José Maria nasceu no Nordeste, no agreste de São Bento do Una, em Pernambuco. Lugar humilde, casa simples, sem água ou saneamento básico. O vizinho mais próximo morava a 3 ou 4 quilômetros e, para buscar água, tinha de caminhar cerca de meia hora. No café da manhã, farinha com café ou água com sal. “Meus pais não tinham condições. Em casa tinha um fogo a lenha, uma mesinha e chão de barro. Era uma vida muito sofrida”, lembra José.
Era ele, seus pais e mais dez irmãos. “Quem não trabalhar não come”, alertava o pai. Então, Zé não estudou. Foi trabalhar no corte de cana. Aos 14 anos já tinha trabalhado em vários lugares na roça. “No Nordeste, são duas estações no ano: o inverno e o verão. Se o inverno for bem, você colhe na plantação de milho, de feijão… Se for mal, tem outra opção: vai pra Alagoas cortar cana, porque lá é época de safra”.
Mas a história de Zé não seguiria em Pernambuco. Como tantos outros nordestinos, ele resolveu tentar a vida em São Paulo. “Era 14 de fevereiro de 1990, o grande dia da minha vida. Meu irmão trabalhava no Supermercado Nagumo (em Cumbica) e arrumou um emprego para mim de empacotador. Naquele tempo, podia trabalhar com 14 anos. Foi a melhor época da minha vida. Eu queria trazer minha família pra cá”, relembra.
Determinado, o jovem trabalhador logo foi promovido à balconista do supermercado. Após um ano e meio, repositor. Trabalhou no açougue e depois foi convidado para atuar na padaria. “Eu não queria trabalhar lá, mas eu ia ganhar um pouco mais e os padeiros tinham direito a dez pãezinhos. Isso fez com que eu aceitasse, porque eu queria trazer minha mãe e meus irmãos pra cá, e dez pãezinhos fariam diferença para eles de manhã. Às vezes, eu ia trabalhar de manhã com o meu irmão no Nagumo e esquentávamos a água quente numa latinha e tomávamos, só para enganar a fome antes de ir trabalhar, porque nem pão tinha”.
No entanto, o lema de Zé Maria é “Sonhar, planejar, executar e realizar, sempre focado em Deus”. Logo, ele daria um jeito de mudar o rumo dessa história. “Dei o meu máximo no Nagumo. Comecei a me projetar e estudar para ser alguém. Eu olhava para os gerentes e falava: ‘Eu vou chegar lá. Eles não são melhores do que eu’”.
Zé seguiu em busca do seu objetivo. Foi fazer supletivo da terceira e quarta séries do antigo Primário. Já as séries seguintes, decidiu fazer ano a ano. “No começo, o objetivo era escrever pra minha mãe. Eu escrevi um monte de cartas, mas nunca mandei porque eu não entendia o que eu escrevia. Imagine ela! Eu queria falar que eu estava bem. Aí fui estudar para saber ler e escrever. Me apaixonei e percebi que podia ir mais longe. Fui para o colégio Albert Einstein fazer técnico em Contabilidade. Agora eu estava preparado para ser gerente!”.
Foi aí, já em 2000, que a vida de José Maria daria mais uma virada: o supermercado para o qual ele tinha planejado dar o tão sonhado passo profissional foi comprado pela Rede Pão de Açúcar. “E agora, meu Deus? O que eu vou fazer?” Lembrou-se que tinha sido padeiro no Nagumo, queria continuar trabalhando no supermercado, mas o salário ficou baixo, e depois de terceirizado, ainda pior. Pegou o dinheiro da rescisão, usou uma parte para terminar a casa no terreno que tinha comprado na comunidade e, com a outra, comprou maquinário e foi fazer pão. “Eu fazia o pão na sala e vendia na garagem”. Era ele, o irmão e a irmã. “Isso durou uns três anos. Aí quebrei a sala, a cozinha, o quarto e ali virou uma mercearia com padaria”, conta o empreendedor, que no início usou o slogan “Ex-padeiro do Nagumo” para atrair clientes.
“Depois disso, comprei um terreno e abri uma loja, que é a loja 1. Em 2003, abri o mercadinho e, em 2006, construí o prédio onde está a unidade 1. A segunda loja, que era alugada, veio em 2008; um ano depois, comprei a terceira e passei quatro anos reestruturando-a. Em 2013, comprei a quarta e um restaurante na vila Maria (SP). Em 2014 abri a quinta; e a mais recente foi inaugurada em 2015”. Essa é a rede do Supermercado da Gente, do José Maria: duas lojas localizadas nos Pimentas (1ª e 5ª); a 2ª no Itaim Paulista (São Paulo); a 3ª em Itaquera, a 4ª em Mogi das Cruzes; e a 6ª em Suzano, além do restaurante Hector Gourmet no Poli Shopping. Seus empreendimentos somam 400 funcionários.
Mas a caminhada não foi fácil, José Maria quase quebrou por duas vezes. Uma delas quando construiu o prédio próprio. “Eu planejei que a Caixa Econômica iria financiar a construção e me precipitei com o meu irmão: fiz o acordo com a construtora antes e não tive condições de pagar o parcelamento com o baixo faturamento que tínhamos. Às vezes, saía mais água dos meus olhos do que do chuveiro. Minha mulher sabe disso”, conta Zé, sobre a crise que enfrentou durante um ano. “A Yara sempre foi o meu apoio e meus dois filhos, Vinicius e Rafaela, minhas paixões”, destaca.
“Meu pai não me deixou estudar, mas me ensinou que honestidade e caráter não se negociam. E, nesse momento difícil, eu tive um amigo que me ajudou e confiou em mim, que eu ia pagar. Eu até disse que deixava o prédio como garantia, mas não precisou. O banco liberou o dinheiro”, conta o empreendedor que até chorou com a notícia que o tiraria do sufoco.
José Maria Soares, 41, usa a sua história para incentivar pessoas ao seu redor a crescer. “Eu fui para a Disney. Caraca! Eu, que morava na favela e cortava cana! A melhor faculdade da minha vida não foi o MBA, foi a minha própria vida. O que eu passei”, diz o inspirador empresário, hoje formado em Processos Gerenciais pela ESPA e em MBA de Gestão Empresarial pela FGV Guarulhos. “Se você quer chegar aonde a maioria não chega, faça o que a maioria não faz”, finaliza Zé Maria, com a frase de Bill Gates.
Fonte: Click Guarulhos