Região atrai investimentos de grandes grupos do e-commerce; empresas regionais investem em centros menores, para dar apoio
Por Marina Falcão
Diante do acirramento da concorrência entre os grandes marketplaces (Amazon, Mercado Livre, Magazine Luiza e Americanas S.A), grupos locais e nacionais investem em centros de distribuição no Nordeste para suprir uma carência logística estrutural na região. A demanda por áreas de armazenagem disparou no ano passado, quando as vendas online no Nordeste dobraram.
O setor de galpões tem sido impulsionado pela necessidade dos marketplaces (shoppings virtuais) como por grandes centros de distribuição – conhecidos como “fulfilment”. Para dar suporte na cadeia logística na etapa “last mile”, grupos menores, a maioria locais, investem em centros menores, como apoio.AdChoicesPUBLICIDADE
Depois de abrir um centro de distribuição no Cabo de Santo Agostinho (PE) em 2019, a Amazon confirmou na semana passada uma segunda unidade prestes a ser inaugurada em Itaitinga (CE). Um ano atrás, o Mercado Livre abriu seu primeiro centro de distribuição no Nordeste, em Lauro de Freitas (BA), com 60 mil metros quadrados.
Com o investimento, de valor não revelado, o Mercado Livre começou a fazer entregas no mesmo dia em Salvador e no dia seguinte no Recife, conta Luiz Vergueiro, diretor de logística do Mercado Livre “Estamos ampliando a capacidade, com novos sistemas de armazenagem nos próximos meses”, diz o executivo.
A estrutura física do CD do Mercado Livre foi uma obra da Bresco, que iniciou a construção da unidade mesmo sem ter ainda um inquilino definido. Rafael Fonseca, diretor financeiro da Bresco, diz que somente a região metropolitana de Salvador justifica pôr um centro de distribuição de grande porte. “O ecommerce demanda três vezes mais área de armazenagem que o varejo tradicional. É um impulsionar de demanda por área, por que você não tem estoques nas lojas’, diz. Sem detalhar o projeto, conta que a Bresco está construindo um centro de distribuição para a Natura no Estado de Alagoas.
O apetite dos investidores na região não é por acaso. Enquanto no Brasil a pandemia elevou o faturamento das vendas online em 41%, para o patamar recorde de R$ 87 bilhões, na região Nordeste o faturamento dobrou, mostra a pesquisa Webshoppers.
Segundo Fonseca, a relação entre o estoque de galpões logísticos dividido pelo PIB do Nordeste é um terço da relação do Estado de São Paulo, o que aponta para um potencial de crescimento muito grande do setor logístico na região.
Visando ocupar as lacunas do setor, grupos regionais apostam no setor como forma de diversificar investimentos. Com seu principal negócio no ramo de energia, o grupo pernambucano Referencial está investindo R$ 35 milhões em centro de distribuição no Recife, com o objetivo de realizar operações de “last mile” para grandes varejistas do comércio eletrônico. “As grandes redes estão procurando áreas menores o mais perto possível dos grandes centros para reduzir o tempo de entrega ao máximo”, diz Eugênio Marinho, presidente do grupo Referencial.
Com experiência no ramo imobiliário residencial para baixa renda, o grupo pernambucano Yachin decidiu investir R$ 100 milhões no ano passado para construir um centro de distribuição em Conde (PB), município a 14 km de João Pessoa. Entre os clientes principais, estão o Mercado Livre e Big Bompreço.
Jorge Figueiras, sócio-fundador do grupo, afirma que o grupo está procurando áreas no Rio Grande do Norte e no Recife para investir pelo menos mais R$ 80 milhões entre 2022 e 2023 em centros de distribuição com foco no varejo online.
No momento, o e-commerce representa metade do espaço alugado no centro de distribuição do grupo e a tendência é esse percentual crescer. O Yachin é atualmente uma sociedade anônima (S.A.) com 33 sócios, mas pretende em breve se converter em um fundo imobiliário para ter mais liquidez, diz Figueiras.
O aquecimento do mercado de galpões no Nordeste está atrelado ao entendimento das grandes redes de que preço virou commodity e a diferenciação entre os concorrentes ficará na logística.
Após o movimento recentes das internacionais Mercado Livre e Amazon, a Americanas S.A. vai abrir mais três centros de distribuição nas regiões Nordeste e Norte “nos próximos meses”. Atualmente, são quatro (Pernambuco, Bahia e Ceará). “O que vai diferenciar um player do outro é a capacidade de melhor atender o cliente e a logística virou parte fundamental dessa estratégia”, afirma Wellington Souza, diretor da Let’s, plataforma de logística da Americanas S.A.
A Magazine Luiza, que tem seis no centros no Nordeste, pretende ampliar este ano as unidades de Ceará e Bahia. A empresa, que desembarcou no Nordeste em 2010, aposta na capilaridade da sua rede de lojas para descolar dos concorrentes.
Fonte: Valor Econômico