Camiseta World T-shirt será ‘carbono negativa’ e faz parte de plano de investimento de R$ 6 milhões
Por Daniela Chiaretti
A produção da camiseta básica da Hering, a World T-shirt, será carbono negativo a partir deste mês. Isso significa que as emissões de gases-estufa originadas na confecção e consumo das peças serão compensadas com a proteção de uma área na Amazônia. As árvores sequestram carbono e a poluição na fábrica é neutralizada desta forma, mas negativar emissões é um passo além: o cálculo na “pegada de carbono” que ocorre no feitio da camiseta, desde o fio de algodão até o descarte, é feito em dobro na preservação da floresta.
A linha existe há 30 anos e corresponde a 20% do faturamento da empresa. Registra quatro milhões de peças vendidas ao ano e emite 12 mil toneladas de CO2 equivalente em seu ciclo de vida.
A Hering está investindo R$ 6 milhões na agenda de carbono. Do total, 20% se destina à operação de tornar carbono negativas as camisetas brancas e coloridas World T-shirt. O investimento contempla a compra de créditos de carbono, revisão de processos de produção e logística, ferramentas de gestão, comunicação com clientes e treinamento de colaboradores.
“Estamos absorvendo o custo do carbono negativo. Não haverá repasse ao cliente. A camiseta não ficará mais cara”, diz Thiago Hering, CEO da companhia. A compensação irá apoiar o projeto Ituxi, localizado em Lábrea, no Amazonas, na região de maior pressão de desmatamento. O projeto produz mais de 50 mil mudas de espécies nativas ao ano e engloba manejo de um castanhal. São mais de 150 mil hectares de área. Os recursos da Hering apoiarão a geração de renda e educação da comunidade. A operação da Hering é feita pela Moss, fintech ambiental que se tornou em um ano uma das maiores plataformas mundiais de créditos de carbono.
A indústria da moda é mundialmente uma forte emissora de gases-estufa e tem alto consumo de água. As Nações Unidas estimam que a indústria da moda responda por algo entre 8% e 10% das emissões globais de gases-estufa, o que é mais que aviação e transporte marítimo juntos. É o segundo setor da economia que mais consome água e produz cerca de 20% das águas residuais do mundo. Em 2015 utilizou 79 bilhões de m3 de água, o que daria para encher 32 milhões de piscinas olímpicas. Libera 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos todos os anos.
O inventário de emissões da Hering de 2019 indica 21.642 toneladas de CO2 e sendo 56% com origem na empresa, 13% em energia e 31% em logística, resíduos e transporte dos funcionários de casa ao trabalho e vice-versa.
A Hering tinha por meta neutralizar as emissões em 2023, mas antecipou o objetivo para este ano.
Uma camiseta World branca emite 2,1 kg de CO2 e em seu ciclo de vida e utiliza 152 litros de água na produção e nas lavagens feitas pelos consumidores por dois anos. Se a peça for colorida, a emissão é maior.
Em 2020, na unidade de produção de malharia de Itororó (SC), a Hering conseguiu reduzir em 35% o consumo de água.
“Estamos trabalhando em três frentes ao mesmo tempo – na redução da emissão de carbono, na pegada hídrica e na certificação do algodão”, diz Thiago Hering. “Priorizamos a pegada de carbono neste momento porque o tema é muito urgente. Temos visto uma insensibilidade grande, para não dizer irresponsabilidade, de órgãos governamentais no Brasil em relação à preservação da floresta. Dada a urgência, priorizamos este passo”.
A iniciativa de neutralizar as emissões acontece no momento da fusão da Cia. Hering, que tem 140 anos, 700 franquias e 8 mil pontos multimarcas, com o grupo Soma, dono das marcas Animale e Farm. A superintendência-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a operação na quarta-feira. O acordo foi fechado em abril por cerca de R$ 5 bilhões.
“Entendemos que é um movimento de transformação para o varejo brasileiro, porque combina ativos interessantes. Desde um portfólio valioso de marcas – que vai da camiseta básica Hering a Cris Barros e engloba várias faixas etárias e perfis – a um parque tecnológico moderno, com maturidade digital e uma indústria forte. Há muita convergência nos valores e na visão dos dois grupos, para construirmos uma forte plataforma de marcas”, diz o CEO da Hering.
Ele diz que, depois do lockdown de abril em função da pandemia, ocorreu “forte retomada do consumo”. Atribui o impulso de consumo ao frio, ao Dia das Mães e à população querendo circular um pouco mais. “O cenário tem alguma volatilidade, mas temos visto uma boa recuperação de consumo ao longo deste trimestre”. Segue: “O inverno deve ajudar. Gostaríamos até de ter mais estoques, com o frio que se alongou. Neste trimestre, as vendas se aproximam das de 2019, talvez até acima”.
Os preços das peças, segundo o executivo, aumentaram “levemente”. O ajuste, diz ele, está em sintonia com a pressão inflacionária e o aumento oscila entre 7% e 8% em um ano. A cadeia têxtil sofreu o impacto do aumento do preço do fio de algodão que, em um ano, aumentou cerca de 35%. Em uma camiseta, o fio corresponde a 45% da matriz de custo.
Fonte: Valor Econômico