Para o comando da empresa, é tempo de separar negócios que insustentáveis daqueles com resultados consistentes porque são efetivamente multicanais
Por Adriana Mattos
Numa mensagem de duas páginas em seu balanço trimestral, intitulada “O joio e o trigo”, o comando do Magazine Luiza diz que é tempo de separar negócios que crescem fazendo “trocas insustentáveis” daqueles com resultados consistentes porque são efetivamente multicanais. Em entrevista ao Valor ontem, seu CEO, Frederico Trajano disse que a segunda onda da pandemia acirrou a concorrência e quando esta não é lastreada em algo sustentável, há crescimentos “anabolizados”.
“Neste ano há uma maior agressividade do que no passado o que vai exigir das empresas buscar maior eficiência, e um equilíbrio entre crescimento, rentabilidade e caixa. Você vai ver empresa querendo mostrar receita, mas a custo de ‘cash burn’ [queima de caixa]. Tem operação crescendo de forma anabolizada, com prejuízo e queimando caixa”, diz.
“O segundo, terceiro e quarto trimestres foram vendas de Copa do Mundo, é razoável pensar numa desaceleração. Se olhar só o curto prazo vai ser difícil continuar crescendo três dígitos. Mas se você quer manter essas taxas em cima de uma base alta vai ter que aumentar gasto em marketing, reduzir preço ou melhorar o nível de serviço. Nós vamos fazer um pouco desses três”, disse.
Segundo ele, a diferença será determinada pelas operações com canais integrados. “Todo mundo fala que é multicanal, e está correndo atrás disso. Mas quem é mesmo multicanal hoje? Basta olhar os números. Nós crescemos 4% em loja no primeiro trimestre mesmo com 60% [dos pontos] fechados em março e 40% em abril. Este abril foi pior que o do ano passado, quando só 8% das lojas estavam sem funcionar. Outros perderam venda em loja. Isso acontece porque somos multicanal”, disse.
“No trimestre, as lojas fechadas estavam vendendo 70% de uma loja aberta por causa da venda do digital, com o vendedor fazendo isso de casa”, disse. “Se no trimestre a venda da loja cai e o digital cresce, é so transferência de um ao outro […]. Temos que aprender a separar o que é um sinal do que é ruído. O que é barulho do que é estrutural”, disse, ao comentar a cautela dos analistas nas projeções de resultados das cadeias pelo risco concorrencial. Até ontem, B2W, Via e Mercado Livre haviam divulgado seus números.
O Magazine Luiza apurou alta de 3,7% nas vendas da operação física no primeiro trimestre, e expansão de 114,4% no on-line (em cima de uma alta de 73% em 2020). Na soma total, digital e lojas avançaram 62,8%, para R$ 12,5 bilhões.
O lucro líquido cresceu oito vezes, para R$ 258 milhões, favorecido pelo ganho operacional – a receita líquida avançou em ritmo mais que o dobro das despesas. Ao se considerar o lucro descontando efeitos não recorrentes, o prejuízo de R$ 8 milhões vira lucro de R$ 81,5 milhões. O grupo ressalva que a geração de caixa foi influenciada pela sazonalidade e pelo fechamento de pontos. Mas diz que nos últimos 12 meses, o fluxo de caixa soma R$ 2,7 bilhões.
Houve melhora na margem ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), de 6,4% para 8,4% mas a margem bruta caiu (27,1% para 25,1%), pressionada pela menor rentabilidade do canal digital. Apesar da alta na venda total, as vendas em lojas com mais de um ano caíram 0,5%, afetadas pelo fechamento do comércio devido à pandemia.
A entrega de pedidos no prazo de até um dia passou de 5% do total há um ano para 51%. O número de centrais e hubs logísticos cresceu de 26 para 103. Em abril, 40% de todos os pedidos do marketplace (shopping virtual) passaram pelo sistema de entrega próprio da empresa. O volume de itens à venda on-line passou de 15 milhões para 30 milhões.
No primeiro trimestre, o segmento de alimentos, desenhado para aumentar o fluxo de clientes, representou 40% de todos os itens vendidos.
Em abril foi lançado o cartão Magalu para o público que compra no canal digital – foram 100 mil cartões emitidos em três semanas. O grupo tem 5,5 milhões de cartões tradicionais emitidos.
Fonte: Valor Econômico