Em busca de escala, duas startups brasileiras estão se unindo para disputar o mercado de mercadinhos em condomínios
Por João Luiz Rosa
A covid-19 despertou a atenção de empreendedores e investidores para uma atividade ainda pouco comum no país, mas com grande potencial de crescimento: os minimercados em condomínios residenciais. Em busca de escala, duas startups brasileiras estão se unindo para disputar o segmento – a Market4u, com sede em Curitiba, e a Numenu, de São Paulo.
Pelo acordo, a Market4u, fundada em 2019, vai adquirir 100% da Numenu, que foi criada dois anos antes, mas só passou a atuar na área no ano passado, depois de mudar seu modelo de negócio. O valor do acordo não é revelado, mas a incorporação permitirá à Market4u atuar em mais de 1,5 mil condomínios em 20 Estados. A expectativa é chegar à receita de R$ 100 milhões até o fim do ano.
“Nosso modelo de negócio depende diretamente de escala. Temos planos ambiciosos de atingir a meta de 10 mil unidades em operação ainda em 2021”, diz Eduardo Córdova, cofundador e presidente da Market4u. “Para isso, estamos de olho na movimentação do segmento. Sabemos que estamos em um setor em plena expansão, no qual crescer com operações já maduras tende a ser muito promissor.”
O negócio de minimercados ou mercados autônomos inclui instalar gôndolas e geladeiras em áreas comuns dos prédios, fazer a reposição dos itens, gerenciar os pagamentos e evitar fraudes. Mas também é um negócio de tecnologia. Não existem funcionários nas lojas. O morador faz tudo sozinho e paga por meio de um aplicativo. Isso permite às empresas acompanhar os hábitos de compra dos consumidores e fazer ofertas direcionadas para impulsionar as vendas. “O modelo é o de uma empresa de varejo e logística com bastante tecnologia embarcada”, diz Rafael Freitas, cofundador da Numenu.
A rede da Market4u conta com 10 mil itens cadastrados e cerca de 500 produtos em cada ponto de venda. Refrigerantes, chocolates, sorvetes e cervejas são os mais vendidos. O valor médio individual das compras é de R$ 82 por mês, o que indica que há grande espaço para crescer, diz Córdova. A empresa tem cerca de 200 funcionários, incluindo uma equipe de 20 programadores.
A estreia da Market4u não foi fácil, conta o empresário. Os negócios começaram efetivamente no início de 2020, antes da pandemia. “A princípio, houve uma grande dificuldade para falar com os síndicos”, diz Córdova. A situação mudou com o surto de covid-19. Com as medidas de isolamento social, ir ao supermercado tornou-se uma tarefa difícil, o que ajudou a disseminar o conceito desse tipo de loja, em que basta descer pelo elevador para fazer compras.
Na Numenu, a história foi diferente. A empresa vendia produtos em carros compartilhados, como um serviço de bordo. O passageiro fazia o pedido por meio de um aplicativo e recebia a mercadoria na mesma hora pelas mãos dos motoristas de serviços como Uber e 99. Quando as corridas pararam, por causa da pandemia, os sócios perceberam que precisavam de uma nova fonte de receita para não quebrar. Decidiram testar os mercados autônomos e obtiveram resposta imediata. Em um único dia, depois de distribuir o primeiro folheto promocional, 300 síndicos entraram em contato. Entre março e abril foi feita a transição dos carros para os condomínios.
Além de inúmeras startups, redes de supermercados e lojas de conveniência estão investindo nos minimercados. A lista inclui marcas como Carrefour, AmPm (da rede de postos Ipiranga) e Hirota. O movimento segue tendência internacional. No exterior, a Amazon tornou-se uma das precursoras dos mercados autônomos com as lojas Amazon Go, atualmente disponíveis nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Na Market4u, os recursos próprios respondem por 95% do capital. O restante veio de um investidor-anjo. Para ampliar a rede de pontos rapidamente, a companhia adotou o modelo de franquias. Cerca de 75% das lojas são franqueadas e 25%, próprias. Recentemente, a companhia contratou o Santander para fazer uma rodada de captação. Entre julho e agosto, a empresa planeja fazer um “road show” para atrair investidores e reforçar o caixa. Os recursos, diz Córdova, serão usados para fazer mais aquisições, reforçar a tecnologia e iniciar um processo de internacionalização.
Fonte: Valor Econômico