A crise econômica é o momento ideal para o crescimento das redes de atacado. A afirmação é de Belmiro Gomes, presidente do Assaí – rede do Grupo Pão de Açúcar – que abriu sua segunda loja na Grande Natal semana passada. Em entrevista ao NOVO, ele fala sobre vários temas ligados ao Grupo e à economia do país. Segundo ele, o reflexo do aperto nas receitas das famílias promove mudança de hábitos e os consumidores passam a buscar mais economia do que conforto na hora de fazer a feira do mês. Apesar disso, o mercado também se adapta e as lojas atacadistas também passaram a investir em confortos como sistema de ar condicionado, ou facilidade no pagamento com cartões de crédito e débito.
Por razões como essa, a rede Assaí cresceu 40% no acumulado até o terceiro semestre de 2016. O grupo econômico, aponta ele, também pretende transformar lojas do hipermercado Extra – varejista – em unidades do Assaí. Ainda não há previsão se isso deve acontecer em Natal. Porém pelo menos 15 lojas deverão passar por esse processo no ano que se inicia.
O executivo também comentou as medidas econômicas adotadas pelo governo federal e avaliou que o setor se beneficia das ações que injetam recursos no mercado – como é o caso da liberação dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em contas inativadas. Gomes também falou sobre o interesse de continuar a expansão no Rio Grande do Norte, apesar de ainda não haver projetos concretos.
Como foi o ano de 2016 para a empresa?
A rede sofreu uma expansão forte ao longo de 2016, com a abertura dessa unidade em São Gonçalo do Amarante a gente totaliza treze unidades ao longo do ano. São lojas grandes e médias, com 12 mil metros de área construída. Para ter uma ideia, a gente gera, com isso, praticamente três mil postos de trabalho e aproximadamente 2.800 indiretos. Precisaria fechar loja a loja, mas o investimento fica em torno de R$ 500 milhões a R$ 550 milhões. Fora isso, a gente fez uma ampliação no outro parque de lojas, especialmente lojas mais antigas. Foi um ano em que o consumidor está em busca de preço e ele tem preferido o setor de atacado. Então nós crescemos, até o terceiro trimestre, 40% em relação ao ano anterior.
Como explicar um crescimento desse porte em meio à crise econômica?
Você tem uma conjuntura de fatores. As lojas abertas em 2015 e que fizeram seu período pleno em 2016, a chamada maturação. Tem um investimento forte. Se somar 2015 e 2016, a gente tem mais de R$ 1 bilhão investido em expansão. Num formato que hoje é o maior dentro do GPA (Grupo Pão de Açucar) Alimentar. Exatamente no período de maior dificuldade econômica, o formato tem tido uma busca maior dos clientes, ele acaba sendo uma solução interessante porque as lojas de atacado, embora sejam um negócio de baixo custo, a ambientação não é mais como antigamente. Hoje você coloca um ar condicionado, você também tem uma série de confortos. Com isso você consegue atrair o consumidor de várias classes sociais, ao mesmo tempo que o comerciante acaba usando uma unidade dessa como ponto de abastecimento. A entrega e a logística porta a porta, que há alguns era o que acontecia no Brasil, acabou ficando mais onerosa. Então quando você soma investimento, abertura de novas lojas, busca por economia do consumidor, maior atratividade para o comerciante, isso explica o crescimento de 40%.
Porque o investimento em São Gonçalo do Amarante?
A gente já vinha buscando um segundo ponto na Região Metropolitana de Natal. Obviamente a gente já estava na entrada que vem de Parnamirim. O outro ponto natural seria do lado da Zona Norte da cidade, aqui entre Natal e São Gonçalo do Amarante, que é onde está o vetor de crescimento maior. Você tinha até então, mesmo com a abertura do aeroporto, crescimento para o lado de Parnamirim e crescimento para o lado de São Gonçalo. A gente identificou que já estava do lado de Parnamirim e que o vetor maior de crescimento está nessa região. É uma região que vem sofrendo uma série de investimento nos últimos anos – desde a construção da ponte, uma série de planejamentos viários. Você percebe que muito do crescimento da Região Metropolitana de Natal vem exatamente dessa região.
O aeroporto é um vetor?
Não só o aeroporto. Todo o litoral norte, a zona turística que sai por ali. O aeroporto também, obviamente. Não tem como negar que ele acaba sendo um gerador de fluxo de tráfego que entra aqui por São Gonçalo do Amarante.
