Na era dos aplicativos, da disrupção e das soluções digitais, virou moda achar que há sempre uma grande descoberta a ser feita. O que a maioria quer é pensar “fora da caixa”. Mas e quando a caixa é o seu próprio negócio? Qual o preço de deixar de lado processos e controles para pensar em algo novo? O empreendedor Thiago Oliveira sabe a resposta. Ele percebeu que os colaboradores da empresa de logística em que trabalhava deixavam de lado os processos mais básicos. Também não ouviam sugestões enquanto se dedicavam a criar algo novo. Isso o motivou a abrir seu negócio, na mesma área.
Sem nenhuma invenção genial, ele criou a IS Log & Services – especializada em transporte de documentos corporativos e malas expressas –, que faturou, em 2016, perto de R$ 60 milhões, com expansão de 27% sobre o ano anterior. O segredo? Pensar dentro da caixa, e não fora. Ou seja, em vez de olhar para o que nem existia, fazer bem aquilo a que a companhia se propunha. “Tenho uma tese de que 90% das pequenas e médias empresas quebram por gestão malfeita”, afirma ele. Para Oliveira, gerir de forma eficaz passa por medir números e resultados.
Segundo o empreendedor, que começou a carreira profissional como motoboy, é comum encontrar no mercado donos de empresas sem especialização e pouco envolvidos com o próprio negócio – só colocam o dinheiro e esperam o resultado. “Geralmente as empresas não decolam por falta de conhecimento e de colocar a mão na massa. Até 2009, eu atuava sem um modelo de gestão. Nem sabia qual era o turnover da empresa, até entender que precisava estudar mais o assunto”, diz. Oliveira conta que foi atrás para conhecer toda a empresa, os indicadores e o que precisava mudar. “Hoje, sabemos até o número médio de ligações feitas para marcar a primeira visita a clientes”, comenta.
Gerir na prática
Pensar dentro da caixa significa, em poucas palavras, colocar a casa em ordem. Thiago Oliveira conta que, quando organiza os processos, costuma colocar “o dedo na ferida”. Ele também acredita que toda ajuda – desde que profissionalizada – é bem-vinda. “Os primeiros passos devem ser estudar a fundo o próprio negócio e contratar uma consultoria especializada”, sugere.
Mas isso não significa delegar a solução de problemas a terceiros. “Nem a melhor consultoria do mundo vai organizar o negócio se as lideranças não se envolverem”, explica. “É preciso arregaçar as mangas e sentar com cada área para definir o modelo de negócio. E, a partir disso, mudar a cabeça das pessoas e implementar as mudanças de cima para baixo. Infelizmente nem todos se adaptam, e algumas pessoas precisam ser mudadas”, completa o empreendedor. Deixar alguém supervisionando a mudança nem sempre é uma boa alternativa. “Criar um cargo de supervisor de processos pode aumentar ainda mais a distância entre a liderança e a equipe. O próprio líder deve promover a mudança de cultura dentro da empresa”, completa.
Rotina gerenciada
No caso da IS Logística, dois novos processos se tornaram chave para os resultados da empresa: a Gestão à Vista e a Gestão da Rotina.
A primeira consiste em todas as áreas terem, nas paredes, painéis que relacionam, para as equipes, as informações mais importantes do dia a dia. Ali ficam o organograma dos setores, as pessoas responsáveis pelas principais tarefas, os indicadores mais importantes e as metas.
Já a segunda é destinada aos líderes. Eles contam com um “diário de bordo”, para ajudar a controlar e organizar a rotina diária, semanal e mensal. Também ajuda a monitorar as atividades da equipe, para saber o que e quando cobrar.
Além da expansão da receita, seguir esses passos contribuiu para que a IS alcançasse 24 filiais em diversos Estados do País. O acompanhamento é feito pelo próprio Thiago periodicamente. Uma vez ao mês, os gerentes regionais se deslocam até a matriz para apresentar números e explicar o andamento dos negócios.
Novos negócios
O sucesso da empresa motivou Oliveira a abrir duas subsidiárias: uma trading company, assessoria em comércio exterior e intermediadora de processos de importação e exportação, e uma corretora de câmbio. Ambas são geridas pelo mesmo modelo da IS. O empresário também projetou expansão da empresa para 100 novos municípios em 2017. Multiplicou ainda o alcance de seu método de gestão com o livro Pense Dentro da Caixa (Editora Gente), com mais de cinco mil cópias vendidas.
O empresário, co ntudo, não fecha as portas a inovações que tragam eficiência à companhia. Com o tempo, ferramentas tecnológicas foram incorporadas à gestão. Mas a lição de Thiago e da IS para quem vai mal nos negócios é que a solução pode estar mais próxima do que se imagina. “Muitos buscam ideias que vão melhorar o mundo, e se esquecem de melhorar o que já existe”, diz. É isso o que a IS faz: aperfeiçoa e cria um padrão.
Arrume a casa
Entenda a diferença entre uma empresa pronta para crescer e outra que precisa se organizar
Caixa baguncada
– Gerir o negócio de forma intuitiva, com base apenas na experiência
– Deixar a gestão dos processos com outra pessoa
– Atribuir tarefas apenas verbalmente
– Isentar cargos operacionais de controles e processos a serem seguidos
– Atuar como “bombeiro” resolvendo problemas pequenos o dia inteiro
Caixa arrumada
– Estudar todos os números, com ajuda especializada, para identificar problemas e estabelecer um modelo de gestão com base em dados concretos
– O próprio líder se encarrega de promover mudanças
– Estabelecer controles com metas e obrigações para cada líder
– Gestores precisam ser incluídos e ter metas a cumprir
– Gerentes e supervisores podem cuidar de questões menores, mas sem descuidar do acompanhamento
Fonte: Supermercado Moderno