O presidente do Multivarejo (supermercados e hipermercados) do Grupo Pão de Açúcar (GPA), Jorge Faiçal, anunciou nesta quinta-feira, em teleconferência com analistas, a entrada no segmento de “dark kitchens”, com a criação de quatro cozinhas para produção de refeições e vendas externas.
O GPA ainda disse que mantém plano de expansão no braço de varejo para o ano, mas a conversão de supermercados para modelos mais rentáveis deve se concentrar principalmente no segundo semestre, segundo Faiçal.
O negócio de varejo começou o ano mais fraco, especialmente janeiro, mas em fevereiro e março houve uma aceleração, com março sendo o melhor mês do trimestre, mesmo antes da pandemia, disse Faiçal.
Segundo ele, houve recuperação mais forte das vendas naqueles mês, e foi visto que o consumidor tem ido a menos locais para compra, mas comprado volumes maiores, tanto no varejo quanto no atacado.
Segundo Belmiro Gomes, presidente da rede de atacado Assaí, que faz parte do GPA, a cadeia ganhou 2,5 milhões de clientes no primeiro trimestre e teve “sete dias parecidos com vendas de véspera de Natal”. O executivo identificou queda em fluxo de clientes, mas com aumento no volume de itens compensando essa redução, por conta desse movimento de consumidores irem menos aos pontos, mas adquirirem mais produtos para estocagem.
Gomes também anunciou a entrada da rede no Maranhão, com abertura da primeira loja neste ano, e reforçou que a cadeia de atacado deve manter crescimento de mais de 20% no segundo trimestre, reflexo desse movimento mais forte de demanda na cadeia.
Marketplace
Faiçal disse ainda que o grupo deve abrir o seu “marketplace” (shopping virtual) no terceiro trimestre. Segundo ele, na área de comércio eletrônico, cerca de 50% das vendas on-line são de novos consumidores e a empresa antecipou alguns projetos nesse segmento de 2021 para 2020.
O presidente da companhia, Peter Estermann disse que, em linhas gerais, cresce mais o foco da empresa na operação do Pão de Açúcar, que passa por transformações de formato, para nova geração, e também no online. “No on-line são maiores as possibilidades de se antecipar, para o curto prazo, as estratégias que existiam de longo prazo”, disse.
Segundo Faiçal, a empresa não percebeu um “efeito rebote”, com eventual desaceleração de vendas após a alta em março, algo que analistas tinham dúvidas em relação ao varejo em geral no país. “Vemos crescimento nas vendas de dois dígitos sem efeito rebote”, disse. “Abril veio acelerado e maio continuou com Dia das Mães tendo a semana mais forte, versus ano anterior”.
A diretoria financeira do GPA afirmou que deve contratar nova linha de crédito de R$ 500 milhões, com vencimento em dois anos, mas ressaltou que a operação ainda não está fechada.
Venda de ativos
O plano de venda de alguns ativos do GPA, como já relatado meses atrás, continua de pé, mas ainda sem prazo, afirmou Ronaldo Iabrudi, membro do conselho de administração. Em fevereiro, o comando disse que via potencial parar se desfazer de mais de R$ 3 bilhões em ativos não essenciais.
Sobre esse assunto, e eventuais impactos positivos que a venda possa ter na liquidez da companhia, Iabrudi disse que a empresa não tem problemas de caixa — eram mais de R$ 6 bilhões em março, versus R$ 2,3 bilhões um ano atrás. Mas a dívida líquida cresceu, como analistas já previam, com as operações financeiras para a compra do grupo Éxito, passando de R$ 4 bilhões para R$ 11,2 bilhões no período.
Nesse cenário, a relação entre dívida líquida e Ebitda passou de uma vez de janeiro a março de 2019 para 2,5 vezes neste ano. “Essa venda de ativos não tem prazo, mas nos dá tranquilidade para atingir um patamar que sabe que é o ideal.”
Iabrudi ainda destacou os ganhos positivos com o on-line e o Pão de Açúcar nesse período após isolamento e disse que as mudanças nos hábitos de consumo de clientes não serão temporárias e vieram para ficar.
Fonte: Valor Econômico