Há cinco anos, o setor de franchising faturava 118,27 bilhões de reais no Brasil. Em 2017, alcançou a marca de 163,32 bilhões de reais. Aumentou 8% em relação a 2016, assim como havia aumentado 8% anuais nos dois anos anteriores. E o número de unidades cresceu 2% e chegou a 146.134. Prova de que, mesmo em condições econômicas adversas, as franquias brasileiras seguem a passos firmes e visando o futuro.
Todos os segmentos registraram aumento no faturamento. O setor que registrou o melhor desempenho nesse quesito, no ano passado, foi o de Saúde, Beleza e Bem-Estar, com crescimento de 12,1%. Em número de unidades, a área de Hotelaria e Turismo cresceu 17,6% em apenas um ano.
Além disso, em tempos de desemprego alto, o setor como um todo aumentou em 1% a demanda por profissionais e, em 2017, gerou 1.193.568 vagas diretas de trabalho. No panorama global, de acordo com o ranking do World Franchise Council, o Brasil mantém a 4ª colocação do mundo em número de redes e a 6ª posição em relação ao total de unidades.
“O franchising conseguiu manter seu crescimento em meio à maior crise da história do país”, afirma Altino Cristofoletti Junior, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), uma entidade sem fins lucrativos que, desde 1987, representa oficialmente o sistema de franquias nacional. “As redes cresceram porque fizeram a lição de casa, reviram seus processos, investiram em novos produtos e em tecnologia”.
Entre os setores que se mostram mais organizados, até por serem mais antigos no Brasil, Altino Cristofoletti Junior destaca o de Alimentação e Educação. Já Hotelaria e Serviços, além de Saúde, Beleza e Bem-Estar, são grandes tendências. “O DNA do franchising consiste em alcançar melhorias constantes que permitam que o sistema se adapte às realidades de um Brasil em que a política e a economia mudam muito, o ambiente tributário é complexo e o incentivo para o desenvolvimento empresarial é pequeno”, aponta.
Melhoria na comunicação
Inovação, por exemplo, tornou-se palavra de ordem para o setor. O uso de novas tecnologias, muitas vezes, nem sequer demanda grandes investimentos. A Doutor Resolve, por exemplo, percebeu que o WhatsApp era mais rápido e eficiente do que os canais oficiais de suporte da rede, tanto para as solicitações de HelpDesk quanto para os pedidos dos próprios consumidores.
Resultado: a empresa passou a receber as solicitações pelo aplicativo e depois registrá-las no canal oficial. “Mesmo que nossos sites sejam os principais canais de atendimento, percebemos que o cliente dá preferência pelo WhatsApp. Isso traz agilidade”, explica Evandro Pinotti, sócio-presidente da Doutor Resolve. A companhia também estuda aplicar inteligência artificial para analisar o volume cada vez maior de informações disponíveis sobre cada um dos franqueados e seus clientes.
Já a Calçados Bibi, fundada em 1949, desenvolveu o programa Ninho da Inovação, que estimula o desenvolvimento de projetos para as áreas de processo, produto, vendas, comunicação, pessoas e estoques. Hoje, participam da iniciativa da empresa 1 500 colaboradores, além de 500 pessoas do varejo, 110 fornecedores e 32 pessoas da equipe de vendas. Entre as ideias colocadas em prática está o Patch Mania, um tênis com velcro na parte superior, apenas na ponta, que pode ser customizado com diferentes apliques, com imagens que vão desde unicórnios e gatinhos até foguetes e controles de videogames.
No caso do Instituto Gourmet, a aposta é na formação de profissionais capazes não só de cozinhar, mas também de empreender. “Hoje, a busca de capacitação é a chave principal do crescimento para qualquer profissional”, afirma Lucilaine Lima, fundadora da franquia. “Nosso método é único, não ensinamos apenas a cozinhar, mas a gerenciar uma cozinha, abrir e tocar restaurantes”. O instituto tem 30 unidades e faturamento acima de R$ 5 milhões.
Formação é a tendência seguida também pela Line Coaching, que forma coaches, que também podem se tornar franqueados. Um dos planos disponíveis, o Home Based, permite começar a atuar com investimento inicial de R$ 40 mil e taxa de franquia de R$ 25 mil. A própria rede oferece empréstimos e, para seus alunos, reduz a taxa da franquia para R$ 6 mil.
Foco no exterior
Em 2017, 142 redes de franquias brasileiras atuavam no exterior, em 100 países diferentes – em 2016, eram 80 nações com presença nacional, 20 a menos. Destaque para empresas dos setores de Moda, com 25,4%; Saúde, Beleza e Bem-Estar, com 16,9%, e Alimentação, com 15,5% de participação no exterior. Nos Estados Unidos, atuam 46 marcas brasileiras. No Paraguai e em Portugal, 34. Na Bolívia, 19, na Colômbia, 17 e na Argentina e no Uruguai, 15 cada.
Além disso, 18 redes exportam produtos, em especial para Estados Unidos, Espanha, Portugal, Austrália e Canadá. “O Brasil é um dos grandes players do franchising internacional”, afirma o presidente da ABF. “E a participação vem aumentando, seja na exportação de produtos, seja de marcas”.
Um estudo da ABF identificou as 50 maiores marcas de franquias do país. A líder é a rede O Boticário, com 3 762 unidades. A ABF mantém ainda uma lista das franquias com investimentos mais altos, acima de R$ 1 milhão. Entre elas, estão a rede de hotéis Accor, o McDonald’s, as redes de escolas bilíngue Maple Bear e de academias Selfit, que aposta na tecnologia para melhorar a experiência dos alunos. Fundada em 2012, no Recife, ela tem 28 unidades em operação e pretende inaugurar outras 30 até o fim do ano.
Fonte: Exame