Por Adriana Mattos | Varejistas regionais e grupos controlados por fundos de investimento despontam no ranking anual dos supermercados e atacarejos de 2023, divulgado pela Abras, a associação nacional do setor. Em contrapartida, cadeias que eram referência no passado – como a Dia, em recuperação judicial – perderam posição.
Na lista das grandes redes, entre as 20 líderes do setor, houve poucas mudanças – as cinco maiores continuam sendo Carrefour, Assaí, Grupo Mateus, GPA e Supermercados BH, nesta ordem, como em 2022. Mas novos entrantes apareceram, roubando posições de outras empresas de um ano para o outro.
O grupo Koch, da família de mesmo nome, do município de Antônio Carlos (SC), e que iniciou a operação a partir da venda em feiras livres na Grande Florianópolis nos anos 80, apareceu em 10º lugar, subindo três colocações.
Foi um dos maiores crescimentos entre as “top” 30 – em 40 anos, os sócios passaram de uma banca na feira para um negócio com vendas anuais de R$ 8 bilhões, cujos sócios são Sebastião, Geraldo, José Evaldo, Antônio e Albano Koch.
A primeira loja foi aberta em 1994, quando os irmãos, sem tanto dinheiro para investir, venderam o Ford Verona comprado com o dinheiro das feiras e sacolões, juntaram outras economias e conseguiram adquirir o terreno da unidade, em Tijucas (SC).
No ano passado, as vendas subiram pouco mais de 24% em relação a 2022, acima do mercado, que se expandiu 3,5%. Sobre as razões para o desempenho recente, o presidente do Grupo Koch, José Koch, cita a política de crescimento com baixa alavancagem e foco no atacarejo, operação que avança sobre as vendas de supermercados e hipermercados no país há anos.
“A gente cresce com nosso capital, evitamos nos endividar demais. O que temos em caixa é o que temos em empréstimos”, diz ele. “E planejamos tudo com muita antecedência, temos comitês, auditoria, temos conselho há anos. Ainda acabamos, com sorte, talento e esforço, pegando uma ‘onda’ boa de expansão do atacarejo, entramos num bom momento”, afirma ele.
Os primeiros investimentos no atacarejo foram em 2016 e hoje, 75% das vendas são nesse segmento, e o restante é varejo alimentar.
Com 67 lojas em Santa Catarina (prevê chegar a 80 no fim do ano), a empresa é dona das marcas SuperKoch (de supermercado) e Komprão (de atacarejo).
Houve negócios regionais que entraram no ranking compilado pela Abras pela primeira vez, e já em posições relevantes, como a cadeia Novo Atacarejo, de Pernambuco, na 21ª posição, com R$ 4,6 bilhões em vendas, e a mineira Adição Distribuição Express, dono do Supermercados ABC, na 22º colocação, e vendas de R$ 4,4 bilhões
Principal negócio liderado por fundos no varejo alimentar, a Plurix subiu duas posições, de 21ª para 19ª, entrando no “top” cinco em menos de meia década de aquisições de negócios.
O avanço da Plurix, gerida pela gestora Pátria Investimentos, se deu pelo varejo regional, e colocando na linha de frente executivos do primeiro escalão do comércio nacional.
A Plurix foi ganhando terreno peneirando negócios de peso regional, parte deles que já precisavam de uma capitalização para reduzir alavancagem ou ganhar fôlego maior para seu crescimento.
No fundo estão cinco cadeias varejistas adquiridas de 2021 para cá, divididas em três operações regionais: Jundiaí (Boa Supermercados), Assis (Casa Avenida) e Guarapuava (Superpão), liderada por Jorge Faiçal (ex-GPA). Na divisão de atacado, na qual está a Atakarejo, cadeia comprada em 2023.
Entre as grandes redes nacionais que encolheram estão a rede Dia, que caiu da 15ª posição para a 18ª. A companhia pediu recuperação judicial em março, com dívidas de R$ 1,1 bilhão, após perda de competitividade com a forte concorrência do atacado, as pressões financeiras (com a alta dos juros que afetou as dívidas), e a dificuldade de crescer com um modelo de lojas de descontos que perdeu demanda nos últimos anos.
Ainda segundo dados da Abras, o setor alcançou um faturamento de R$ 1 trilhão em 2023. Esse dado não é comparável com a pesquisa de 2022 porque o levantamento passou a incluir 300 mil empresas do Simples Nacional, que não estavam na pesquisa de 2022.
O Carrefour Brasil continua a liderar o setor pela oitava vez, com vendas de R$ 115,5 bilhões em 2023, alta de 6,9%. O segundo colocado foi o Assaí, com R$ 72,8 bilhões, avanço de 22%, sendo seguido pelo Grupo Mateus (R$ 30,2 bilhões), que cresceu 30%.
Fonte: Valor Econômico