Em entrevista a O Financista, diretora de relações com investidores explica os planos para crescer na recessão
A Localiza, maior locadora de veículos do País, encerrou o primeiro trimestre com lucro líquido consolidado de R$ 103 milhões. Trata-se de um crescimento de 3% sobre o mesmo período de 2015. O resultado foi bem recebido pelos analistas, diante da recessão econômica. Agora, após uma boa largada no começo do ano, a companhia não quer perder o ritmo.
O desafio será equilibrar a expansão da frota com sua efetiva utilização pelos clientes. Traduzindo: nada de comprar muitos carros, se a taxa de ocupação cair. “O cenário é ainda bastante desafiador e seremos cautelosos na expansão da frota, de forma que o crescimento de volume seja suportado pelo aumento da taxa de utilização da frota que resulte em uma alocação eficiente de capital e retornos saudáveis”, afirmou Nora Lanari, diretora de relações com investidores da Localiza, a O Financista.
Veja a entrevista concedida por e-mail pela executiva:
O Financista: Entre os pontos destacados pelos analistas, está a queda de 1,9% no valor médio da diária. Enquanto muitas empresas tentam repassar custos, como a Localiza conseguiu reduzir o preço médio ao consumidor?
Nora Lanari: A tarifa média é resultado do mix de carros alugados (econômico, intermediário ou luxuoso) e do segmento de negócios. Na divisão de aluguel de carros, a companhia opera os segmentos de varejo (PFs e PJs em aluguel de curto prazo), de seguradoras (carro reserva oferecido pelas seguradoras aos clientes que tiveram seus carros sinistrados) e no aluguel mensal. Os preços flutuam em cada segmento levando em consideração a utilização da frota e os custos associados. Assim, qualquer mudança no mix de carro e segmento pode impactar a tarifa média.
Dito isso, o ambiente econômico ainda se mostra desafiador. Além disso, o mercado de aluguel de carros é bastante fragmentado e a concorrência tem sido agressiva em preços. Mantemos o nosso objetivo de consolidação do mercado de aluguel de carros no país e, para isso, buscamos manter a liderança em custos e produtividade de forma a “entregar” preços competitivos, mantendo bons níveis de retorno para os nossos acionistas. Como resultado, mesmo com a queda na tarifa média do trimestre, a margem de ebitda do aluguel de carros permaneceu estável no ano contra ano.
O Financista: O volume de diárias aumentou 11% no trimestre e a taxa de utilização cresceu. O que puxou o mercado no primeiro trimestre?
Lanari: O primeiro trimestre do ano é alavancado pelo pico de férias de verão e carnaval. Apesar do segmento de pessoa física ganhar relevância nesse período, registramos crescimento em todos os segmentos de negócios, com exceção do aluguel corporativo de curto prazo, que continua a sofrer em razão do baixo nível de atividade econômica. A demanda ligeiramente melhor que o esperado, somada à gestão eficiente da compra e venda de carros, resultou no aumento da taxa de utilização da frota.
O Financista: Alguns analistas recomendam que a Localiza mantenha o tamanho da frota estável, neste ano, diante da crise vivida neste ano pelo país. Quais são os planos da empresa para a frota até dezembro?
Lanari: A empresa não dá guidance [conjunto de previsões] de crescimento ou investimentos. O nosso objetivo é continuar investindo em capacidade comercial e de precificação, além de capturar oportunidades de crescimento de volume deixadas por concorrentes menos preparados para enfrentar a crise. De qualquer forma, o cenário é ainda bastante desafiador e seremos cautelosos na expansão da frota, de forma que o crescimento de volume seja suportado pelo aumento da taxa de utilização da frota que resulte em uma alocação eficiente de capital e retornos saudáveis.
O Financista: A Localiza é uma das maiores compradoras de veículos do país. Num momento de queda de vendas, está mais fácil negociar descontos com as montadoras?
Lanari: No último ano, as montadoras vêm ajustando a produção em resposta à queda dos volumes de vendas dos carros novos e repassando o aumento dos custos para os consumidores. Com a produção mais ajustada e a expectativa de aumento nas exportações, não contamos com melhores condições na compra de carros.
O Financista: A receita com a venda de seminovos manteve-se estável no primeiro trimestre, com a queda do número de veículos compensada pelo maior preço médio. Qual é o cenário da empresa para este mercado em 2016?
Lanari: O desemprego continua aumentando e o mercado espera outra queda significativa no volume de carros novos em 2016. Apesar de o mercado de seminovos ter se mostrado resiliente, estamos esperando um ano mais difícil em termos de vendas. A companhia ajustou sua taxa de depreciação por carro para refletir essa expectativa. Além disso, trabalhamos em algumas iniciativas para suportar as vendas nos diversos canais e estamos reforçando a rede de seminovos com a abertura de lojas ao longo do ano. Com isso, esperamos manter um ritmo de venda adequado às necessidades de renovação da frota das divisões de aluguel de carros e de frotas.