A paralisia da economia brasileira, que acumulou dois anos seguidos de Produto Interno Bruto (PIB) negativo, dificultou a vida de muitos empresários. Apesar de ter sempre um desempenho superior ao da economia, o franchising também sofreu os reflexos da recessão. Franqueados tiveram que recorrer a franqueadores na esperança de se desviar da fase ruim. Por isso, o que se vê hoje são muitas redes passando por mudanças em busca de melhor desempenho.
Os números mostram que a realidade das redes de franquias difere dos negócios com bandeiras independentes. A previsão da Associação Brasileira de Franchising (ABF) é de um aumento das vendas entre 7% e 9%. Em 2016, o sistema faturou 151 bilhões de reais. Levantamento recente da entidade mostra que o faturamentodo setor cresceu 9,4% no primeiro trimestre de 2017 (36,9 bilhões de reais) em comparação a 2016 (33,7 bilhões de reais). Nesse período, o segmento com melhor desempenho foi o de hotelaria e turismo (alta de 31%), seguido por saúde, beleza e bem-estar (17% cada) e limpeza e conservação (16%).
“O sistema de franchising sempre enfrenta melhor as crises porque tem a força das redes. Apesar de lojistas independentes de bairro terem muita proximidade com seus consumidores, eles não conseguem ter a projeção das franquias e o poder de negociação com fornecedores”, explica Ana Vecchi, sócia-diretora da consultoria Vecchi Ancona.
OPORTUNIDADE
Para especialistas em franchising, as dificuldades trazidas pela economia desacelerada – que também afetam a rotina das franquias, só que em menor medida – podem representar uma oportunidade para franqueadores e franqueados. “Quando está tudo bem, dificilmente alguém faz a revisão de seus processos. Este momento pode ser a oportunidade para as redes reverem suas estratégias e se reposicionarem”, explica o consultor Rodrigo Palermo, do Sebrae-SP.
Na Siluets, rede de clínicas de estética, o período de arrefecimento da economia tem servido para uma série de mudanças internas. Ignacio Ferreiro, CEO da marca, conta que vem negociando com fornecedores para que os franqueados possam abrir unidades com mais equipamentos, mas com o mesmo investimento. Além disso, tem apostado na oferta de novos tratamentos para a clientela.
“Temos aproveitado para repensar o negócio e buscar inovações. Melhoramos o suporte à rede, aumentamos o investimento em marketing e simplificamos a operação para que o franqueado possa se dedicar mais ao negócio dele. Além disso, reinvestimos todo o lucro na empresa. É o momento de oportunidades”, diz o CEO. Neste ano, Ferreiro espera que o faturamento da Siluets tenha um crescimento na receita entre 30% e 40% na comparação com 2016. Atualmente, são 90 unidades e a previsão é chegar ao fim do ano com pelo menos 105.
Quem também está colocando a casa em ordem é a Emagrecentro. Depois de passar por um enxugamento de cerca de 30%, a rede lançou, em abril passado, um programa de fidelização cujos pacotes, pagos mensalmente, oferecem de um a três tratamentos por semana.
Além disso, a empresa premiará clientes que fizeram os tratamentos e os indicarem a outras pessoas. Paralelamente aos ajustes na operação brasileira, Edson Ramuth, presidente da Emagrecentro, decidiu expandir os negócios. A rede já tem uma unidade em Bogotá, na Colômbia, e, ainda este mês, abrirá outra nos Estados Unidos. O franqueador espera que o faturamento da rede tenha um crescimento de 30% este ano em relação a 2016, que foi de 40 milhões de reais.
Já na rede varejista Dia, os resultados das lojas são revisados todos os meses para melhorar os ganhos e dar sustentabilidade ao negócio. “Lógico que uma crise preocupa e não podemos brincar com isso, principalmente quando há uma retração no consumo. Mas, para o Dia, não é uma regra a queda de vendas para todas as lojas”, diz Felipe Pagotto, diretor de franquias da empresa.
Na verdade, existem unidades da rede que estão se beneficiando com o momento e atraindo os clientes que querem economizar. “A questão é sermos rápidos para não deixar nossos parceiros em dificuldades para atravessar mais uma turbulência do mercado. Não é a primeira e não será a última vez, infelizmente”, afirma o executivo.
SAÚDE FINANCEIRA – Na rede de lavanderias 5àsec também foi preciso pensar em novos processos para manter a saúde financeira de quem já está na rede e em uma estratégia de crescimento, conta Alex Quezada, diretor de franquias da marca. A empresa lança neste mês uma promoção que fixa o preço de até 9 quilos de roupas lavadas. A previsão é de um aumento de 2,5% nas vendas.
Também foi preciso negociar com fornecedores de máquinas para reduzir os custos de instalação das lavanderias – queda de 550 000 reais para 400 000 reais. Graças a esses ajustes, a 5àsec chegou a um novo modelo de franquia para cidades a partir de 50 000 habitantes. Antes, só se instalavam em localidades com mais de 90 000 habitantes.
Ajustes também foram o caminho escolhido por Filipe Sisson, presidente da rede de piscinas iGUi. Um deles foi o lançamento da Trata Bem, modelo de franquia voltado a pequenos investidores que trabalha com acessórios, assistência técnica e serviço de manutenção. “Somos líderes de mercado, por isso buscamos soluções dentro dessa nova realidade”, explica. A empresa também apostou em uma linha de produtos mais populares, como novos desenhos e coberturas para piscinas.
O impacto dessas mudanças não será sentido apenas no curto prazo, mas resultará em marcas mais fortes. “É um processo de amadurecimento em que os franqueadores investem mais em gestão, na melhoria do atendimento ao cliente e na redução de custos”, aponta Altino Cristofoletti, presidente da ABF. Esse reforço na gestão, avalia Ana Vecchi, pode criar uma nova geração de franqueadores e franqueado. “Esse ‘chacoalhão’ vai acabar com o copiar e colar na administração do negócio e todos sairão mais críticos e responsáveis”, aposta a consultora.