Zee.Dog mas também comida, medicamentos para pet, estamos em 11 cidades, mais ou menos. Todo mês adicionamos cidades.
IF – O Zee.Now é como se fosse um Rappi de produtos pet, então?
FD – A Rappi é uma intermediária. Você tem o vendedor e o cliente, a Rappi age simplesmente como um middle man, ela cobra, busca e entrega. A Zee.Now é um modelo diferente, a gente é 100% verticalizado, operamos dark store, carregamos o estoque e a frota é nossa.
É quase como se a gente fosse a Petz (grande rede varejista de produtos pet) e a Rappi em um só.
Só que ao invés de ter megastores eu tenho várias dark stores pequenas, o que a gente chama de hubs, espalhados pela cidade. Compramos o estoque e deixamos lá.
Quando você faz um pedido, esse seu pedido é direcionado para o hub mais próximo do seu CEP. Você nem sabe de onde está vindo, só aparece na sua porta.
Isso foi tudo feito em casa com uma tecnologia própria, a gente programou isso do zero. Na verdade é como se fôssemos uma Petz, com uma VTEX, com uma Rappi tudo junto.
IF – Quantas pessoas vocês têm no time e onde elas estão?
FD – Temos times no Rio de Janeiro, São Paulo, Los Angeles nos Estados Unidos, Madri, onde é nossa sede da equipe na Europa, temos um centro de distribuição na Holanda, e uma equipe em Shenzhen, na China, que faz toda a parte de cadeia de suprimentos, que é a equipe mais antiga. Temos 350 funcionários, mais ou menos.
IF – Vocês já tem uma avaliação de unicórnio?
FD – Cara…Tem. Mas confesso para você que a gente não se importa com o jogo de unicórnio.
A gente não faz o que a gente faz para ter status de unicórnio até porque a gente não precisa dessa coisa de rodada após rodada. É o jogo do capital de risco, você vai fazendo rodada e pega um SoftBank que aumenta o valuation para ele mesma. É uma coisa meio de louco. A gente virou“tanto faz ser unicórnio”. Quanto que vale a Zee.Dog? Quem sabe em alguns anos saberemos.
IF – Vocês pensam em fazer o IPO nos Estados Unidos a curto prazo?
FD – A gente não sabe ainda se nos Estados Unidos ou no Brasil, depende muito do momento. Mas uns dois anos aí, mais ou menos. Tem muita coisa para fazer ainda.
IF – E a ideia é replicar o modelo da Zee.Now nos Estados Unidos também?
FD – Em algum momento sim. Não sabemos quando porque ainda tem muita coisa para fazer no Brasil.
O Brasil serve muito como um tipo de hub de experimentação de tudo que a gente faz. Testamos nossos produtos no Brasil antes de levar para o mundo. Nosso varejo físico que começou aqui no Brasil, também começou a expandir lá para fora e com a Zee.Now não será diferente. É quase como se o Brasil fosse um incubador.
IF – Qual é a meta de faturamento e os objetivos da Zee.Dog para 2021?
FD – A meta deste ano é de R$ 250 milhões, mais ou menos. A gente tem três alavancas aqui dentro da empresa para isso. [A primeira é ] A expansão da Zee.Now. Não perder o ritmo de expansão de quase uma cidade por mês, e talvez fazer um piloto da Zee.Now as a Service.
A segunda é a expansão global, começar a construir uma consciência de marca na Europa. A terceira é a nova vertical de comida pet do grupo.
A gente recentemente comprou uma empresa de nature foods chamada Eleven Chimps e a gente vai aproveitar toda a estrutura fabril deles mas na nova marca chamada Zee.Dog Kitchen. A ideia é [fazer isso] para este ano, outubro e novembro.
IF – O que é o Zee.Dog Temple?
FD – O Zee.Dog Temple é um sonho antigo. É uma flagship store em São Paulo de 600 metros quadrados, quatro andares, um conceito nunca antes visto na indústria pet.
É quase como se fosse assim: se você não entende quem somos, em cinco minutos no templo da marca você entenderá. No subsolo, a gente implodiu a calçada e fez uma coisa maluca, construímos um dog park, meio que no subsolo.
O segundo piso é só de Zee.Dog pet, usando a arquitetura meio solta.
O andar de cima é só Zee.Dog Human, com uma arquitetura completamente diferente do andar debaixo, mas também super maluca. E no quarto piso, o terraço, terá uma operação do The Coffee, startup de café de Curitiba.
Foi feito para ser um templo onde você entende a marca, mas mais importante ainda é um lugar para a comunidade ir, fazer festas, fazer eventos, festas de lançamento.
Vamos lançar um collab com a Stranger Things (série do Netflix) em novembro, a festa de lançamento vai ser no Temple. Coisas malucas que você olha e fala “nada chega perto disso na indústria pet”, mas também no Brasil nada chega perto disso em varejo de forma geral.
A gente só abre oficialmente em outubro. Vamos esperar que a vacinação esteja mais avançada.
Fonte: Labs News