Dormir no ponto não foi a opção de Rafael Moura quando soube que todas as franquias da sua rede, a I Wanna Sleep, precisariam ser fechadas por conta da quarentena do novo coronavírus. Em tempo recorde, ele precisou elaborar uma estratégia para fazer com que os franqueados continuassem vendendo, mesmo com as portas fechadas. “A crise chegou da noite para o dia e pegou todo mundo de surpresa. Fechar a loja, para quem é do comércio, é sinônimo de faturamento zero”, diz.
A rede foi fundada em 2014, em Belo Horizonte (MG), e tornou-se franquia em 2017. Moura entrou no ramo por sugestão de um amigo, mas queria fugir do formato de “lojas branquelas que só vendem colchão”. A ideia é manter a mentalidade de constante inovação, comum as startups. Os franqueados conseguem usar tecnologia para identificar qual o tipo de sono que o consumidor tem e indicar produtos e serviços que podem ajudá-lo a dormir melhor, por exemplo.
O colchão é apenas um dos 3 mil itens disponíveis na loja, além de travesseiros, pijamas, chás e outros acessórios. Algumas lojas também são equipadas com um espaço que oferece massagem, reiki e quiropraxia, além do sistema Body Scan IWS, que mede o nível de pressão do corpo no colchão e ajuda na escolha do produto
Por essa razão, as vendas virtuais ainda não eram exploradas pela rede – nem estavam nos planos de curto prazo. “Nunca fizemos isso. O desafio que tínhamos agora era criar algo rápido para ser um novo canal de venda para os franqueados. Precisávamos tentar levar toda a experiência para a casa das pessoas”, diz Moura.
Assim, eles desenvolveram o conceito de Loja Física Online (LFO), que consiste em um site que apresenta todas as unidades franqueadas, como se fossem “mini e-commerces individuais”, direcionados de acordo com a localização do consumidor e informações atualizadas de estoque e entrega. “Quando o cliente clica em determinada loja, vê o estoque disponível na unidade e é atendido pelo próprio franqueado”, afirma Moura.
Atualmente a rede tem 15 lojas e promete entregar a encomenda em até uma hora para as compras realizadas, em horário comercial, nas cidades onde as franquias estão. Hoje, há lojas em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Para outras localidades, o envio é feito pelos Correios.
Todo o processo de criação da plataforma levou cinco dias. “Se não fosse a crise, demoraria de três a seis meses. Foi desenvolvimento interno, sem necessidade de investimento adicional”, afirma.
A LFO pode se tornar um legado da crise e até um novo modelo de negócio, na avaliação do empreendedor, no futuro. “Achamos que muita coisa vai mudar ainda, mas esse produto certamente é um fruto da crise da Covid-19.”
No entanto, ele é relutante em lançar um modelo de franquia totalmente orientado para o online, pois alguns dos serviços oferecidos pela marca demandam a presença física do consumidor, como massagem o a Body Scan IWS.
Os bens duráveis e semiduráveis estão sendo os mais impactados pela crise, de acordo com entidades de varejo, como a FecomercioSP. Mesmo assim o empreendedor acredita que a preocupação com o sono possa ser uma das prioridades do consumidor nesse momento e está otimista. “A gente espera que as vendas ajudem a pagar os custos fixos durante esse período.”
O sistema está no ar há pouco mais de uma semana e conseguiu reverter 30% das vendas que a marca faria com as portas abertas. “Antes não tínhamos e-commerce, então saímos do zero.”
Fonte: PEGN