A CNC, confederação que representa o comércio e serviços, tem uma visão mais otimista para o desempenho do varejo neste fim de ano, baseada no reflexo econômico das últimas parcelas do “coronavoucher” no período. Mas esse efeito deve perder força em dezembro em relação aos meses anteriores. Segundo a CNC, a recente escalada do desemprego no país, apesar da leve melhora, como informado hoje pelo IBGE, reforça os cenários de incertezas de 2021.
Para a entidade, a reação do mercado nos primeiros meses do auxílio emergencial surpreendeu o comando, mas o aumento da pressão inflacionária já em 2020, e em 2021, além do fim do auxílio, deve esgotar esse efeito.
“Nós fomos surpreendidos por um varejo retomando as vendas mais rapidamente já a partir de junho. Mas entendemos que as altas passadas, de 6%, 7%, 8% no mês contra mês anterior, não se sustentam. Por isso projetamos um Natal com taxa positiva, mas menos forte”, disse o economista da CNC, Fabio Bentes.
A CNC estima avanço de 3,4% nas vendas natalinas, chegando a R$ 38,1 bilhões.
Segundo o economista, a questão central hoje é que a alta nas vendas que vinha acontecendo está ‘murchando’ aos poucos e a pressão inflacionária cresce.
“O varejo segurou os repasses de preços ao consumidor por meses em certas categorias, mas as redes já começam a soltar parte desses aumentos porque não conseguem barrar mais por conta do câmbio e de custos internos. E isso vai acontecer no começo de 2021, num cenário de renda mais comprimida, afetando o consumo diretamente”, diz Bentes.
Apesar dessas questões, economistas têm ressaltado que uma eventual manutenção do auxílio em 2021, ou parte dele, precisa ser discutida considerando cenário de maior pressão das contas públicas e do maior impacto fiscal.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial no país, acelerou para 0,89% em novembro, após fechar em 0,86% em outubro. Esse é o maior resultado para um mês de novembro desde 2015, quando o indicador foi de 1,01%.
O economista diz que houve forte redução de importados pelo varejo, já por conta da pressão cambial maior. “As pesquisas de compras do comércio antes das festas mostram que para o Natal de 2020 o varejo importou a menor quantidade de produtos de fora desde 2009”, disse ele.
“Para 2021, haverá maior pressão por aumento de juros num ambiente de pressão inflacionária e 14 milhões de pessoas, pelo menos, procurando emprego. A não ser que a PNAD [pesquisa de taxa de desemprego] venha com algo surpreendente, a gente pode ter uma revisão de expectativas para 2021”, disse.
A pesquisa publicada hoje mostra que a taxa de desocupação (14,3%) no trimestre de agosto a outubro de 2020 cresceu 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre de maio a julho (13,8%). Mas sobre o trimestre encerrado em setembro, caiu de 14,6% para 14,3%.
Um dos aspectos positivos para o consumo em 2021 é que haverá naturalmente um efeito da base de comparação mais baixa de 2020. “Há uma transferência de demanda não atendida para 2021, e com isso nossa base de comparação acaba ficando comprometida, o que favorece os números de 2021”, diz Bentes.
Dados do varejo colhidos pelo IBGE mostram uma reação um pouco mais forte do varejo após setembro, ao se analisar o acumulado do ano. De janeiro a setembro, as vendas do varejo restrito (exclui automóveis e material de construção) ficaram estáveis sobre 2019. De janeiro a outubro, há alta de 0,9% no acumulado, após fechar o primeiro semestre em queda.
Em 2019, o varejo restrito cresceu 1,8% — caso consiga superar essa taxa considerando novembro e dezembro, o ano terá recuperado o seu desempenho com os números da segunda metade do ano — , “turbinado” de forma temporária pelo coronavoucher.
Fonte: Valor Econômico