Essa expansão é financiada?
Não. A geração de caixa próprio é o que tem sustentado todo o crescimento. Já faz três anos que, embora a gente faça parte do GPA, o Assai é autônomo na sua geração de caixa e financia sua própria expansão. A massa de EBIT [sigla em inglês para Lucro antes dos Juros e Tributos] resultante desse ano é acima da massa de investimento.
O momento é o ideal para investir?
Exatamente no momento em que você tem uma recessão econômica e mudança de hábitos, você tem que buscar espaço e se consolidar.
O consumidor está procurando esse tipo de loja?
Está. E a estratégia é conquistar a maior parte do público agora. De fato, o consumidor tem uma economia no atacado. O país se recuperando, que é o que a gente espera, ele deve continuar comprando nesse modelo. A gente tem uma situação muito análoga a isso na crise americana, entre 2007 e 2008, e os modelos de atacado, que são muito parecidos com o nosso, cresceram e mantiveram taxas de crescimento após a crise.
As perspectivas para 2017 são de continuar expandindo a rede?
A gente deve manter a taxa de crescimento muito forte. A gente vira o ano com cinco lojas que já vão iniciar seus processos de construção, entre janeiro e fevereiro. Fora isso, dentro do GPA, a gente tem avaliado o parque de hipermercados do Extra e feito conversões de Extra. Em 2016 já foram convertidas duas lojas do Extra em Assai. O Extra faz parte do mesmo grupo, junto com Casas Bahia, Ponto Frio, Assaí e Pão de Açúcar.
Isso pode acontecer com alguma das lojas de Natal?
Isso, por enquanto, não posso julgar. A gente está avaliando os parques de loja. A gente fez uma conversão em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Foram abertas em novembro e dezembro, respectivamente. Foram pilotos. A intenção é que em 2017 pelo menos 15 hipermercados deixem de ser da marca Extra e virem Assai.
As atuais medidas econômicas do governo federal impactam de que forma o negócio de vocês?
Nosso negócio é muito focado na alimentação básica e no atendimento ao micro e pequeno empresariado. Obviamente que todas as intenções de medidas econômicas que possam injetar dinheiro na economia – como a liberação dos recursos do Fundo de Garantia – isso beneficia a base. Um dos setores mais beneficiados é a parte da alimentação. Ainda é cedo para dizer os resultados, mas você percebe uma intenção clara de reativar a economia, de conseguir que o Brasil volte a crescer, que é desejo não só dos governantes, mas principalmente da população, que a gente retome patamares de crescimento e saia de um PIB negativo.
O senhor parabenizou a Prefeitura pela disposição em receber o investimento. Que tipo de incentivo o município deu?
Não houve concessão de incentivo fiscal. A prefeitura não abriu mão de receita, não foi esse o ponto de negociação. Mas a implantação de uma unidade dessa, dado que tem um projeto, demanda celeridade dos órgãos públicos. Essa loja não é recorde. Semana passada a gente abriu uma loja em Paulo Afonso, na Bahia, que, entre a primeira estaca e a entrega, só levamos 77 dias. Geralmente a gente leva muito tempo com essa questão da licitação. De fato, você vê que tem um empenho do poder municipal em trazer uma empresa desse porte. É a maior loja, hoje, de São Gonçalo do Amarante e possivelmente a maior empregadora no comércio. Houve um esforço muito grande, tanto do pessoal da Coteminas – que é nosso parceiro nesse projeto – como a Prefeitura de São Gonçalo.
Vocês pretendem expandir para o interior do Rio Grande do Norte?
Sempre. A empresa está sempre olhando. A gente não divulga para o mercado, mas a intenção é continuar crescendo no estado.
O RN representa quanto na operação do Assai?
A gente não divulga. Como o capital é aberto, se eu disser já estarei declarando a venda da loja aqui. Mas se a gente está abrindo uma segunda loja é porque a gente acredita no estado, está feliz com o desempenho da outra unidade.
A ideia é chegar com uma loja no estado e, com o tempo, abrir a segunda, a terceira, quarta, a depender do potencial econômico.
Quanto tempo leva a análise para decidir entrar ou expandir em um determinado mercado?
É relativamente rápido. Em torno de 60 a 90 dias, dependendo de ponto, identificação, localização, e a gente tem a aprovação interna. O maior tempo geralmente é gasto com as licenças legais, que são várias. Isso varia em cada região brasileira. Por isso, quando ela é célere, a gente também faz questão de agradecer.