Por Adriana Mattos | A liderança do mercado brasileiro on-line está se consolidando entre Mercado Livre, Shopee e Amazon, nesta ordem, em temos de tráfego, com reflexo direto nas vendas. Trata-se de plataformas controladas por estrangeiros, e que investiram bilhões em logística, tecnologia e sortimento nos últimos anos, exatamente para se “desgarrar” do segundo pelotão.
Ao se somar as três primeiras colocadas, em junho, elas registravam visitação cerca de 5% superior a janeiro, com 787,5 milhões de acessos totais no mês. É como se, a cada hora, quase 33 milhões de visitas de compradores ocorressem nesses sites de marketplaces e “apps” – ou 550 mil por minuto.
As informações, obtidas pelo Valor, constam em relatório mensal, e do acumulado do ano, da empresa de tecnologia Similarweb, uma das principais fontes de dados do setor, com números de acessos de clientes aos sites e aplicativos, em visitas em dispositivos móveis (celulares, tablets) e computadores. O número considera o sistema Android, mas não está incluído na base o tráfego no iOS (da Apple).
Dados de acessos são acompanhados de perto pelo mercado porque quanto maior o tráfego nos marketplaces, maior a possibilidade de conversão e vendas. E voltou a crescer neste ano a batalha por recorrência e frequência dos clientes no on-line, paralelo a uma defesa pela rentabilidade.
O Valor apurou que os rivais da Shopee, em seus cálculos, estimam que a empresa sediada em Cingapura apure uma venda brutal total (GMV, da sigla em inglês), que considera tudo que passa pela plataforma, de R$ 15 bilhões a R$ 18 bilhões no Brasil em 2024. O Magalu teve GMV de R$ 63 bilhões em 2023, alta de 4,8%. Magalu é a segunda maior empresa on-line em vendas no país. O líder Mercado Livre pode chegar num GMV no país neste ano de R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões, apurou o Valor com pessoas a par do tema (tem cerca de 40% do mercado em vendas)
Os líderes em acessos têm se descolado das empresas mais abaixo no ranking. “Hoje, nos corredores de ‘Meli’, se fala basicamente de Shopee, Shein e Amazon. São os que mais crescem e onde a batalha por mercado se concentrou”, diz uma alto executivo da plataforma. Apesar de a Shein ser bem menor que o restante, por ser muito forte em moda, com a frequência que ela gera (quase 82 milhões de visitas ao mês), consegue incomodar os grandes do setor.
Os líderes em acessos têm se descolado das empresas mais abaixo no ranking
Ao longo do ano, é possível perceber que, enquanto Mercado Livre segue isolado, sem maiores ameaças, após uma série de investimentos maciços dos sócios estrangeiros em logística e no Mercado Pago, Shopee e Amazon seguem disputando a vice-liderança.
“A Shopee virou uma espécie de Mercado Livre da Ásia por aqui”, diz Eduardo Terra, sócio-diretor da BTR Retail. “Ela trouxe um volume maior de lojistas nacionais para a plataforma e investiu mais em entrega, enquanto o AliExpress [que está mais abaixo no ranking] ainda é visto como um ‘marketplace cross border”.
Para Vicky Almeida, chefe da área de “insights” da Similarweb na América Latina, o mercado on-line no Brasil ainda tem sites locais com um bom desempenho frente à concorrência estrangeira. “As taxas médias de conversão dos marketplaces brasileiros são competitivas, indicando uma forte performance no mercado interno. Além disso, em categorias com ticket médio mais elevado, como eletrodomésticos, os marketplaces brasileiros ainda recebem a maior parte do tráfego, mostrando a preferência do consumidor local.”
Pesquisa com 12 mil lojistas da Shopee feita em janeiro identificou que 85% dos produtos dos vendedores brasileiros na plataforma são fabricados no país. Em maio, a empresa “virou” para cima da Amazon, indo à vice-liderança, mas terá tarefa difícil de manter isso em julho, quando a gigante americana voltou toda a sua artilharia na campanha promocional do ano, o Prime Day, que teria batido recordes de venda neste ano.
Segundo a Similarweb, Shopee, Aliexpress e Shein, já detém 15,4% do total de acessos no país. Mercado Livre segue com os 14,5%, mas tem tido desempenho mensal mais estável do que a Shopee no ano, o que pode ser reflexo de uma base mais madura de visitações.
Pelos dados, Mercado Livre teve 363,1 milhões de visitas em junho, seguido a uma razoável distância de Shopee (230,5 milhões) e Amazon (193,9 milhões). O Magazine Luiza, com 110,6 milhões de visitas, fica na quinta colocação, depois da OLX (113,5 milhões). A chinesa Temu, do grupo PDD, que entrou no país em junho, com frete grátis em todos os pedidos, ainda não aparece na lista, o que deve ocorrer no próximo estudo.
Trata-se de um levantamento sobre o tráfego por domínio (endereço) do marketplace, sem incluir outros negócios (veja tabela ao lado). O estudo analisa o tráfego dos dois mil maiores sites do Brasil e um total de 18 categorias.
Voltou a crescer neste ano a batalha por recorrência e frequência dos clientes no on-line
No caso do Magalu, como o relatório considera o tráfego no site e “app” da marca, não entram as outras controladas (Kabum, Netshoes, Zattini, Época Cosméticos e Estante Virtual).
Ao se somar esses negócios no Grupo Magalu, o total sobe para 172 milhões de acessos em junho, e ela avança uma posição, para quarto lugar, superando a OLX, mas ainda fica abaixo de Amazon.
Internamente, o Magalu tem outro cálculo. Os seus dados internos, com todas as marcas apontam que ela está na terceira colocação, atrás de Mercado Livre e Shopee, e na frente de Amazon.
Nesse ambiente de concorrência pesada que AliExpress e Magalu anunciaram um acordo, em junho, com a empresa chinesa vendendo na plataforma da brasileira (uma linha específica de produtos) e vice-versa, na tentativa de Magalu atrair mais recorrência na venda, já que os itens duráveis, segmento em que são referência, gera menor frequência de compra do que produtos de baixo valor.
Terra, da BTR Consultoria, diz que é preciso lembrar que nas compras de Shopee e AliExpress, o tíquete é menor do que no Magalu, forte na venda de itens duráveis, portanto, o chamado GMV total deve ser maior no Magalu. Mas tanto Amazon quanto Mercado Livre estão tentando avançar neste segmento há anos e ainda podem dar mais trabalho nessa área.
Esta não é uma batalha muito fácil de vencer, nem mesmo para a Amazon, considerando o tamanho da escala que o Mercado Livre já alcançou, e o nível de agressividade dos marketplaces asiáticos.
Dentro dos sites de estrangeiros que importam, o levantamento mostra que a Aliexpress assumiu a liderança no setor de importados, ultrapassando a Shein.
Esse avanço impulsionou uma alta desse segmento como um todo, visto que as visitas aos sites importados cresceram 3,5% em junho, antes da mudança nas regras de importação de produtos de até US$ 50, que passam a ter imposto de 20% após agosto. Procurados, AliExpress, Amazon, Magazine Luiza, Mercado Livre, OLX, Shein e Shopee não comentaram.
Fonte: Valor Econômico